Quiabo, ora-pro-nóbis e molho pardo são os acompanhamentos mais conhecidos do frango caipira na cozinha mineira. Mas quem disse que a tradição se encerra por aqui? Em sua 16ª edição, o Festival de Gastronomia do Frango Caipira em São Gonçalo do Rio das Pedras, distrito do Serro, na Região Centro-Nordeste de Minas Gerais, mostra que as combinações podem ser infinitas. Nos dois próximos fins de semana, seis restaurantes servem pratos com ingredientes do quintal.
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Em 2007, interessada em movimentar o turismo através da gastronomia, Cleide teve a ideia de criar um evento em homenagem ao prato que mais representa o lugar. “Todo mundo tem frango caipira no quintal.”
A estratégia deu certo. Se antes o público era do Serro e Diamantina, hoje o festival recebe turistas do Brasil inteiro, com predominância de Minas, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
Seis restaurantes participam desta edição. “Ao contrário de destinos turísticos pequenos, onde o poder econômico se sobrepõe, aqui os proprietários dos restaurantes são nativos que vêm aprimorando a culinária e o seu estabelecimento”, destaca Cleide. Alguns criam os próprios frangos, outros são abastecidos por fornecedores da região.
A estratégia deu certo. Se antes o público era do Serro e Diamantina, hoje o festival recebe turistas do Brasil inteiro, com predominância de Minas, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
Seis restaurantes participam desta edição. “Ao contrário de destinos turísticos pequenos, onde o poder econômico se sobrepõe, aqui os proprietários dos restaurantes são nativos que vêm aprimorando a culinária e o seu estabelecimento”, destaca Cleide. Alguns criam os próprios frangos, outros são abastecidos por fornecedores da região.
Pelo terceiro ano, a cozinheira e pesquisadora de comida afro-mineira Zora Santos participou do desenvolvimento das receitas. Como conta, são os restaurantes que escolhem o ingrediente com que querem trabalhar e, a partir disso, ela ajuda a pensar na composição dos pratos.
“Os nativos conhecem muito bem os sabores do cerrado e cultivam isso com muito respeito”, observa Zora, que diz ter a oportunidade de fazer um “doutorado” a cada encontro.
“Os nativos conhecem muito bem os sabores do cerrado e cultivam isso com muito respeito”, observa Zora, que diz ter a oportunidade de fazer um “doutorado” a cada encontro.
O Bar do Pescoço, por exemplo, vai usar o lobo-lobô, condimento extraído da casca de uma árvore do cerrado. “É um pozinho mágico, muito usado por eles no feijão. Além de engrossar o caldo, dá uma textura viscosa, parecida com a do quiabo, e um gosto de defumado”, descreve Zora.
Neste prato, o frango temperado com lobo-lobô será servido com angu de milho verde, quiabo crocante e mix de folhas.
Neste prato, o frango temperado com lobo-lobô será servido com angu de milho verde, quiabo crocante e mix de folhas.
Temperado com gengibre
Também chamada de cacto, a palma é outro ingrediente do cerrado em destaque. Está no prato do Restaurante da Jovelina, salteada na manteiga. Os outros acompanhamentos são purê de banana e couve crocante. Detalhe: o frango caipira é temperado com gengibre. “A gente acha que gengibre tem só na comida oriental, mas não. Lá eles plantam o tempero”, comenta Zora.
Em todos os restaurantes, os frangos são cozidos sem pressa no fogão à lenha. Geralmente, utiliza-se panela de pedra ou barro. Mas cada prato tem um tempero diferente, que carrega a tradição da família. Assim como o gengibre, alfavaca, erva-cidreira e até água com café aparecem nas receitas.
No Restaurante do Capão, não se usa água. O frango vai para a panela mergulhado em um “chá” de ervas do quintal. Esse líquido, com sabor único, transforma-se em molho para o prato do festival. Completam o mix de sabores a salada de feijão-branco com pimentão defumado no fogão à lenha e a farofa (sem farinha) de amendoim com coco ralado.
A tradição também marca presença na receita do Bar do Ademil. O frango ganha a companhia de um molho de vinho, que é produzido pela própria família com uvas da região. Para acompanhar, purê de abóbora e folhas da horta (as que estiverem disponíveis na época).
Segundo Zora, os ingredientes do quintal estão sendo privilegiados nesta edição. A azedinha compõe o prato do Restaurante Recanto Real, cujo protagonista é o frango ao molho de jabuticaba, ao lado de inhame assado na manteiga com raspas de limão e crocante de cebola.
Ao ver dois pés de jabuticaba nos fundos do Bar da Pri, a cozinheira teve uma ideia inusitada. Propôs usar a casca da fruta para fazer um crocante. Depois de ir para o forno com ervas, azeite e uma pitada de sal, ela leva o sabor da jabuticaba para o prato, mas de um jeito diferente (geleia e licor são comuns na região).
Para fazer o pirão de frango, mistura-se o caldo do cozimento, temperado com ervas do quintal, e farinha de mandioca. Ainda faz parte da receita ora-pro-nóbis salteado.
Para fazer o pirão de frango, mistura-se o caldo do cozimento, temperado com ervas do quintal, e farinha de mandioca. Ainda faz parte da receita ora-pro-nóbis salteado.
Serviço
16º Festival de Gastronomia do Frango Caipira
De 4 a 6 e de 11 a 15 de novembro
Informações no Instagram e pelo telefone (38) 98819-8860