Receita é o que menos importa. Para trilhar o caminho do empreendedorismo na confeitaria, a técnica tem que se somar a uma série de habilidades, que envolvem desde gestão ao uso de redes sociais e inteligência emocional.
Para comemorar os seus cinco anos, o congresso Confeitar Minas reúne, nesta quarta-feira, histórias inspiradoras e ensinamentos práticos. “Queremos despertar o potencial, encorajar e capacitar mulheres”, resume a idealizadora, Danielle Neves, mais conhecida como Dani Formigueiro.
Dani sempre sonhou em empreender. Depois de largar o emprego no comércio, decidiu abrir um negócio de cestas de café da manhã. Com o tempo, atenta aos pedidos dos clientes, ela se especializou em chocolate e virou um fenômeno de venda de trufas. O que fazia de diferente? Não parava de lançar novos sabores (seu foco era criar receitas exclusivas para casamentos, que tivessem a ver com os noivos).
Se tinha dado certo para ela, poderia dar certo para outras mulheres. Com o desejo de inspirar e motivar pessoas, Dani passou a compartilhar conhecimento e experiências. Deu aulas gratuitas para mulheres de comunidades carentes e criou uma comunidade on-line para falar sobre empreendedorismo na confeitaria, que rapidamente chegou a 60 mil inscritos.
“Ninguém olhava para a confeitaria como negócio, a confeiteira não se via como empreendedora, e eu queria mudar isso.”
O que seria um encontro entre as participantes da comunidade se transformou em um evento com palestras sobre temas diversos, de gestão a fotografia, e deu o start para o congresso de confeitaria.
Sete meses depois, em outubro de 2017, Dani organizava a primeira edição do Confeitar Minas. Na última edição presencial antes da pandemia, em fevereiro de 2020, recebeu quatro mil pessoas de todo o país.
Segundo a organizadora, o evento atrai tanto público porque ela conhece bem as “dores” das confeiteiras e disponibiliza conteúdo direcionado para ajudá-las.
“A confeiteira está presa a receitas e receita é o que menos importa. Se souber vender, pode ir longe fazendo brigadeiro.” Quando começou, há 20 anos, Dani fazia entregas de ônibus e ligava para os clientes no aniversário para estimular as vendas.
Conhecida pelos bolos gigantes, que chegam a ter som e movimento, Beca Milano é a embaixadora do Confeitar Minas. Como sabe que são muitos os desafios no início, desde escolher o tipo de produto a buscar um diferencial e precificar corretamente, ela segue sua missão de levar conhecimento e incentivar o empreendedorismo.
“Sempre busco inspirar os confeiteiros a acreditarem nos seus sonhos, porque sei o quanto isso é importante.”
Nesta edição, Beca falará sobre “Como surpreender na confeitaria”. O público saberá de detalhes da criação e desenvolvimento de alguns dos seus projetos de bolos. “As pessoas buscam muito mais do que um bolo, querem algo único, que remeta a algo importante para elas, seja na decoração ou nos sabores”, aponta a confeiteira, que comemora a volta dos bolos “grandiosos” depois da pandemia.
Outro assunto abordado será o relacionamento com os clientes. Segundo Beca, é importante estar sempre em contato com o seu público, mostrando os diferenciais do seu trabalho. “A fidelização é o principal alicerce do negócio, afinal o 'boca a boca' é o melhor marketing. Quando você fideliza um cliente, ele volta e ainda traz novos compradores”, comenta.
Reviravolta na carreira
Pela primeira vez no evento, Simone Izumi, da Chocolatria, em São Paulo, preparou a palestra “Reviravolta” para dar gás aos confeiteiros. Na opinião dela, o mais difícil para quem está começando é encontrar automotivação. Muitos se vêem sozinhos e desacreditados.
“Assim como inúmeros empreendedores, comecei dentro de casa, na cozinha emprestada da minha mãe, e com o 'bolso furado', sem recurso para ter uma estrutura própria”, compara. Simone ainda enfrentou questionamentos por todos os lados depois que tomou a decisão de mudar de carreira: ela deixou a arquitetura para apostar no sonho da confeitaria.
Simone defende que, se tiver disciplina, todo mundo adquire técnica. Mas, para trilhar o caminho do empreendedorismo e se destacar no mercado, é necessário desenvolver o autoconhecimento e a inteligência emocional. “Vou para BH com a missão abrir os olhos dos confeiteiros para a importância de desenvolver habilidades que os tornam empreendedores e eleva o nível da confeitaria brasileira. Só assim movemos montanhas, deixamos uma marca registrada e construímos um legado.”
Chocolatria é um espaço que funciona como café e instituição de ensino digital. Lá, Simone extrapola os limites da confeitaria para promover uma experiência completa, que envolva todos os sentidos. Isso está na decoração, na poesia estampada na bandeja, na sinetinha que toca toda vez que sai pão de queijo quentinho e na beleza dos doces, um legado da arquitetura. “Doce para mim é um projeto, só que artístico. Consigo me realizar plasticamente através da confeitaria.”
Para viver a experiência completa no Chocolatria, Simone sugere começar pelo pão de queijo quentinho com um café servido com espuma em formato de borboleta.
