Chás industrializados não são a única opção na quarentena. Mesmo durante o isolamento, produtores artesanais continuam a desenvolver novos blends e fazem as vendas através da internet. Os mais pedidos são os que oferecem algum benefício para estes dias, como melhorar o sono e diminuir a ansiedade. Entre as marcas que trabalham com delivery estão integrantes do grupo Chazeiras de Minas, formado por mulheres que se uniram para divulgar a cultura do chá.
O plano da Biboca de fazer vendas on-line só saiu do papel na quarentena. A loja, que fica no Mercado Novo, Centro de BH, passou a trabalhar com entregas programadas, sempre às quintas e sábados. Todas as ervas comercializadas são brasileiras. O trabalho da idealizadora, Luíza Fernandes, é procurar produtores no país e contar suas his- tórias. “Temos o chá preto da dona Ume, uma senhora de 92 anos do interior de São Paulo que até pouco tempo ajudava na colheita”, destaca.
Durante o confinamento, Luíza, enfim, teve tempo de desenvolver blends próprios. O primeiro deles, com mate tostado, casca de laranja e casca do nibs de cacau, recebeu o nome de Encanto. Já o Alegria é feito com mate fresco, alecrim e casca de cambuci. “Pensei em uma infusão com tudo o precisamos neste momento de clausura. Cambuci é fonte de vitamina C, alecrim é um excelente tônico e mate fresco traz energia e combate a depressão”, enumera.
O famoso bolo de limão da Biboca, feito por Luíza, com cobertura de chá azul (a cor vem do cunhã), não fica de fora do delivery. Ele faz parte do kit Chá com afeto, que ainda tem biscoitos amanteigados artesanais (um deles leva mate), chá à escolha em sachês biodegradáveis (feitos de fibra de milho) e um cartão com palavras de encorajamento. “É a forma que encontrei de levar carinho e aconchego para as pessoas.” O kit é uma parceria com a vizinha do mercado Papel e Tudo.
O interesse em fazer chás sob encomenda levou Eugênia Kelles a concentrar o trabalho em restaurantes. Agora, a criadora da Ana Curada se aproxima do público em geral com blends sazonais, todos voltados para o bem-estar. “Uso o que a natureza está produzindo no momento. Isso é ótimo para mim, para o produtor e para o consumidor”, defende.
A marca criou chás para a quarentena, como o My sweet home office, que tem alecrim (tônico cerebral) e gengibre (desintoxicante). Ao lado dele, estão o Silêncio, com capim cidreira, melissa e flor de sabugueiro, indicado para quem busca boas noites de sono, e o Bora, à base de hibisco, abacaxi e canela, que acelera o metabolismo. Outra novidade é o Deus te crie, com alfavaca, que ajuda a combater alergia, gripe e tosse. “Achava que ele não ia sair tanto, porque nem todo mundo conhece alfavaca, mas estou impressionada, é o que mais vende”, observa.
Os clientes podem buscar os chás no Bairro Santo Antônio ou solicitar a entrega (feita pela própria Eugênia num raio de cinco quilômetros). Os chás da Ana Curada também são encontrados em lojas parceiras que fazem parte do Chazeiras de Minas.
IMPORTADOS A Camellia Chás, no Bairro Anchieta, loja que vende blends importados, mudou totalmente a estratégia de vendas para se adaptar à quarentena. Antes o foco eram cafés e restaurantes, agora são os consumidores finais. Com o espaço físico fechado, não resta alternativa senão investir na loja on-line, que já existia, mas não com tantos pedidos. “A nossa receita caiu muito, mas vimos que as vendas on-line aumentaram cerca de 50%”, conta a sommelière de chás Daniella Perdigão.
Nesta quarentena, o chá mais pedido tem sido o Abraço de Morfeu, com ervas como maracujá, melissa e erva-doce, que ajudam a dormir melhor e combatem a ansiedade. Mas a sommelière garante que qualquer chá pode ser relaxante. “O próprio ato de colocar a água para ferver e esperar o tempo de infusão já relaxa. Acho que chá é um aconchego, um afago para a alma.”
As entregas são feitas por uma motogirl, motivo de orgulho para Daniella, que comanda uma empresa só de mulheres. No site, também estão à venda acessórios que são opções para presentear, como como bules e infusores. A sommelière destaca, ainda, o kit com sachês artesanais. “Minha tia que faz a mão, com filtro de papel de café, em formato de coração, flor e estrela”, detalha.