Jornal Estado de Minas

Natal terá mais ingredientes e receitas que resgatam memórias afetivas


O ano pode ter sido atípico. Mas não podemos deixar de celebrar o Natal como manda a tradição. As cores e os sabores típicos invadem as casas, o comércio, as ruas e lembram que a data nos traz um sopro de esperança. Como nem todo mundo vai poder passar a noite natalina em família, a sugestão é investir em receitas que resgatam memórias afetivas. Seja para quem vai cozinhar em casa ou prefere encomendar a ceia completa.




 
Natal para Pedro Gazzinelli, da Avellan, representa trabalho em família. Esta é a melhor época do ano para a confeitaria e bufê, que recebe encomendas de ceias completas, desde entradas até sobremesas. Desta vez, ele acredita que a data terá um significado muito maior. “Este afastamento forçado nos fez parar para pensar e entender o que de fato tem valor. Estar junto de quem se ama não tem preço”, opina o empresário, que enxerga na celebração uma chance de acreditar no poder de superar momentos difíceis.
 
O cardápio ajuda a descomplicar a ceia em casa. Os pratos são entregues já na vasilha de servir e vão do forno à mesa – alguns podem até ficar em temperatura ambiente. “Pensamos nos clientes que buscam praticidade, até porque muitas matriarcas, que são as grandes cozinheiras, não estão frequentando encontros da própria família”, observa.
 
Na Avellan, o famoso pernil, que vem fresco de São João del-Rei, fica marinando por uma semana e depois passa oito horas no forno. O resultado é um sabor potente. Já o prato chamado de delicioso bacalhau combina lascas do lombo do peixe fresco, batatas, pimentões, azeitonas, alcaparras e molho bechamel com raspas de limão. Por cima, farinha de pão com queijo parmesão para gratinar. Assim como outras tantas do cardápio, essa é uma receita da avó de Pedro, Gilda Porto, que faleceu em julho.




 
Gateau de chocolate, caramelo e flor de sal (Avellan) (foto: Cacau Mídia/Divulgação)
 
“Todos os nossos pratos têm muita cara de Natal. Usamos e abusamos de decoração com frutas vermelhas e ramos verdes para a apresentação ficar bem apropriada para a data”, comenta. Os acompanhamentos também são clássicos natalinos. Entre as opções, arroz com amêndoas e farofa com castanhas (caju e do pará) e manteiga de Teófilo Otoni, cidade de onde vem a família, com origem baiana. A batata palha caseira, descrita como “extrafina”, também é uma boa pedida.
 
Em um ano que pede mais afeto, as sobremesas remetem a memórias da infância de Pedro em família. Por isso, o figo recheado com cocada e glaçado com fondant não poderia ficar de fora. “O figo é o produto que mais representa a nossa confeitaria, a minha avó fez por mais de 70 anos. Esta época do ano para mim tem cheiro de figo no ar, ele tem cor e gosto do Natal.” Para fazer o doce, o figo in natura é conservado em calda de açúcar por até 10 meses. Antes de ser recheado, fica escorrendo durante 12 horas.
 

Louças com história

 
Há outras sobremesas do cardápio que são de dona Gilda, como o tiramisu, que na foto aparece em uma compoteira de cristal dela. Pedro incentiva os clientes a montar os doces em louças próprias para levar à mesa algo com valor afetivo. “A ideia é olhar para a mesma com mais sentimento, perceber que aquilo não é só um doce, traz muito mais que isso. É um resgate de memórias, de afeto, um abraço na alma.” Todos os doces podem ser montados em vasilhas dos clientes, inclusive bolos e tortas.




 
Rolinho de costelinha defumada com maçã verde e molho barbecue (Lili Miarelli) (foto: Toujours Fotografia/Divulgação)
 
A torta de morango é um clássico da avó de Pedro. Tem camadas de pão de ló, creme inglês, as frutas frescas e chantili feito com creme de leite fresco. A nuvem de damasco com amêndoas também é muito tradicional na família. Leva geleia de damasco seco, com pouco açúcar, chantili fresco e amêndoas laminadas ao forno. Outra sobremesa icônica da dona Gilda é a ambrosia, bem cremosa e fresca, que leva fava de baunilha-de-madagascar.
 
Lançamento deste ano, o gateau de chocolate com caramelo é inspirado no doce mais vendido no delivery, o trifle de chocolate, lançado durante a pandemia. “Como essa sobremesa fez muito sucesso, pensei: vamos transformá-la em torta de Natal”, conta Pedro. O gateau tem recheio de mousse de chocolate ao leite (textura quase de sorvete) e caramelo gold (feito a partir do chocolate branco) finalizado com flor de sal. Por fora, ganache de chocolate 70% e uma decoração chamativa com frutas vermelhas frescas.
 

