O mundo não precisa de mais uma marca de chocolate, mas ganha muito com mais uma empresa de impacto social. A Dengo, que acaba de desembarcar em Belo Horizonte com duas lojas, não esconde o seu propósito: gerar mais renda para os pequenos produtores de cacau da Bahia, incentivando a busca por qualidade. O resultado disso é uma linha de chocolates que valoriza ao máximo a nossa brasilidade, representada pelo cacau em si e por outros ingredientes da região.
Não dá para fazer chocolate bom sem um bom cacau. Para conseguir o melhor fruto, o produtor deve estar feliz e ter uma vida decente. Seguindo essa lógica, a empresa chegou a um modelo de negócio de impacto social. Em média, paga 85% a mais pelo cacau de qualidade. “Acreditamos que esta transferência de valor resgata a dignidade do homem no campo e o orgulho da atividade cacaueira”, destaca o cofundador Estevan Sartoreli.
O trabalho se concentra no Sul da Bahia, onde o outro fundador, Guilherme Leal, que criou a marca de cosméticos Natura, tem casa. A área litorânea, conhecida como Costa do Cacau, tem 400 quilômetros de extensão e abrange 26 cidades, com 16 mil produtores. “A Dengo surgiu de um sonho de gerar renda extra para pequenos produtores de cacau da Bahia e isso começa pela vontade de produzir com mais qualidade.” Em quase quatro anos, o número de fornecedores saltou de seis para 160.
Com cacau de qualidade, a Dengo consegue ser bem purista em suas receitas. Não adiciona aromatizante ou outro componente químico. Não usa nada de gordura hidrogenada, apenas manteiga de cacau. Além disso, a quantidade de açúcar é reduzida. “Isso que marcas bean to bar (da amêndoa à barra), como a nossa, querem mostrar. Antes de oferecer para o mundo, temos que oferecer para o nosso consumidor o chocolate brasileiro de qualidade.”
Para valorizar o cacau brasileiro, a marca desenvolveu um produto que mostra sua matéria-prima em estado quase bruto. As pepitas são amêndoas de cacau (pequenas sementes do fruto) descascadas a mão, uma a uma, depois torradas e caramelizadas. Por fim, são envolvidas em uma camada de chocolate e uma de cacau em pó. Descritas como joias, elas são quase 100% cacau. Também podem ser finalizadas com açúcar mascavo ou coco ralado (essa é a versão zero açúcar). É para comer igual pipoca.
Com frutas brasileiras
O desejo de oferecer produtos a granel (um dos apelos da marca é mais sabor e menos embalagem) levou ao sucesso do quebra-quebra. São grandes placas de chocolate partidas grosseiramente no tamanho da vontade do cliente. “A inovação do quebra-quebra, além do nome, que é muito genuíno, está na nossa ousadia de combinar frutas brasileiras com o chocolate.”
O sabor de banana com castanha-de- caju é o mais vendido, contrariando aquela cena do passado, em que o bombom de banana sempre sobrava na caixa. O quebra-quebra ainda pode ter abacaxi com coco, biscoito tipo biju e manga com macadâmia. Os bombons também revelam sabores brasileiros, como cupuaçu, cachaça, cumaru e jabuticaba. Sempre que possível, a empresa compra as frutas dos fornecedores de cacau da Bahia, que costumam ter pomar no quintal de casa. Isso gera mais uma oportunidade de renda e valoriza outros produtos da região.
O mercado mineiro já estava no radar há mais tempo, mas a pandemia acabou atrasando em um ano os planos da Dengo de se instalar em Belo Horizonte. “Acreditamos que a cidade vem despontando como polo cultural e gastronômico e sabemos que o mineiro valoriza boa comida e boa história”, comenta a diretora de varejo, Samira Bolson, que é mineira.
As duas lojas próprias (BH Shopping e Diamond Mall) estavam prestes a ser inauguradas quando houve o último fechamento do comércio. Nem chegaram a abrir para visitas, estão funcionando apenas por delivery. Quando puderem receber o público, será um lugar para degustar os chocolates e beber um bom café mineiro. “Como os nossos sabores são inusitados, queremos proporcionar uma experiência degustativa, levar as pessoas para uma viagem de sensações”, explica Samira.
Para a Dengo, não existe melhor dupla do que chocolate com café (coado, que é o método brasileiro mais tradicional). Por isso, o cardápio das lojas conta com sugestões de harmonizações. Um dos combos combina o grão do dia com uma amostra de quebra-quebra, pepita e bombom.