Comida não serve apenas para matar a fome. Pode simbolizar um gesto de carinho para quem está distante, fazer parte de um momento festivo e também se colocar como um delicado presente. Nesta onda de delivery, serviço essencial para a sobrevivência dos negócios na pandemia, três mulheres fazem diferente. Não entregam simplesmente comida. Fazem chegar às casas belas caixas, cestas e sacolas com produtos artesanais, que contam histórias e mexem com o coração.
A caixa do Birosca surgiu como solução para atender mais clientes num mesmo dia, já que a produção pode ser feita na véspera e durante o dia, inclusive, quando o restaurante não funciona. “Isso diminui a demanda de delivery em dias em que vendemos muito pouco, então não vale a pena abrir. Como tenho frota própria de motoboy, o serviço acaba não saindo barato”, acrescenta a chef Bruna Martins. A experiência deu certo no Dia dos Namorados e, desde então, a casa lança quinzenalmente caixas com temas criativos, que não estão ligados necessariamente a datas comemorativas.
Bruna continua a seguir o seu propósito, que fez do Birosca um restaurante referência em comida afetiva. Nas caixas, ela sempre tenta resgatar algum tipo de memória. A primeira entrou no clima de quermesse. “Pensamos em um menu muito legal para representar a festa junina e criamos pratos bem criativos, como o sanduíche de pernil com molho de pé de moleque (rapadura com amendoim).” A chef também cita a costela de boi com pinhão e a torta de maçã do amor. Para beber, quentão e choconhaque.
A mais recente caixa é descrita como um abraço de avó, pois reedita receitas de família. “Explorei ao máximo as minhas memórias afetivas e as das funcionárias.” O afeto se expressa em empadas de queijo com geleia de mexerica, sopa de letrinhas com picadinho de carne, torta de suspiro com morango e creme de leite, entre outros pratos. Ainda vai leite queimadinho para aquecer o corpo e o coração.
Assim como no restaurante, as caixas são bem fartas. Entradas, prato principal, sobremesas, quitandas e bebidas são para rechear a geladeira e comer aos poucos. A comida vai pronta dentro de uma caixa de papelão enfeitada com uma fita ligada ao tema. Basta esquentar os pratos na hora de comer (alguns no forno, outros na panela). “Outro dia pedi um delivery e tive que assar a carne do zero, ficar regando com molho, e não queria isso. Acaba sujando muito coisa na cozinha e nem sempre a pessoa está a fim de finalizar a comida em casa ”, justifica.
O prato principal é sempre do Birosca, mas os complementos podem variar. Bruna gosta de incluir produtos de parceiros, como a Doce que seja doce, que fez o arroz doce caramelado da caixa junina e a Copa Cozinha, que produz o crocante de goiabada enviado na caixa de avó. A chef adianta que, na próxima caixa, vai reunir comida de imigrantes residentes em BH. Depois ela pensa em homenagear o Norte de Minas, a Itália, a Bahia e o que mais a criatividade alcançar. As entregas são às sexta e sábados.
A vontade de ter um empório deu início, na pandemia, a um projeto de sucesso de Bruna Haddad, do Zuzunely. A partir disso, ela criou caixas para café da manhã, brunch e happy hour. “O que não fazemos aqui buscamos com pequenos produtores, então tudo é o mais artesanal possível. Essa é a diferença, porque existem muitas cestas no mercado com industrializados.” Há sugestões fixas (vegana e sem glúten incluídas) e uma opção em que a chef escolhe os itens com o que tem de melhor no dia.
Bruna também lançou as caixas de cinema, que a cada semana reúnem comidas de um filme. “A ideia é oferecer entretenimento para incentivar as pessoas a ficarem em casa. Elas podem comer assistindo o filme.” A primeira edição apresenta receitas que aparecem no filme brasileiro Estômago, como massa à putanesca e Anita e Garibaldi (versão de Romeu e Julieta com queijo gorgonzola).
As encomendas devem ser feitas com um dia de antecedência. Na cozinha do Zuzunely, são preparados todos os pães, waffles (doce e de pão de queijo), bolos, geleias, conservas, antepastos e creme de ricota. Para complementar, a chef conta com produtos de parceiros de Minas, entre eles polpa de frutas da Früis (Paraopeba), leite da Laticínios Formiguinha (Esmeraldas), embutidos da Charcutaria Sagrada Família (Montes Claros), queijos da Maria Nunes (Serro) e da Fazenda da Ovelha (Itabirito).
Revestida com tecido xadrez, a caixa de papelão recebe toda a comida pronta. Poucos itens são embalados, Bruna prefere deixar tudo à vista. A ideia é comer na caixa mesmo, seja em um café da manhã na cama ou happy hour na mesa. “Pensamos muito na apresentação. Não é só uma caixa gostosa, queremos entregar algo atrativo visualmente e montado com carinho.” A chef quer continuar com as caixas mesmo depois da pandemia, por considerar uma boa opção para presentes e comemorações.
Caderninho que vale ouro
Muito exigente, e sempre disposta a fugir do convencional, Antônia Chaves construiu ao longo dos cinco anos do espaço para eventos Casa Ateliê uma lista preciosa com indicações de fornecedores. O serviço, oferecido como cortesia aos clientes, ficou conhecido como o caderninho da Antônia. Dois meses depois de fechar as portas, com receita a zero, ela teve a ideia de garimpar com estes fornecedores produtos para montar belas caixas, cestas e sacolas com comida e flores.
São seis modelos, que vão desde o café da manhã até a noite. Para começar o dia, a sugestão é pedir a caixa Mandarine (de madeira com acabamento em tecido), recheada com baguete francesa, croissant, mel, queijo canastra, geleia de mexerica, crocante de doce de leite e café em grãos. Pensada para o fim do dia, a sacola Afeto (de palha forrada com tecido) tem baguete, azeite, tomates confitados, queijos como o de casca coberta de carvão e massa cremosa, mel trufado, geleia de figo turco, crocante de doce de leite e uma garrafa de vinho tinto. Os arranjos são da Museu de Grandes Novidades.
Antônia faz toda a curadoria dos produtos, e nada é industrializado. Além da qualidade, ela pensa em ajudar pequenos produtores, que fazem um trabalho bem artesanal. “Acredito muito no coletivo. Sempre fui uma pessoa que sozinha não funciona, sempre trabalho em bando, gosto de juntar gente.” A produtora de eventos descobriu, por exemplo, uma pessoa que faz um bolo de milho cremoso com doce de leite “incrível” e compra do bufê parceiro, que está sem fazer eventos, a geleia de figo turco.
Em geral, as caixas, cestas e sacolas são encomendadas como presente de aniversário, forma de agradecimento ou simplesmente um afago a quem está distante. “Comida agora virou presente, porque as pessoas precisam mandar afeto e aconchego umas para as outras. As nossas cestas são um abraço, um afago, um carinho, um cuidado.” Julia Braga, da Museu de Grandes Novidades, é quem pinta as caixas, corta os tecidos, seca as laranjas que vão de enfeite e ainda faz os arranjos de flores, tudo a mão.
Creme de ricota
(Zuzunely)
Ingredientes
700ml de leite integral; suco de 1 limão (ou mais se precisar); temperos à gostoModo de fazer
Ferva o leite e adicione o suco de limão. Espere até ver os coágulos do leite se separando do soro. Se isso não acontecer em cerca de 1 minuto, adicione mais um pouco de limão. Quando as partes se separarem bem, escorra em uma peneira de malha fina ou em um filtro de café. Você pode adicionarervas secas ou frescas, chimichurri, lemon pepper, a zeite, curry ou outro tempero que quiser.