Comida é afeto 

 
Quando pensa em um cardápio de Natal, a professora de gastronomia Lili Miarelli busca se conectar com memórias afetivas. Neste ano de pandemia, então, comer algo que resgata lembranças de bons momentos em família é ainda mais importante. “Gosto de servir castanhas portuguesas, pernil com pão de queijo, enfeitado com fios de ovos, um bom bacalhau, camarão e sobremesas que levam nozes, amêndoas e frutas vermelhas. Acho que isso tem tudo a ver com a data.”




 
Figo recheado com cocada fina e glaçado no fondant (Avellan) (foto: Cacau Mídia/Divulgação)
 
As receitas de Lili são sempre de fácil execução. “De forma geral, esse é o meu lema. Desde que comecei a dar aulas, gosto de fazer receitas práticas, fáceis e gostosas, sempre dando uma cara bem bacana, para que as pessoas possam comer primeiro com olhos e depois apreciar os sabores”, aponta a professora, que trabalhou muitos anos em banco e se descobriu seguindo uma cozinha intuitiva.
 
A sugestão de cardápio dela propõe uma leitura mais contemporânea da ceia de Natal. Para começar, um rolinho de costelinha defumada com maçã verde e molho barbecue. Somando referências chinesa, mineira e norte-americana, ela constrói uma entrada agridoce, que tem tudo a ver com a celebração. Nesta mesma linha, uma quiche de figos com queijo gorgonzola chega para reafirmar sabores que são típicos dos encontros natalinos.
 
Na sequência, você pode preparar camarões ao molho de champagne e champignon-de-paris frescos com arroz negro. Lili encerra o menu com duas sobremesas, cada uma com sua personalidade. A primeira é um gelado de baunilha com pralinê de amêndoas e calda de caramelo toffee, com um toque de flor de sal. Por fim, um bolo chamado de surpresa de chocolate.




 
Os pratos também podem ser oferecidos como presentes para quem amamos. “Como muitos não vão poder passar o Natal em família, se não puder estar fisicamente, tente amenizar a saudade mandando uma comida bem gostosa. Você mesmo preparar algo para alguém é uma forma de estar junto, de levar carinho, de desejar Feliz Natal, dizer que a pessoa é importante”, lembra.
 
Camarão ao molho de champanhe e champignon-de-paris fresco com arroz negro (Lili Miarelli) (foto: Toujours Fotografia/Divulgação)
 
Neste fim de ano, Lili está vendendo o seu famoso caramelo de castanhas levemente picante, que compõe muito bem uma mesa de Natal. “Ele é ideal para servir com bons queijos, mas combina também com sorvete, já fiz com lombo assado e pode ser acompanhado por todas as bebidas, desde chá até espumante.” Outra opção é o queijo brie em crosta de massa filo com geleia de frutas vermelhas. Ele é para ser assado na hora: fica crocante por fora e molinho por dentro. 
 

Rolinho de costelinha defumada com maçã verde e molho barbecue

(Lili Miarelli)


Ingredientes

600g de costelinha defumada desfiada; 150g de bacon cortado em cubinhos; 2 maçãs verdes cortadas em cubinhos; 1 cebola pequena cortada em brunoise; 1 xícara de caldo de legumes ou água; 1 colher de sopa de farinha de trigo; 1 colher de sopa de azeite; 1 colher de sopa de salsa picada; sal e pimenta-do-reino a gosto; massa para rolinho primavera; óleo para fritar; 1 colher de sopa de farinha de trigo; 2 colheres de sopa de água.





Modo de fazer

Em uma panela, aqueça o azeite. Doure a cebola e depois o bacon. Junte a costelinha e as maçãs e cozinhe em fogo médio até ficarem macias. Acrescente o caldo de legumes (se não tiver, pode ser água) e a farinha, mexendo até adquirir uma consistência cremosa. Retire do fogo e tempere com a salsa, sal e pimenta. Deixe esfriar. Em um multiprocessador, processe tudo para que fique em pedaços bem menores (não pode virar uma papa). Tem que ficar com consistência de recheio, sem ficar muito molhado. Misture 1 colher de farinha de trigo e 2 colheres de água até ficar homogêneo para “colar” a massa do rolinho. Passe a “cola” nas bordas da massa aberta e vá enrolando o recheio. Frite em óleo quente de forma rápida para que eles não queimem. Sirva com molho barbecue ou geleia de pimenta. 

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