A sensação era de abrir as portas pela primeira vez novamente. No dia em que voltou a receber clientes, Pablo Teixeira, sócio do Cabernet Butiquim, se transportou para cinco anos atrás, quando chegou com a ideia de descomplicar o vinho. O frio na barriga de agora não era por lançar um conceito diferente, mas em saber como o espaço, sempre tão movimentado, se adaptaria ao distanciamento social. Para eles, a recomeço também significou dar vida a um bar de coquetéis.
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Temporariamente em BH, casal de padeiros oferece ao público o que gosta de comerDuas das mais amadas receitas brasileiras são lançadas em versões exageradamente grandesO que as faculdades de gastronomia estão fazendo para levar conhecimento prático aos alunosCircuito Gastronômico da Pampulha faz edição 2020 no formato deliveryMemmo Biadi: amigos relembram momentos marcantes com o chef do Dona DernaPablo sentiu como se estivesse vivendo a inauguração de novo. O bar e restaurante reabriu depois de cinco meses, primeiro só para almoço, de terça a quinta, depois estendeu o funcionamento para sexta, sábado e domingo o dia inteiro, e com bebida alcoólica. “Parecia uma inauguração, porque tivemos que reaprender tudo, entender a quantidade de pessoas que íamos receber. A casa sempre teve fila de espera e o nosso medo era ter aglomeração na porta”, conta.
Para evitar contratempos, a estratégia é trabalhar com reservas em 60% das mesas, principalmente no fim de semana, quando o movimento aumenta. “Damos preferência para reservas para estimular que as pessoas cheguem mais cedo e para dar tempo de a casa girar. Mas não tem tolerância de atraso”, avisa. Outra regra é não vender para quem ficar em pé aguardando vagar uma mesa. Além disso, não há cadeiras extras. Pablo percebe que a maioria dos clientes são compreensivos e preferem nem esperar.
Os protocolos de atendimento mudaram para garantir a segurança de todos. Os clientes acessam o cardápio virtual através do próprio celular, enquanto os garçons são orientados a falar o essencial na mesa. Pablo pensa, inclusive, em trabalhar com um sistema de pedidos on-line. Nesta retomada, como ele observa, o consumo tem sido mais rápido e objetivo. “As pessoas não ficam tanto tempo aqui. Pedem uma garrafa de vinho e um petisco e vão embora.”
Enquanto não sai o novo cardápio, pronto desde antes da pandemia, o público pode continuar pedindo clássicos como arroz de polvo e roll de tilápia com risoto de limão e abobrinha. O frango surprise com risoto de tomate está fazendo muito sucesso. Para petiscar, linguiça artesanal, mandioca e vinagrete de jiló ou dadinhos de queijo mineiro com molho barbecue de goiabada. Todos os pratos continuam disponíveis no delivery.
O clima de inauguração não se justifica apenas pela nova forma de trabalhar. De fato, os sócios inauguraram um novo espaço ao lado, a Garagem do Cab, que seria apresentada ao público na semana em que o comércio fechou. Pablo explica que é um espaço dedicado à coquetelaria, incluindo vinhos nas misturas. Do balcão, pode-se pedir bebidas clássicas como negroni (gin, Campari, vermute e casca de laranja-baía) ou autorais como Pouca Pausa (gin, lichia em calda, soda de frutas vermelhas e espuma de baunilha). “Esta história da coquetelaria é até oportuna. Diferentemente do vinho, que sempre sugerimos compartilhar, coquetel é uma bebida individual.”
Mesas e cadeiras na calçada
O OOP Café aproveitou o tempo de portas fechadas para fazer uma reforma, que durou dois meses, já considerando as necessidades pós-reabertura. Os sócios resolveram levar mesas e cadeiras para a calçada (no espaço interno, que é pequeno, não seria possível acomodar todos os clientes com segurança). “A utilização da calçada era uma demanda antiga, tanto que antes colocamos uma mesa coletiva lá fora, de forma improvisada, e ela já estava com a capacidade esgotada”, comenta Tiago Damasceno.
O novo mobiliário dá mais flexibilidade para o espaço, pois deixa as pessoas livres para escolher como querem se acomodar. Nada é fixo, as mesas podem ser usadas como assentos e ainda tem um banco coletivo. No fim das contas, a capacidade aumentou. “Temos sido surpreendidos, porque as pessoas estão fazendo um uso consciente do espaço, respeitando a distância ou se sentando até mais distantes para se sentir confortáveis”, avalia.
Segundo Tiago, as pessoas se sentem mais seguras no ambiente externo. O cliente entra na loja (que não tem mais vitrine, para aumentar a circulação de ar) só para fazer o pedido no balcão, depois recebe o que escolheu na mesa. O tempo de permanência reduziu: ninguém fica mais uma manhã ou a tarde inteira, mas sempre pede mais de um item do cardápio. “Já teve gente que chegou e pediu o cardápio inteiro, porque estava com saudade de tudo. Outras pessoas vêm para tomar um café, depois cappuccino e finalizam com espresso.” Normalmente, pedem cookie, croissant ou bolo para acompanhar.
Apesar de ter sido pensado durante a pandemia, o novo formato não é temporário. “Neste período em que tivemos que pensar muito rápido e criar estratégias, aproveitamos para repensar o negócio como um todo e olhar para a frente, o que buscamos como empresa. Reabrimos dentro de um modelo que acreditamos e queremos para o futuro”, avisa Tiago.
