Quiabo, ora-pro-nóbis e molho pardo são os acompanhamentos mais conhecidos do frango caipira na cozinha mineira. Mas quem disse que a tradição se encerra por aqui? Em sua 16ª edição, o Festival de Gastronomia do Frango Caipira em São Gonçalo do Rio das Pedras, distrito do Serro, na Região Centro-Nordeste de Minas Gerais, mostra que as combinações podem ser infinitas. Nos dois próximos fins de semana, seis restaurantes servem pratos com ingredientes do quintal.
Localizado na Estrada Real, São Gonçalo do Rio das Pedras chama a atenção pela natureza, com cachoeiras e trilhas. Mas a gastronomia não fica para trás, não. “Se tem uma coisa que as pessoas daqui sabem fazer é cozinhar”, aponta a coordenadora do festival, Cleide Greco, que mora há 22 anos no distrito, onde tem uma pousada. Ela sempre ouve dos turistas que lá se come muito bem.
Em 2007, interessada em movimentar o turismo através da gastronomia, Cleide teve a ideia de criar um evento em homenagem ao prato que mais representa o lugar. “Todo mundo tem frango caipira no quintal.”
A estratégia deu certo. Se antes o público era do Serro e Diamantina, hoje o festival recebe turistas do Brasil inteiro, com predominância de Minas, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
Seis restaurantes participam desta edição. “Ao contrário de destinos turísticos pequenos, onde o poder econômico se sobrepõe, aqui os proprietários dos restaurantes são nativos que vêm aprimorando a culinária e o seu estabelecimento”, destaca Cleide. Alguns criam os próprios frangos, outros são abastecidos por fornecedores da região.
A estratégia deu certo. Se antes o público era do Serro e Diamantina, hoje o festival recebe turistas do Brasil inteiro, com predominância de Minas, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
Seis restaurantes participam desta edição. “Ao contrário de destinos turísticos pequenos, onde o poder econômico se sobrepõe, aqui os proprietários dos restaurantes são nativos que vêm aprimorando a culinária e o seu estabelecimento”, destaca Cleide. Alguns criam os próprios frangos, outros são abastecidos por fornecedores da região.
Pelo terceiro ano, a cozinheira e pesquisadora de comida afro-mineira Zora Santos participou do desenvolvimento das receitas. Como conta, são os restaurantes que escolhem o ingrediente com que querem trabalhar e, a partir disso, ela ajuda a pensar na composição dos pratos.
“Os nativos conhecem muito bem os sabores do cerrado e cultivam isso com muito respeito”, observa Zora, que diz ter a oportunidade de fazer um “doutorado” a cada encontro.
“Os nativos conhecem muito bem os sabores do cerrado e cultivam isso com muito respeito”, observa Zora, que diz ter a oportunidade de fazer um “doutorado” a cada encontro.
O Bar do Pescoço, por exemplo, vai usar o lobo-lobô, condimento extraído da casca de uma árvore do cerrado. “É um pozinho mágico, muito usado por eles no feijão. Além de engrossar o caldo, dá uma textura viscosa, parecida com a do quiabo, e um gosto de defumado”, descreve Zora.
Neste prato, o frango temperado com lobo-lobô será servido com angu de milho verde, quiabo crocante e mix de folhas.
Neste prato, o frango temperado com lobo-lobô será servido com angu de milho verde, quiabo crocante e mix de folhas.
Temperado com gengibre
Também chamada de cacto, a palma é outro ingrediente do cerrado em destaque. Está no prato do Restaurante da Jovelina, salteada na manteiga. Os outros acompanhamentos são purê de banana e couve crocante. Detalhe: o frango caipira é temperado com gengibre. “A gente acha que gengibre tem só na comida oriental, mas não. Lá eles plantam o tempero”, comenta Zora.
Em todos os restaurantes, os frangos são cozidos sem pressa no fogão à lenha. Geralmente, utiliza-se panela de pedra ou barro. Mas cada prato tem um tempero diferente, que carrega a tradição da família. Assim como o gengibre, alfavaca, erva-cidreira e até água com café aparecem nas receitas.
No Restaurante do Capão, não se usa água. O frango vai para a panela mergulhado em um “chá” de ervas do quintal. Esse líquido, com sabor único, transforma-se em molho para o prato do festival. Completam o mix de sabores a salada de feijão-branco com pimentão defumado no fogão à lenha e a farofa (sem farinha) de amendoim com coco ralado.
A tradição também marca presença na receita do Bar do Ademil. O frango ganha a companhia de um molho de vinho, que é produzido pela própria família com uvas da região. Para acompanhar, purê de abóbora e folhas da horta (as que estiverem disponíveis na época).
Segundo Zora, os ingredientes do quintal estão sendo privilegiados nesta edição. A azedinha compõe o prato do Restaurante Recanto Real, cujo protagonista é o frango ao molho de jabuticaba, ao lado de inhame assado na manteiga com raspas de limão e crocante de cebola.
Ao ver dois pés de jabuticaba nos fundos do Bar da Pri, a cozinheira teve uma ideia inusitada. Propôs usar a casca da fruta para fazer um crocante. Depois de ir para o forno com ervas, azeite e uma pitada de sal, ela leva o sabor da jabuticaba para o prato, mas de um jeito diferente (geleia e licor são comuns na região).
Para fazer o pirão de frango, mistura-se o caldo do cozimento, temperado com ervas do quintal, e farinha de mandioca. Ainda faz parte da receita ora-pro-nóbis salteado.
Para fazer o pirão de frango, mistura-se o caldo do cozimento, temperado com ervas do quintal, e farinha de mandioca. Ainda faz parte da receita ora-pro-nóbis salteado.
Serviço
16º Festival de Gastronomia do Frango Caipira
De 4 a 6 e de 11 a 15 de novembro
Informações no Instagram e pelo telefone (38) 98819-8860