Ele nasceu na Escócia, berço da raça de gado angus. Desde novo, aprendeu a tocar trompete e rodou o mundo fazendo shows com o seu quarteto de jazz. No Uruguai, conheceu Consuelo, dançarina de tango, com quem se casou. Por amor, escolheu viver em Montevidéu, onde seu sogro trabalhava como mestre parrillero.
Sabe de quem estamos falando? De Dorival, o personagem que dá nome ao primeiro bar da Alameda Oscar Niemeyer, em Nova Lima, aberto há exatos 10 anos.
Se existisse de verdade, Dorival certamente estaria feliz com a história que o bar vem construindo. O que ele pensaria sobre chegar aos 10 anos?
“Missão cumprida”, aponta um dos sócios, o arquiteto André Ayres. “O bar não veio para ser moda, passageiro, para acompanhar tendências. Nasceu com vontade de ser um clássico e de se tornar uma tradição.”
O slogan criado para comemorar o aniversário reforça: “Na avenida das novidades, tem tradição.”
As mesas de mármore e os pratos brancos de porcelana seguem a cartilha dos mais antigos bares. O cardápio continua igual, e não há nenhum plano de fazer grandes mudanças. “Aqui não é um lugar para quem está buscando novidades. O motivo para voltar é encontrar o bom e velho Dorival”, destaca.
Ouve-se muito dos clientes que “o Dorival não tem erro”. Para André, esse é o melhor elogio que pode existir. Daqui a 10 anos, os sócios não só querem estar de portas abertas, como querem continuar entregando a mesma qualidade do primeiro dia. Que seja um bar para onde as pessoas amem voltar.
Quem vê o agito da Avenida Oscar Niemeyer (antiga Alameda da Serra) não imagina como era quando o Dorival chegou. Havia uma pizzaria, e nada mais. Alguns pontos eram ermos, cheios de lotes vagos.
“Morava no Belvedere na época e sempre passava por ali para levar meus filhos para a escola. Enxerguei o potencial do bairro e tive ideia de abrir a segunda casa aqui”, conta André, que já era sócio do seu amigo, Marcus Grossi, no Djalma. Roberto Pessoa se juntou a eles.
O Dorival se propõe a ser um lugar que une a descontração de boteco com a qualidade gastronômica de restaurante. Somado a isso, atendimento de primeira. A grande maioria dos garçons estão lá desde a inauguração, então conhecem os clientes pelo nome e já sabem o que eles gostam de comer.
“Não adianta ser bom em uma coisa só”, aponta o arquiteto. Os sócios investem na trinca ambiente, comida e serviço para garantir a longevidade do negócio.
Apaixonado por carnes, Marcus decidiu montar uma parrilla e passou uma semana em Montevidéu fazendo pesquisas. “Não é o método mais simples, mas é o que dá o melhor resultado. Como a carne é assada só com o calor da brasa, não perde suculência”, explica André. Detalhe: eles só trabalham com cortes da raça angus.
Grelhados variados
A parrilla oferece vários grelhados, servidos com farofa, vinagrete e molho chimichurri, de boi, porco e cordeiro, além dos legumes.Entre os cortes de angus, a fraldinha, chamada de bife de vacío no Uruguai, tornou-se um clássico. Os acompanhamentos vão desde mandioca na manteiga de garrafa a risoto de alho-poró com presunto espanhol.
Durante a semana, no horário do almoço, a casa trabalha com um rodízio invertido. Você escolhe a carne e as guarnições são servidas à vontade. Os garçons passam pelas mesas com as panelinhas, daí o nome “almoço das panelinhas”.
Há quem diga que o torresmo de lá é o melhor de todos. André endossa a opinião de clientes explicando que a barriga de porco passa por um longo processo.
Depois de ser cozida em baixa temperatura por nove horas, é refriada e embalada a vácuo. Quando o pedido chega à cozinha, eles jogam o torresmo na gordura quente para pururucar. A sugestão é pingar umas gotas de limão capeta e ser feliz.
O bar também ganhou fama pelo chope. Os sócios visitaram bares em São Paulo e Amsterdã para descobrir os segredos da bebida. “Pesquisamos muito e criamos o ritual perfeito de tirar o chope, o que poucas casas no Brasil fazem”, diz.
Os barris ficam em uma câmara fria e as canecas saem na hora do ultracongelador, o que mantém a temperatura lá embaixo. Outro diferencial é o uso do gás nitrogênio para formar a espuma, que vira um creme denso. O colarinho influencia diretamente na qualidade do chope.
Não há planos de expandir a marca. “O Dorival é único”, pontua André, que aproveita para avisar: o Djalma pode voltar “de férias” a qualquer momento.
Serviço
DorivalAlameda Oscar Niemeyer, 841, Vila da Serra – Nova Lima
(31) 3643-4311