Jornal Estado de Minas

ELAS NO COMANDO

Mulheres são protagonistas de circuito gastronômico realizado em BH

 

“Lugar de mulher é na cozinha.” Se antes a frase era usada para diminuir o valor das mulheres na sociedade, hoje cozinheiras profissionais se apropriam dela para lutar pelo protagonismo feminino na gastronomia. Para dar visibilidade à causa, a marca de cerveja Stella Artois promove este mês um circuito inédito em Belo Horizonte. Doze chefs e subchefs servem até o dia 31 pratos que criaram para homenagear a cozinha mineira.





 


A coordenadora de marketing da Stella Artois em Minas Gerais, Maria Júlia Casarini, mostra o tamanho do desafio ao comentar sobre o fato de que apenas 5% dos restaurantes com estrela Michelin no mundo são comandados por mulheres. “O nosso principal objetivo é dar visibilidade para as mulheres na gastronomia. Queremos que as pessoas entendam que existe uma problemática e que podemos juntos fazer parte da construção de soluções.”


No Cozinha Santo Antônio, só trabalham mulheres. Isso não era regra, mas, com a debandada dos homens no início da pandemia, a chef Juliana Duarte decidiu trabalhar com uma equipe exclusivamente feminina e diz que não tem mais volta. “Precisamos dar mais espaço para as mulheres, porque elas ainda são minoria nas cozinhas profissionais, embora sejam as protagonistas da cozinha doméstica”, pontua.


O prato do restaurante criado para o circuito, e que já tem lugar fixo no cardápio, carrega um simbolismo forte. Juliana deu a ele o nome de Maria da Cruz, uma poderosa senhora de terras que viveu no Norte de Minas no século 18 e é lembrada na história por ser uma rebelde. “Num determinado momento, a coroa portuguesa resolveu cobrar um novo imposto, um grupo de comerciantes se rebelou e ela foi uma das líderes”, conta a chef, que também é historiadora.





Carne, mandioca e milho são os principais elementos da receita, que se complementa com sabores do sertão para se conectar com a região de Maria da Cruz. Assada em baixa temperatura até desmanchar, a maçã de peito, que passa por um processo de meia cura, ganha charme e sabor com uma “flor” de pequi e pimenta malagueta. A mandioca é cozida, regada com manteiga de garrafa e coberta com um pedaço de requeijão moreno. Por fim, meia espiga de milho cozida e tostada.

 

O baião de dois do Maturi ganha um toque mineiro com pernil de lata, quiabo tostado e couve (foto: Qu4rto Studio Fotografia/Divulgação)

“Quando a gente chegava para trabalhar em restaurante, ou ia fazer comida de funcionário ou ia para a confeitaria. Hoje não, as mulheres estão chefiando as cozinhas”, comenta a Regilene Coelho, do Maturi. A maranhense que escolheu viver em BH cita duas mineiras que admira porque souberam marcar território na cozinha: dona Lucinha e Nelsa Trombino, do Xapuri.


Para não se distanciar de suas raízes sertanejas do Maranhão, que é a atração do Maturi, a chef decidiu servir baião de dois, mas com um toque mineiro. No preparo, ela usa arroz, feijão de corda, azeite de babaçu, pimenta de cheiro, coentro e queijo coalho. A receita se transforma quando entram pernil de lata, quiabo tostado e couve. Por cima, um ovo frito com gema mole.





 

Outros 10 estabelecimentos de BH com chefs e subchefs mulheres participam do circuito. Como a ideia era homenagear a cozinha mineira, alguns ingredientes coincidem, entre eles carne de porco, frango, milho, couve e mandioca. Mas cada prato tem uma proposta diferente.


A combinação de costelinha e milho se repete em algumas receitas, mas veja como os resultados são diferentes. Naiara Faria, do La Palma, rega a carne com molho de canjiquinha e escolhe como acompanhamentos polenta frita e mostarda salteada. No prato de Izabela Rocha, de O Jardim, o corte ganha o nome de picolé e se junta a canjiquinha cremosa e couve. A tradição mineira está representada pela costelinha ao molho de rapadura com tutu e agrião d’água de Marcia Nunes, do Dona Lucinha.


Fugindo do tradicional, Samira Sylrio serve no Boteco Nada Contra uma legítima comida de bar: caldinho de surubim com taioba e torresmo. Já Gabriela Andrade, do Las Chicas Vegan, prova que a comida mineira também pode agradar aos veganos e apresenta no circuito uma broa de milho crioulo com jaca desfiada e calda de goiabada. Viviana Miranda, do Caravela, conecta Minas e Portugal com o arroz de cabidela, que tem carne e sangue de frango.

Serviço

Confira a lista de restaurantes participantes no Instagram da Stella Artois