Diante de um bloco de gelo, um bartender japonês se movimenta como um escultor. Com faca e martelo em mãos, vai lapidando a pedra transparente até que ela ganhe o formato de um diamante e se encaixe perfeitamente no copo de drinque.
Hipnotizado com as cenas do vídeo, que mostra o trabalho do famoso Hidetsugu Ueno, o administrador de empresas de Belo Horizonte Bernardo Batista não sossegou até se lançar no mercado de gelos especiais com a marca Icenberg.
“Fiquei muito impressionado com a técnica e a beleza. O gelo era tão perfeito que achei que fosse de mentira”, conta, ao se referir ao vídeo, que chegou a ele por acaso.
A curiosidade levou Bernardo a mergulhar em pesquisas madrugada afora. Na mesma semana, ele transformou o freezer de casa em uma fábrica de gelos. Começou a fazer os testes e se surpreendeu com o resultado. Os amigos de uma confraria de uísque foram os primeiros a experimentar.
“O uísque era para ser o grande assunto, mas todo mundo ficou falando de gelo a noite inteira”, conta o administrador, que até então trabalhava na empresa de autopeças da família e ali enxergou o potencial do novo negócio.
Nas suas pesquisas, Bernardo descobriu fora do Brasil uma máquina que produzia blocos gigantes de gelo. Era o que precisava para se lançar no mercado. O equipamento (que ele desenvolveu aqui usando tecnologia ucraniana) funciona como um freezer e os seus dois tanques fazem as vezes das formas.
Os blocos saem de lá com um metro de comprimento e 170 quilos. Para você ter uma ideia, esses enormes gelos são retirados da máquina por um guindaste e transportados em um carrinho até a área de corte.
A serra elétrica entra em ação para dividi-los em barras. Depois eles utilizam uma serra de fita de mesa para chegar a fragmentos ainda menores, que vão ganhar tamanhos e formatos diferentes.
Diamante no copo
Assim como o bartender japonês do vídeo, Bernardo trabalha como um escultor de gelo. As formas básicas são cubos (para copos baixos) e paralelepípedos (para copos longos), mas a criatividade não tem limites.
“Como tenho conhecimento da área de autopeças, entendi que não seria tão complicado desenvolver moldes para criar outros formatos. Dá pra fazer de tudo”, aponta. No momento, a marca disponibiliza esferas, diamante e caveira.
Além disso, existe a possibilidade de aplicar texturas na superfície do gelo, como a de colmeia.
Fora o que está na carta, a empresa pode desenvolver gelos de acordo com os copos do estabelecimento e a demanda do bartender. Alguns são personalizados com um carimbo de metal, que faz a gravação da logomarca do cliente. Bernardo acrescenta que dá para colocar enfeites dentro da pedra, como flor, fruta e folha de ouro, e inventar outras formas.
Os gelos especiais chamam a atenção tanto pelos formatos diferentes quanto pela transparência. O segredo para que não fiquem com nenhuma “mancha” branca (como costuma acontecer no freezer de casa) está na técnica de congelamento direcionado, que congela todas as partes por igual e impede a formação de bolhas de ar.
Não se usa nada além de água filtrada e purificada.
A beleza se soma a uma questão prática. Esses gelos demoram mais tempo para derreter, então ninguém precisa ter pressa para beber, tentando evitar que o drinque fique aguado. Dá até para tomar mais doses com a mesma pedra.
“Queremos que as pessoas tenham a melhor experiência possível, tanto visual quanto sensorial. Que fiquem encantadas com o drinque e sintam o mesmo sabor do primeiro ao último gole”, aponta Bernardo, que já vende para vários bares e restaurantes de BH.