É só falar em comida asiática que enxergamos sushi e yakisoba. De fato, os pratos do Japão e da China são as nossas referências mais próximas. Mas isso está mudando. A Coreia tem exportado sua cultura para o mundo através de músicas, séries de TV e filmes, e a gastronomia de lá passou a atrair a curiosidade do público.
O bar asiático Hou Mei traz para Belo Horizonte receitas de uma cozinha apimentada, que tem como ingredientes icônicos kimchi (conserva apimentada de repolho) e gochujang (pasta fermentada de pimenta). O churrasco coreano é um dos destaques do cardápio.
Quem comanda a casa são os irmãos Camila, Arthur e Ricardo Lam, netos do fundador do Macau, o restaurante chinês mais tradicional da cidade. Os três sempre gostaram de experimentar receitas asiáticas diferentes. Nas viagens, buscam sabores que ainda não conhecem. São Paulo é um destino frequente para viver novas experiências.
Com toda essa bagagem, era natural surgir a vontade de trazer para BH pratos orientais pouco (ou nada) conhecidos. E os irmãos sabiam que não havia espaço para inovar no restaurante da família. “O Macau já tem a sua história, é uma cozinha 100% chinesa, e as nossas referências asiáticas são muito misturadas”, pontua Arthur.
O trio optou por abrir um bar, proposta que por si só já é bastante democrática. O lugar também se mostra atual e sem fronteiras no ambiente, com decoração moderna (que remete à cultura asiática) e clima descontraído. As mesas ficam do lado de fora, na calçada, e o balcão está pronto para receber quem prefere um serviço ainda mais informal.
No cardápio, a ideia é explorar a diversidade da cozinha asiática. “Aqui em BH encontramos restaurantes japoneses, chineses e indianos, mas eles são mais segmentados. Buscamos referências em São Paulo e Nova York para montar um cardápio com pratos de vários países”, comenta Camila.
Até pela origem da família, a China inspira muitas receitas, mas os sabores coreanos vêm ganhando mais atenção. Tanto pelo interesse dos irmãos quanto pela curiosidade do público, que quer provar pratos nunca antes vistos na cidade. Camila observa: “Recebemos desde curiosos, que conheceram a gastronomia da Coreia em séries e filmes, até quem já frequenta restaurantes coreanos em outros lugares.”
Atraídos pela curiosidade
O churrasco coreano, chamado de bulgogui, é um dos principais atrativos do cardápio. “Estamos sempre de olho em pratos que possam atrair a curiosidade das pessoas”, pontua Camila. O chef Sae Kim, do restaurante New Shin La Kwan, em São Paulo, veio a BH para ajudar os irmãos Lam a reproduzirem fielmente a experiência. Pede-se para fazer reserva com um dia de antecedência.
É bom avisar que o churrasco coreano em nada se parece com o brasileiro. Para começar, sal grosso está fora. “Fazemos uma marinada de shoyu, saquê, maçã e gengibre, então a carne fica com um sabor adocicado”, descreve Arthur. O bife ancho, cortado em tiras finas, entra no lugar da peça inteira de picanha. Entre os acompanhamentos, só o arroz coincide, mas é o gohan (juntinho e sem tempero).
A experiência fica ainda interessante porque o próprio cliente prepara a carne. O garçom leva à mesa o fogareiro e a grelha, que tem um formato curvo, com furos bem peculiares. “A nossa equipe passa as instruções e está disponível para ajudar, mas a ideia é que as pessoas façam o churrasco. É um prato bem interativo”, aponta Camila.
As tiras de ancho ficam na parte curva da grelha e a marinada é despejada na borda. Durante o preparo, recomenda-se regar a carne com o líquido. No fim, ela fica com aparência mais de cozida do que de grelhada. Shimeji, cebolinha e cebola também devem passar pela grelha.
No Hou Mei, algumas das opções de banchans (como se chamam os acompanhamentos), além do arroz japonês, são batata marinada no shoyu, kimchi, broto de feijão, picles de cebola roxa e pasta de missô coreana.
Dá para comer o churrasco coreano de várias maneiras. A mais tradicional é fazer uma trouxinha com uma folha de alface, recheando-a com a carne e ir alternando os complementos. Assim, a cada bocada você sentirá um sabor diferente. Também funciona jogar todos os ingredientes na grelha e preparar um “mexidão”, como fazem japoneses que frequentam o bar.
Comida de rua
Servido como entrada, o topokki é um símbolo da comida de rua coreana. Combina massa cilíndrica de arroz, salsicha, ovo cozido e eomuk (bolinho de peixe). Os ingredientes são envolvidos por um molho vermelho à base de gochujang e cobertos com generosa camada de muçarela maçaricada. Na boca, realçam o apimentado do molho e a textura gelatinosa (que faz lembrar bala de goma) da massa.
