O gim revive no Brasil. Deixou de ser uma bebida marginalizada para se tornar popular na coquetelaria. Essa virada impulsionou o surgimento de inúmeras marcas nacionais. Depois de viver um boom de novos rótulos, será que o mercado já chegou ao auge? Mineiros garantem que ainda existe muito a ser explorado e investem em novidades, como estilos diferentes e drinques prontos para beber.
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Chefs modernizam a cozinha mineira com os pés fincados em suas origensConheça três arquitetos que projetam restaurantes e bares da cidadeFondue: restaurantes já começaram a servir o prato mais desejado do invernoCroissant: por que o pão com camadas de massa e manteiga desperta paixõesFlorestal: Bruna Martins se desafia a provar que carne não faz faltaMulheres são protagonistas de circuito gastronômico realizado em BHAndré Sá Fortes acompanhou de perto a evolução da produção de gim no Brasil. O fundador da YVY Destilaria se lembra de que, em 2017, quando lançou o primeiro rótulo, conhecia outras cinco marcas nacionais. Até que, na pandemia, houve um boom. “Só em BH, devemos ter hoje umas sete marcas. Falando de Brasil, são quase 100 marcas registradas e o número de rótulos deve chegar a 300.”
Neste momento, ele observa que as empresas bem estruturadas estão partindo para a expansão de portfólio. A YVY começou por uma receita clássica de london dry, para que fosse mais facilmente reconhecida pelo público já acostumado com os importados. O gim Mar realça o sabor das especiarias e tem um toque cítrico de limão e laranja. Depois a marca fez uma expedição pelos seis biomas do Brasil para desenvolver o Terra (mais herbal) e o Ar (mais frutado).
Desde o desenvolvimento de receitas até o envase, todo o processo se concentra na fábrica própria da YVY. A destilaria, que fica no Barro Preto, tem capacidade para produzir 250 mil litros de gim por mês, mas está longe de chegar a esse volume. Atualmente, são 30 mil. “Acompanhamos de onde vem matéria-prima, quem produz, cada etapa de produção e temos controle da qualidade”, destaca.
Mesmo com a chegada de tantas marcas nacionais, o fundador da YVY e seus três sócios acreditam que ainda existe muito mercado a ser explorado, principalmente em cidades do interior e estados do Norte e Nordeste do Brasil. Nas capitais, André imagina que a demanda do gim vá continuar crescendo com o desenvolvimento da coqueletaria, de onde vem seu interesse por destilados (ele era sócio do bar MeetMe), e também da gastronomia.
“Nos últimos anos, as pessoas começaram a se envolver com gastronomia e buscar experiências sensoriais. Diferentemente de outros destilados, o gim tem diferenças sensoriais evidentes, alguns são mais salgados, outros cítricos, e isso passou a ser interessante para o público do mundo todo”, analisa.
A aposta agora são nos drinques em lata, lançados em março, que têm o apelo da praticidade. “A grande maioria dos clientes não sabem ou não querem fazer coquetel em casa. Da mesmo forma que pegam cerveja na geladeira cerveja, querem um destilado pronto para beber.”
A marca desenvolveu três sabores, um com cada rótulo de gim. O Gin & Tônica combina o Mar com água tônica, limão siciliano, laranja e zimbro. Com o Terra, eles criaram o Carimbó, adicionando gengibre, cambuci e pacová. Já o Xaxado tem o gim Ar, hibisco, chá mate, maracujá e uvaia.
Refil em lata
Inovação pensada inicialmente para bares e restaurantes, o refil de gim em lata também está disponível para o varejo e tem tido boa aceitação. Em um mês, ele abocanhou metade das vendas. Qual é a ideia? Comprar a garrafa de vidro apenas uma vez e depois repor o seu conteúdo com uma embalagem mais vantajosa, tanto do ponto de vista econômico quanto ambiental.
