O modo artesanal de fazer o “pão cheio” de Santa Rita do Sapucaí, Região Sul do estado, recebeu enfim o título de Patrimônio Cultural de Minas Gerais. O governador Romeu Zema sancionou nesta semana a lei, aprovada pela Assembleia Legislativa (ALMG) em 24 de junho. Desde 2017, o pão cheio é patrimônio cultural e imaterial de Santa Rita do Sapucaí.
Muito apreciado por santa-ritenses e turistas, o "pão cheio" teria sido introduzido na cidade por imigrantes oriundos da Região da Calábria, Sul da Itália, de acordo com a tradição oral, confirmada pelo Inventário de Proteção do Acervo Cultural (Ipac), elaborado pela Prefeitura Municipal em 2009 para o exercício de 2010.
Quem tomou a iniciativa para tombamento cultural do "pão cheio" foi o jornalista e pesquisador Jonas Costa. A tradição começou há mais de 150 anos, com a chegada das colônias italianas naquela região. Com a imigração, a iguaria chegou ao Sul de Minas, passando por modificações. A receita original levava carne de porco desfiada e leite de cabra. Hoje, vai ao gosto do freguês: calabresa, lombinho, peito de peru e até frango desfiado.
Maria Bonita
Tombado como Patrimônio Imaterial pelo Compac (Conselho Municipal de Patrimônio Artístico e Cultural), o "pão cheio” é uma iguaria que tem dia dedicado a ela, 5 de julho, dia do aniversário de Maria Idalina de Jesus, a Maria Bonita, patrona do Programa Municipal de Valorização do Pão Cheio, criado pela Lei Municipal 5.002, de 18 de abril de 2017.
Segundo os sociólogos Ramón Villar Paisal e Yago Euzébio Bueno de Paiva Junho, a principal divulgadora da iguaria teria sido uma cozinheira de ascendência africana.
O talento culinário de Maria Bonita, sobretudo na panificação, é analisado em um processo inconcluso de registro de sua trajetória como patrimônio imaterial do município, além de ser tema do quinto capítulo da biografia da cozinheira, A Rainha Operária e sua Colméia Negra (2010), de autoria de Jonas Costa. O "pão cheio" ocupa lugar de destaque no capítulo, intitulado A Maga dos Fornos e Fogões.
Outros exemplos da maior projeção conferida ao quitute fora da cidade na década atual estão no livro Oh Minas Gerais! – Histórias e Receitas da Culinária Mineira, publicado pela santa-ritense Yvone Rocha Vieira por uma editora carioca, em 2012, e num quadro de programa televisivo em uma das padarias da família Resch, em 2013. Ambos apresentam a origem e a receita do pão.
Para se ter ideia da importância da comida para município, anualmente é realizado o Festival do Pão Cheio, que promove oficinas de salvaguarda da receita original e também um concurso para saborear as melhores receitas e suas variações. A iguaria é encontrada nas cafeterias, padarias e supermercados da cidade.
Receita para seis pães de 400g
Ingredientes
- 1 kg de farinha
- 50g de fermento
- 1 colher (sobremesa) de sal
- 1 colher (sopa) de açúcar
- Tempero a gosto (cheiro verde, alho, cebola)
- 6 ovos
- 1 LT de leite
- Meio copo americano de óleo
Recheio
- Cerca de 1,5kg de linguiça de porco curada
- 1 queijo minas meia cura
- 100 g de azeitonas
Modo de fazer
Desmanche o fermento com um pouco de leite, o sal, o açúcar e um pouco de farinha. Deixar uma massinha bem mole. Deixe fermentar até dobrar de volume (cerca de 1h). Depois do descanso, coloque os ovos, óleo, tempero e o restante do leite, mexa bem. Vá colocando a farinha e mexendo com as mãos. Sovar bem a massa até ficar lisinha. A massa fica mole (mais firme que a de bolo e menos que a de pão comum).
Montagem
Faça um forro no fundo da forma untada com massa, coloque a linguiça desfiada (sem a tripa), espalhe azeitonas e queijo cortado em fatias. Cubra o pão com massa novamente e espalhe uniformemente com as mãos untadas. Finalize pincelando gemas. Aguarde crescer novamente, média de 1h e leve ao forno 180° por cerca de 50min.
(Receita de Izabel Cristina Victor)