Já o japchae é um prato coreano de macarrão de batata-doce com legumes (cenoura, cebola, repolho e brócolis). O cliente escolhe se quer adicionar carne desfiada ou shitake. Apesar de a massa ser incomum, o molho de ostra entrega um sabor asiático que já conhecemos.
Para realçar o sabor do kimchi, um dos ingredientes mais emblemáticos da cozinha da Coreia, os irmãos criaram o Kimchi Fried Rice. É um arroz salteado com a conserva de acelga e cubos de barriga de porco assada. Para completar, ovo frito e alga nori.
O prato é recomendado para quem curte uma comida bem picante. “Tínhamos dúvida se o prato ia agradar, porque ele é muito apimentado, mas está sempre entre os mais vendidos. Quem prova, repete”, garante Camila.
O kimchi também aparece no recheio do guioza, acompanhado de carne de porco, acelga e gengibre. O pastel de origem chinesa, muito popular na Coreia, é uma receita que, para os sócios do Hou Mei, tem sabor de casa de avó. A família se reunia em fins de semana e datas comemorativas para fazer e comer guioza até enjoar. No bar, ele pode ser cozido no vapor ou selado na chapa.
Várias entradas carregam o sabor marcante da gochujang, outro ingrediente coreano icônico. A pasta apimentada é usada para temperar as coxinhas de frango e ainda se transforma em maionese para acompanhar os cubos de peito de frango empanados e salteados com alho e cebolinha e rechear o bun (pão chinês cozido no vapor) de frango empanado e alface.
As bebidas também nos levam a uma viagem pela Coreia. Você pode experimentar o soju (destilado à base de arroz) puro ou no drinque mais vendido da casa, o Red Soju, que combina água tônica, limão e xarope de hibisco. Para quem topa se entregar a um sabor mais exótico, o makgeolli, vinho de arroz fermentado, é perfeito. Servido gelado, tem aparência leitosa e sabor levemente ácido.
Trabalho em família
A história da família Lam com a gastronomia começa lá na China. Lam Chon Chong, avô de Camila, Arthur e Ricardo, estudou para ser cozinheiro. “Antes de vir para o Brasil, ele morou em Moçambique, onde teve um restaurante, mas saiu de lá por causa da guerra civil e veio para BH por indicação de amigos”, conta Camila. Em 1975, ele fundou o Macau.
Os irmãos conviveram muito com os avós. Nenhum dos dois falava português, apenas chinês. “Era um ritual almoçar todos os dias na casa deles e o meu avô foi quem me ensinou a cozinhar”, relembra Arthur. Em dias de folga, Chong cozinhava pratos asiáticos que não servia no restaurante.
O trio cresceu dentro do Macau, que passou a ser administrado pelo pai, Roberto, e pela tia Isabel, responsável pela cozinha. “Crescemos entendendo a filosofia do trabalho em família e pegamos gosto”, comenta Arthur. Camila se formou em jornalismo, Arthur e Ricardo são administradores. Cada um seguiu tempo na sua profissão, mas eles sempre ajudaram a tocar o restaurante. Até que resolveram abrir o bar.
O pai ajudou a escolher o nome. Hou Mei, em cantonês (dialeto falado em Cantão, cidade chinesa de onde veio), significa gostoso ou delicioso. A expressão é muito usada quando se quer elogiar a comida. Já a tia participou dos testes das receitas e da elaboração do menu, que passeia por outros países asiáticos além da Coreia e da China.
O Vietnã está representado pelo rolinho de massa de arroz com camarão, bifum (macarrão de arroz), cenoura, manjericão e hortelã. O katsu curry, prato com frango empanado em panko ao molho de curry e arroz gohan, mostra um lado menos conhecido do Japão. Já os sabores tailandeses são revelados pelo pad thai, talharim de arroz com broto de feijão, cenoura, ovo, amendoim, tamarindo e coentro.
Japchae com carne desfiada
Ingredientes
200g de macarrão coreano de batata-doce; 150g de patinho desfiado; 50g de cebola desfiada; 50g de cenoura desfiada; 50g de repolho desfiado; 50g de brócolis; 5g de alho picado; 2 colheres de sopa de shoyu; 1 colher de sopa de molho de ostra; 1 colher de sopa de óleo de gergelim; 1 pitada de sal; óleo de soja para refogar os legumes
Modo de fazer
Em uma panela grande, ferva a água e coloque o macarrão para cozinhar. Espere em torno de 10 minutos, ou até que ele fique com consistência elástica e aparência transparente. Escorra o macarrão com água corrente e reserve. Corte a cenoura, a cebola, o repolho e a carne em tiras finas. Em uma frigideira ou wok, aqueça um fio de óleo de soja com alho e salteie a carne rapidamente no fogo alto. Acrescente os legumes, tempere com sal e, em seguida, misture com o macarrão. Tempere com shoyu e molho de ostra. Se necessário, ajuste o sal. Finalize com óleo de gergelim.
Serviço
Avenida Prudente de Morais, 469, Santo Antônio
(31) 99941-0553