A compradora Vanessa Kalile e o arquiteto Pedro Gontijo estavam de malas prontas para a Argentina. O plano do casal era se mudar para Mendoza, onde abriria uma fábrica de pães artesanais. Dois dias antes da partida, as fronteiras do país vizinho foram fechadas em função da pandemia e tudo teve que ser adiado. Sorte dos belo-horizontinos, que podem se deliciar com os produtos da Farelo Padoca. O negócio desembarcou em março na cidade, trazendo pães, focaccias, cookies e pão de mel.
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Cinco meses depois, estabelecimentos em BH reabrem com novos produtos e serviçosEmpresas fazem a ponte entre os produtores de ovos caipiras e os consumidores na cidadeConheça histórias de quem transformou a paixão pela gastronomia em negócio na pandemiaCircuito Gastronômico da Pampulha faz edição 2020 no formato deliveryMemmo Biadi: amigos relembram momentos marcantes com o chef do Dona DernaO casal é de BH, mas morava em São Paulo quando decidiu mudar de vida. Cansados do mundo corporativo, eles começaram a fazer vários cursos de gastronomia, de risoto a bolos, ainda sem um plano definido. O coração balançou mesmo nas aulas de fermentação natural (ambos são apaixonados por pães) e a produção em casa foi só crescendo. “Como éramos só nos dois em casa, levamos os pães para a empresa e as pessoas começaram a pedir toda semana. Até então não era a nossa fonte de renda, encarávamos como um treinamento”, diz Pedro.
Nessa mesma época, eles viajaram para Mendoza e ficaram encantados com o lugar. “Sempre tivemos vontade de sair do país e decidimos nos mudar para a cidade para fazer pães. Lá só tinha um lugar que trabalhava com fermentação natural”, conta Vanessa. A mudança seria em março, então eles se desligaram dos empregos em São Paulo, venderam tudo o que tinham em casa, entregaram o apartamento e arrumaram as malas. A continuação da história você já sabe.
De volta a BH, Vanessa e Pedro se dedicam integralmente ao negócio. Testam e fazem juntos todas as receitas. Também pensam o cardápio como se fosse para consumo próprio. “Decidimos fazer o que gostamos, o que temos prazer de comer. Fica até mais fácil de vender.”
O pão pode ser comum ou recheado com quatro sabores: queijo gorgonzola, azeitonas pretas, calabresa e cúrcuma ou canela e passas. Já a focaccia tem cobertura tradicional (com alecrim e sal grosso), calabresa com cebola roxa, azeitonas pretas e uma marguerita diferente por ter muçarela de búfala além de muçarela, tomates frescos e manjericão. O item mais recente do cardápio é o brioche. “Fizemos vários testes até chegar a uma receita que não leva fermentação química, só natu- ral. Não somos muito a favor de intervenções químicas, preferimos deixar o tempo atuar”, aponta Pedro.
Em pouco tempo, o casal conseguiu conquistar fãs com o pão de mel. “A nossa intenção é entregar um produto macio, molhadinho, bem recheado e pouco doce, para não ser enjoativo de comer inteiro. Pelo contrário, que dê vontade de comer outro”, descreve Vanessa, avisando que eles mesmos fazem o doce de leite do recheio. As fornadas de pão de mel saem só uma vez por mês, por isso são muito disputa- das. Normalmente, as cerca de 150 unidades são vendidas antes mesmo de sair do forno.
Há duas versões de cookies: um com massa de baunilha e outro com massa de cacau, ambos com gotas de chocolate meio amargo e textura parecida com a de brownie. Ou seja, são mais densos e não ficam crocantes. “Desde que colocamos na cabeça que íamos produzir cookies, decidimos nos basear em um que comemos em Nova York. Começamos a fazer receita atrás de receita, e fomos testando até chegar ao que queríamos”, relembra Vanessa.
A produção da Farelo é totalmente artesanal, com fornadas programadas às quartas, quintas e sextas. Pede-se pelo menos dois dias de antecedência para fazer as encomendas. Vanessa e Pedro fazem pessoalmente as entregas e já pensam na possibilidade de aumentar o negócio. O plano de ir para Mendoza está suspenso por tempo indeterminado. “Estamos esperando tudo passar, então não sabemos quanto tempo nossa passagem aqui vai durar. É bom para treinar e chegar lá afiado”, comenta Pedro.