“O alumínio é leve para transportar, protege a bebida de luz e oxigênio, não quebra, é mais barato e tem taxa de reciclagem em torno de 98%”, enumera.
André está feliz de aproximar a marca da gastronomia. A YVY acabou de lançar dois produtos desenvolvidos com a chef Janaína Rueda para A Casa do Porco, em São Paulo: gim de jabuticaba e licor de jabuticaba com gim. Ambos são servidos no novo menu degustação e serão vendidos no e-commerce do restaurante. Nas receitas, eles usam as frutas orgânicas do Sítio Rueda, em São José do Rio Pardo.
O contato direto da marca com o público se dá no YVY Herbário. Localizada no Mercado Novo, a loja é mais que um bar. Os sócios a definem como um lugar de pesquisa e desenvolvimento de drinques brasileiros. Da mesma forma, a destilaria, em breve, deixará de ser apenas uma fábrica. Até o fim do ano, abrigará um coworking para bartenders parceiros, com uma biblioteca à disposição, um espaço para workshops e treinamentos e ainda terá uma operação de bar.
Primeiro eles notaram a ascensão do gim no Brasil. Depois se desafiaram a desenvolver uma receita inédita. Passados dois anos, os amigos de infância Rômulo Stockler, Pedro Junqueira e Arthur Moreira, fundadores da Vanfall, sentem-se confiantes para investir em uma destilaria própria, que está em obras e terá capacidade de até 50 mil garrafas por mês.
A produção de gim surgiu como uma oportunidade de negócio pouco antes da pandemia. Os sócios começaram com baixo investimento, apenas um rótulo e produção cigana (em um espaço terceirizado), mas, diante da crescente demanda, estão apostando todas as fichas neste mercado. Até porque acreditam que a bebida já se consolidou no gosto do brasileiro.
“Acredito que vá acontecer com o gim o mesmo que aconteceu com a vodca: ela teve o seu boom décadas atrás, mas não foi esquecida e até hoje tem sua posição de mercado”, analisa Rômulo, que é estudante de engenharia civil e diretor de marketing da Vanfall.
A marca iniciou seu portfólio pelo gim london dry, que acaba sendo porta de entrada para fabricantes e consumidores. Formulou uma bebida cítrica, que tem mexerica e limão siciliano, com o toque de especiarias como canela, gengibre e cardamomo. O rótulo coleciona cinco prêmios, sendo três internacionais, em Londres, Bruxelas e Hong Kong.
Na sequência, veio o gim rosé ou pink, que tem esse nome exatamente pela cor. Usando como base o london dry, eles fazem uma infusão de frutas vermelhas (morango e framboesa) e adicionam açúcar, o que resulta em uma bebida mais frutada e adocicada.
Outra novidade são os drinques em lata prontos para beber. O primeiro lançamento, Vanfall Fizz On Craft, combina mexerica, gengibre, hortelã, canela, suco de limão e agua com gás. Até o fim do mês, eles devem lançar mais um sabor. Será uma mistura do gim rosé com um vinho branco da Serra Gaúcha, infusionada com frutas vermelhas e limão siciliano.
Só começando
Criadores da O’GIN, Laiza Machado e Alexandro Luchesi estão certos de que a história dos brasileiros com o gim está só começando. Segundo eles, boa parte da população ainda não conhece a bebida, que tem conquistado seu espaço por ser leve, refrescante e de baixa caloria. Lançada há dois anos, a marca de Lagoa Santa quer estar presente em todos os estados e ser reconhecida como o gim do Brasil.
Para entrar nesse mercado, o casal empreendedor (que fundou a sorveteria Lullo) fez uma longa pesquisa. Visitou destilarias em vários países da Europa, inclusive na Holanda, onde a bebida foi criada, e experimentou rótulos de outras tantas nacionalidades, incluindo asiáticos e africanos. Nesse tour, entendeu que o caminho seria desenvolver receitas exclusivas, trabalhar com ingredientes de qualidade e investir em uma produção artesanal.