Depois finalize com o choux cream Passion (massa de carolina recheada com caramelo de maracujá e creme de coco) ou o bolo Trovão (de brigadeiro com asas de chocolate). “Criei esse bolo em homenagem a uma amiga de descendência italiana que ama brigadeiro. Toda vez que ela abre a boca, soa como trovão”, explica.
A próxima edição do Confeitar Minas já tem data. Será de 25 a 27 de outubro, no Minascentro, em Belo Horizonte, com conteúdo direcionado para as vendas de Natal.
A partir do ano que vem, o evento começará a rodar outras cidades. Estão na lista Juiz de Fora, Montes Claros, Pouso Alegre, Uberlândia, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Brasília. Outro projeto é fazer uma feira exclusiva para crianças e adolescentes, incentivando o empreendedorismo desde cedo.
“Os doces mais desejados do Brasil”
Na lista de competências necessárias para empreender na confeitaria, o uso das redes sociais tem se destacado. A Flakes Brazil, de Porto Velho (RO) é um exemplo de como isso pode mudar a história de um negócio. Mesmo que você não seja da área de confeitaria, já deve ter ouvido falar deles. A marca viralizou depois que a cantora Britney Spears repostou o vídeo de uma colherada num ovo de brigadeiro. Hoje já são mais de dois milhões de seguidores somando todas as plataformas.
O trabalho nas redes sociais começou muito antes de a Flakes ser notada por Britney. Leonardo Borges divulgava diariamente no Instagram os alfajores que vendia na faculdade de medicina para ter uma renda extra. Rapidamente, foi conquistando seguidores e clientes com fotos e vídeos bem chamativos. “A gente morava num bairro mais afastado e, mesmo assim, as pessoas iam buscar as encomendas na nossa casa. A distância não era empecilho.”
Ao longo de seis anos, Leonardo e a mãe, Laura, batalharam para construir a imagem da marca na internet. Vídeos que dão vontade de lamber a tela viralizavam com frequência. Tanto que o conteúdo repostado por Britney Spears já tinha mais de cinco milhões de visualizações. “O post só chegou a ela porque estava com muitos views. Não foi algo que planejamos, mas fizemos a nossa parte. Se não tivéssemos constância, não alcançaríamos tantas pessoas e nada disso teria acontecido.”
De repente, a marca estava conhecida e desejada no mundo todo. Leonardo confessa que foi “um susto”, mas eles não perderam tempo. Aproveitaram para surfar na onda da visibilidade e conseguir ainda mais engajamento, que é o que importa nas redes sociais. “As pessoas da cidade mandavam mensagem orgulhosas, já que é tão difícil alguém do nosso estado ser reconhecido em nível nacional. Normalmente, quando se fala em empreendorismo, o foco é o Sudeste”, comenta.
A loja oferece um mix grande de produtos, e sempre tem novidades. Tudo o que tem morango vende bem. As coxinhas de morango e a torta no pote de mousse de leite Ninho com bolo de chocolate, brigadeiro e morangos estão entre os mais pedidos.
Além da confeitaria, a marca tem uma braço de ensino, a Flakes Academy, que ensina receitas e tudo mais que envolve o negócio.
“Para quem está começando, existe o desafio da precificação, de não ver lucro no fim do mês. Já passamos por isso, erramos muito no início. Aí você vai crescendo e as 'dores' vão mudando. Hoje para mim o maior desafio é manter o padrão de qualidade para abrir outras lojas”, aponta Leonardo, que vai estar no Confeitar Minas com a palestra “Empreendedorismo na confeitaria”.
Por que o confeiteiro tem essa preocupação? Em breve, a Flakes Brazil vai chegar a outros estados com “os doces mais desejados do Brasil”, como diz o slogan. Quase todos os dias alguém entrava em contato pedindo informação sobre franquia. Depois do “empurrãozinho” da Britney, isso ficou ainda mais frequente. Para levar os produtos a mais pessoas, a marca está há um ano formatando um modelo de franquia, que deve ser implementado nos próximos meses.
Trufa de avelã (Dani Formigueiro)
Ingredientes
250g de chocolate meio amargo; 250g de chocolate ao leite; 200g de creme de leite; 1 colher de sopa de glucose; 1 colher de sopa de manteiga sem sal; 60ml de licor de chocolate; 150g de avelãs descascadas e torradas; 100g de creme de avelã; 300g de cacau ou chocolate em pó; 500g de cobertura fracionada ou chocolate meio amargo para banhar
Modo de fazer
Derreta o chocolate e adicione o creme de leite. Misture até formar um creme homogêneo. Adicione o creme de avelã, glucose, manteiga e o licor. Misture bem. Acrescente por último as avelãs. Caso queira, separe um pouco das avelãs para colocar dentro de cada trufa. Faça bolinhas do tamanho desejado (aproximadamente 15g). Derreta o chocolate ou a cobertura para banhar as trufas. Caso opte pelo chocolate, é preciso fazer a temperagem. Em seguida, passe as trufas no cacau ou chocolate em pó. Esta receita rende aproximadamente 40 unidades.
Serviço
Confeitar Minas – edição especial de aniversárioQuarta-feira, das 10h às 20h
Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1046, Centro)
Conheça o trabalho de confeiteiros que vão participar do Confeitar Minas
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Chocolatria
Flakes Brazil