No entorno do balcão, prateleiras criam um ambiente de loja. Lá estão expostos produtos como pacotes de café e utensílios para ajudar no preparo. “Durante a pandemia, vimos pelo movimento da loja on-line que as pessoas estão dispostas a consumir café de qualidade, só que em casa. Agora, nesse renascimento, resolvemos abraçar esta demanda.” O espaço interno foi otimizado para também comportar escritório e torrefação, então as pessoas podem ver (de longe) o processo de torrar os grãos. Novos cafés serão lançados em breve, assim como drinques gelados. As vendas pelo site não vão parar.
Serviço apropriado
Pode-se dizer que o Casa Amora nasceu preparado para a pandemia. O restaurante inaugurou em BH o sistema de chef service, em que o prato é servido na hora, de acordo com as escolhas do cliente. As três sócias, nutricionistas, sempre acharam esse modelo mais seguro, e agora é o que todos procuram. Isso porque um vidro isola a área onde fica a equipe e a comida, então os clientes só tocam o prato que vão comer. Não há contato com nenhuma preparação.
No bufê, o funcionamento continua igual. “Sinalizamos no chão, no espaço da fila, a posição de cada um com distanciamento, mas o fluxo está muito reduzido, o que significa que não tem aglomeração”, pontua a sócia Patrícia Saggioro.
O cardápio muda todos os dias, mas sempre tem 12 opções, três carnes e nove acompanhamentos. O cliente pode escolher, por exemplo, entre tilápia com flocos de arroz e aveia, lombo de porco em crosta de amendoim e maminha ao vinho. Para acompanhar, espaguete de abobrinha com tahine, quiche integral de pupunha, ricota e alho-poró ou arroz com amêndoas e ervas. Fora as saladas, que são marca registrada da casa, como beterraba, cenoura e avelã ou alface, rúcula, morango, nozes e gorgonzola.
A capacidade do salão foi reduzida de 80 para 50 lugares. Aumentou-se o espaçamento entre as mesas e as cadeiras do balcão comunitário, que agora tem placas para separar as pessoas. Tudo é oferecido em embalagens individuais. “Já deixamos os talheres separados e envelopados com guardanapo; o azeite é em sachê, e não mais no vidro; as sobremesas são previamente porcionadas e os sucos são servidos em garrafinha”, acrescenta.
Mesmo com a reabertura, o restaurante continua com o delivery, que existe desde antes da pandemia, e ainda lançou uma linha de congelados e resfriados. “Acho que não existe outro caminho. Entendemos que muita gente vai trabalhar em casa e, para atender a quem não sabe ou não tem tempo para cozinhar, é necessário ter opções não presenciais.”
No caso dos congelados e resfriados, a ideia é proporcionar uma experiência muito próxima à do restaurante. O cardápio semanal tem opções de carnes e acompanhamentos, todos em porções individuais, para que o cliente monte seu prato em casa. Entre as receitas, almôndegas ao molho de cogumelos, sobrecoxa de frango com mel, purê de batata com espinafre, nhoque de banana com curry e semente de abóbora e salada de lentilha com tomate, gorgonzola e cebola roxa.
As sócias começaram o ano com planos de abrir terceira casa e acabaram ficando só com uma (encerraram as atividades do Boulevard Shopping em maio). Apesar da perda, tiram lições importantes. “Tivemos que fechar uma casa, não saímos ilesas, mas fica a sensação de que, se vencemos a pandemia, estamos preparadas para vencer outros tantos desafios. Aprendemos também que o nosso negócio precisa se reinventar sempre, nada está ganho. Sempre vão ter adversidades, isso faz parte do nosso trabalho.”
Frango surprise com risoto de tomate (Jana Barrozo - Cabernet Butiquim)
Ingredientes
1 peito de frango desossado; presunto parma a gosto; provolone dolci a gosto; 2 ovos; farinha de trigo e farinha panko para empanar; 1 cebola; 140g de arroz arbóreo; 1 litro de caldo de legumes; 1 taça de vinho branco; 70g de molho de tomate; 50g de manteiga; 50g de parmesão.
Modo de fazer
Processe o frango no liquidificador até atingir uma consistência pastosa. Em seguida, espalhe o frango em uma superfície plana sobre uma lâmina de plástico- filme. Coloque o parma e o provolone dolci sobre o frango e enrole em formato de filé. Deixe descansar na geladeira por 30 minutos antes de levar à frigideira. Empane o frango no processo padrão: mergulhe na farinha, em seguida no ovo batido e depois na farinha panko. Para o risoto, doure a cebola picada em cubos pequenos por aproximadamente 5 minutos com um fio de azeite. Em seguida, adicione o arroz arbóreo e doure-o por 2 minutos antes de adicionar a taça de vinho. Deixe o álcool evaporar (por aproximadamente 3 minutos) e comece a adicionar o caldo de legumes aos poucos. O importante é sempre mexer o arroz e gradativamente adicionar o caldo até o ponto de cocção correto. Depois de aproximadamente 20 minutos, adicione o molho de tomate e misture bem para finalizar o risoto. Com o risoto pronto e já fora do fogo, adicione a manteiga e o parmesão e misture.