No cardápio, está escrito tropeiro. Quando o prato chega à mesa, vem a surpresa. Não se parece em nada com o que estamos acostumados a comer. O feijão é servido dentro de uma trouxinha de couve. Ao lado, um ovo mollet empanado, com a gema que escorre ao partir. Para completar, linguiça caipira e milho assado.
Esse é um exemplo de como o Observatório Gastrobar e Café, em Ouro Fino, no Sul de Minas, inaugurado há pouco mais de um mês, reinterpreta clássicos da cozinha mineira.
A ideia de inovar no preparo e na apresentação de pratos tradicionais é do jornalista Neuber Fischer. Ele nasceu em Ouro Fino e mora em São Paulo há 12 anos. Sempre gostou de sair para comer e sentia falta de um lugar com uma comida mais sofisticada na sua cidade de origem.
O sonho de abrir um negócio de gastronomia é antigo. Quando surgiu a oportunidade, ele decidiu não fazer mais do mesmo. Pensou em uma forma de surpreender o público local e os turistas, que, estando lá, querem conhecer as tradições da cozinha de Minas. “Servimos uma comida tradicionalmente mineira – o sabor é o mesmo, mas apresentamos de uma maneira diferente”, explica.
O frango com angu e quiabo ganha nova roupagem. Por cima do angu cremoso de fubá de milho está uma imponente coxa de galinha caipira. Para acompanhar, quiabo cortado em fatias finas e frito.
A galinha caipira aparece em mais duas versões. Misturada ao arroz arbóreo, se transforma em risoto, finalizado com ora-pro-nóbis crocante. Em outro prato, depois de ser cozida no próprio molho, vira ragu para o espaguete.
Tutu sem bacon
Outro ícone da nossa cozinha, o tutu não tem bacon. O sabor defumado, acrescido de muita crocância, está na pancetta de rolo pururucada, que vai ao lado do feijão batido e da banana frita. A tradicional costelinha com canjiquinha também se moderniza. A carne de porco é cozida com molho barbecue e servida com quirera de milho, que fica bem cremosa. Na finalização, utiliza-se couve crocante.
As sobremesas mostram a riqueza dos doces tradicionais de Minas. A dupla queijo com goiabada se multiplica no Romeu e Julieta. Em um mesmo prato, encontramos sorvete de queijo com pedaços de goiabada cascão, rocambole de goiabada, goiabada cremosa, calda quente de goiabada, goiabada em quadradinhos, biscoito goiabinha e uma fatia de queijo minas. Na hora de comer, sinta o contraste de texturas e experimente várias combinações.
O doce de leite também tem uma sobremesa para chamar de sua. Nela, ele se mostra tão versátil que até surpreende os mineiros. De uma vez só, dá para comer o doce em forma de sorvete, no recheio do rocambole, dentro do canudinho, em quadradinhos e como calda quente.
Da decoração às receitas, o Observatório faz várias referências à história de Ouro Fino. A cidade, a cerca de 450 quilômetros de Belo Horizonte, tem 35 mil habitantes e faz parte de roteiros turísticos como Circuito das Malhas e Caminho da Fé. Também atrai visitantes com o monumento da música “Menino da porteira”, em que o compositor Teddy Vieira conta da sua viagem pela “estrada de Ouro Fino”.
Construído nos anos 1950, o imóvel de esquina escolhido para receber o gastrobar já abrigou o cinema da cidade. O uso do dourado remete ao período da mineração, enquanto o jardim refere-se ao café, o principal produto agrícola da região.
Primeira-dama homenageada
Parte do cardápio é dedicada à chef Benê Ricardo, considerada a primeira-dama da cozinha brasileira. Ela nasceu em São José do Mato Dentro, distrito de Ouro Fino, foi cedo para São Paulo trabalhar como doméstica e cozinhou no Hotel Maksoud Plaza. Entrou para a história por ser a primeira mulher a ter diploma de gastronomia no Brasil.
“Resolvemos homenageá-la com dois pratos que ela fazia questão de servir em todos os lugares: arroz de forno e cuscuz.” As receitas são reproduzidas fielmente.
Até os nomes dos drinques autorais se relacionam com a cidade. Baronesa é a primeira máquina utilizada na pavimentação das ruas de Ouro Fino, que virou monumento. No copo, o título nos leva a uma mistura de cachaça com infusão de cítricos, limão taiti, licor artesanal de café e espuma de gengibre. Já o Princesa do Sul, como a cidade é cantada no seu hino, tem vodca, vinho branco e calda artesanal de maçã.
O cardápio do gastrobar, que vai do café da manhã ao jantar, passando pelo happy hour (com a opção de rodízio de petiscos), tenta privilegiar e valorizar produtos locais.
A cachaça usada nos drinques é produzida na cidade, assim como os refrigerantes, fornecidos por uma indústria fundada em 1949. A carta de vinhos tem o objetivo de estimular o consumo de rótulos da vizinha Andradas. Já os doces são de uma fábrica em Inconfidentes com mais de 40 anos.
Serviço
Rua 13 de maio, 535, Ouro Fino
(35) 3181-0215