Além da base com zimbro, coentro e raiz de angélica, a marca selecionou elementos que fogem do comum. Entre os 10 botânicos da receita do O’GIN no estilo london dry, está a folha mineira ora-pro-nóbis. A Buddha's hand da Índia (espécie de cidra chamada assim por ter formato parecido com uma mão em prece), o yuzu do Japão e o lírio florentino da Itália são outros exemplos.
Este rótulo já acumula 22 prêmios em quatro continentes (só falta a Oceania). No ano passado, ganhou seis medalhas de ouro em competições norte-americanas. Mais recentemente, foi eleito o segundo melhor gim do mundo em um concurso na Inglaterra. “Hoje um gim de Lagoa Santa é igual ou melhor que o que a rainha Elizabeth toma no Palácio de Buckingham”, comemora Luchesi.
O fato de ter destilaria própria é determinante para o sucesso da O’GIN. Em outubro, a marca inaugura a sua nova fábrica, que vai ocupar uma área de 40 mil metros quadrados às margens da MG-010, que liga Belo Horizonte ao aeroporto internacional em Confins. A capacidade produtiva vai chegar, até junho do ano que vem, a 15 mil garrafas por dia, o que totaliza 400 mil mensalmente.
A fábrica foi toda desenhada do zero e terá cinco alambiques. O investimento se justifica, segundo o casal, “por acreditar que estamos fabricando um dos melhores gins brasileiros e do mundo”, considerando os índices de recompra. Laiza e Luchesi também acompanham dados internacionais. “Estudos mostram que, em cinco anos, existe a possiblidade de o gim ser a bebida mais consumida do mundo, superando o uísque”, ele destaca.
Apesar de projetar números na casa dos milhares, eles garantem que a produção vai continuar artesanal. O casal explica que nenhum alambique terá capacidade superior a 500 litros e todo o processo será acompanhado de perto. “Vamos manter o mesmo processo artesanal de um litro, por isso falamos que aqui será a maior destilaria de gim artesanal da América Latina”, diz o empresário.
O lema agora é “de Lagoa Santa para o mundo”. Laiza e Luchesi esperam primeiro se consolidar em Belo Horizonte para depois conquistar Minas Gerais, o Sudeste, o Brasil e, quem sabe, outros países. Até dezembro, eles querem estar em todas as capitais brasileiras.
Pela localização, a nova fábrica se tornou um gigante outdoor da marca para os turistas que passam pela rodovia. Quando inaugurar, terá visitas guiadas com direito a tomar gim “no pé do tanque”. A loja no Mercado Central também funciona como uma vitrine para o mundo. “A nossa ideia não era vender, era divulgar os nossos produtos, mas não imaginávamos que circulassem por lá turistas do Brasil inteiro. Para a nossa surpresa, tem sábado em que vendemos 10 caixas de gim”, ele comenta.
Hoje a marca já tem duas receitas de london dry. Além deles, produz o O’GIN no estilo new navy, com 54% de álcool e 14 botânicos, como chá verde e amêndoas. Outras novidades estão por vir. “Queremos mostrar que existe vida além do london dry”, aponta Luchesi. O gim rose lemonade (com rosa e limão) deve chegar ao mercado nos próximos meses. Depois disso, eles querem lançar estilos como sloe, new western, licor de gim e gim envelhecido no carvalho.
O’GIN Fresh
Ingredientes
50ml de gim; 2 rodelas de pepino; 1 fatia de pepino; 25ml de suco de limão tahiti; 1⁄2 colher de açúcar; 200ml de soda ou água tônica
Modo de fazer
Em uma coqueteleira, adicione o pepino, o açúcar e o limão. Macere os ingredientes. Adicione o gim e bastante gelo. Coe em uma taça de gim com bastante gelo. Complete com soda ou água tônica. Decore com a fatia de pepino e aproveite o seu momento.
Serviço
(31) 3665-9155
(31) 98448-8474
(31) 99703-2517