Jornal Estado de Minas

Degusta

Delicioso ouro negro: conheça as maravilhas da jabuticaba



Os leigos podem pensar que produtos feitos com jabuticaba são todos iguais. Realmente, a forma de fazer é a mesma, mas depois que a pessoa domina a receita ela passa a dar seu toque pessoal e é isso que faz a diferença e traz para cada marca o seu tempero e gosto especiais. Cada um tem o seu “pulo do gato” guardado a sete chaves, e o sucesso é comprovado pelo volume de vendas, diversidade de produtos e crescimento da empresa.




 
Molho de jabuticaba com mostarda casa muito bem com queijos (foto: Douglas castro/divulgação)
 
 
Chegamos em Meire Ribeiro, fundadora e criadora dos produtos da marca Sabarabuçu, porque tomamos conhecimento de que ela fazia uma casquinha de jabuticaba cristalizada, extremamente delicada, e deliciosa para acompanhar o cafezinho depois de um almoço ou jantar, naquela linha das casquinhas de laranja e limão.
 
Ideal para acompanhar carnes o molho sabor barbecue é dos mais pedidos (foto: Douglas castro/divulgação)
 
 
Além da casquinha cristalizada nos deparamos com outros 23 produtos derivados da fruta. A cada rótulo, a boca salivava. Meire mostrava cada um deles com orgulho, como se apresentasse seus filhos a um parente que não via há muitos anos. Não era pra menos; ela idealizou, desenvolveu, testou – por anos – cada um deles até que estivessem perfeitos para entrar no mercado.
A novidade deste ano é o doce de Jabuticaba em lata. São dois: o de colher e o de corte. Essa receita ela levou cinco anos para desenvolver e chegar no ponto e sabor que queria, com a vantagem de ter baixo teor de açúcar. 




 
Sorvete de jabuticaba (foto: Douglas castro/divulgação)
 
 
A casquinha cristalizada, produto nobre da marca, só é feita sob encomenda pelo grande trabalho que demanda. Segundo Meire, o custo fica muito alto e por isso a saída é baixa para se manter em produção constante. Ou seja, é o produto de luxo da Sabarabuçu.
Outra novidade que está pronta para sair, apenas aguardando o novo rótulo dentro das novas normas, é a geleia light, desenvolvida em parceria com uma equipe de pesquisadores da UFMG. Ela é sem açúcar, o doce é só mesmo da frutose, e poderá ser consumido por diabéticos. A Aninha da Jabuticabanas também produz uma geleia light toda certificada.
 
Novidade para o Festival deste ano é o doce de jabuticaba em lata (foto: Douglas castro/divulgação)
 
 
A empresa é familiar. Meire começou o negócio; com o crescimento, o marido saiu da mineradora e entrou na firma, alguns primos começaram a trabalhar no negócio. Atualmente, a filha mais velha, Tarsila Ribeiro, é responsável pelo marketing, e-commerce e redes sociais. O filho mais novo, Arthur, que ainda é adolescente, já dá ideias. Eles não têm nenhuma fazenda, mas têm fieis fornecedores que garantem a entrega e qualidade da quantidade do produto de que precisam. Por sinal, a jabuticaba de Sabará tem, desde 2018, o Selo de Indicação Geográfica cedido pelo Inpi.




O produto mais vendido são os molhos, e o queridinho é a mostarda. 
 
Meire Ribeiro e Geilson Dantas têm 24 produtos no mercado (foto: Douglas castro/divulgação)
 

HISTÓRIA A “rainha” da jabuticaba, por incrível que pareça, é baiana. Meire veio para Sabará, a terra do ouro negro – como é chamada a saborosa fruta, que se tornou fonte de renda para a cidade histórica, vizinha de Belo Horizonte –, para acompanhar o marido, Geilson Dantas, que trabalhava na mineração de ouro, o dourado mesmo, em 1999, quando ele foi transferido para a mina de Sabará. Meire fazia trabalhos em patchwork, e começou a se envolver com as questões culturais da cidade; nada melhor para se enturmar. Dinâmica e organizada, começou a atuar na cooperativa de artesanato da cidade.
 
Como é de conhecimento geral, Sabará faz, anualmente, o Festival da Jabuticaba, que este ano realiza sua 36ª edição, de 24 a 27 deste mês. E Já naquela época havia um grupo de mulheres que trabalhavam com a fruta e participavam do festival. Sem nenhum tipo de capacitação ou formalidade, essas “pequenas produtoras” produziam as receitas, que passavam de geração para geração na família, doces e geleias que aprenderam com suas avós. Nunca tinham feito nenhum curso de boas práticas.
 
A jovem Meire, despachada, antenada e ativa, alertou sobre a necessidade de fazerem curso de segurança alimentar. Ela buscou o curso junto à Emater e ao Senar para as fabricantes, que já atuavam há mais de 10 anos. Meire não fazia nada nessa área, mas faltou uma pessoa para completar a turma e adivinhem quem entrou? A Meire, que mal, mal sabia o que era a jabuticaba.




Durante o curso, apaixonou-se pelo ofício e a turma ganhou uma nova produtora. As mulheres trabalham focadas no Festival, e foi assim que Meire começou, produzindo na cozinha de seu apartamento. A primeira produção foram 200 potinhos de geleia e 200 garrafas de licor. “Achei que estava trabalhando demais”, diz a empresária. Mas quem ouve essa história descobre rapidamente que a inquieta Meire não se contentaria em produzir pequenas quantidades para vender em um festival sazonal.
 
De fato, oito anos após ter se mudado para Sabará, a baiana deu adeus ao patchwork, criou a empresa Sabarabuçu, e das tímidas 400 garrafas/potes da primeira produção, que consumiram 100 litros da fruta, passou a vender derivados da fruta o ano inteiro. E produz 30 toneladas anuais, distribuídas nos 24 produtos da marca. 
 
Geleia e licor foram os primeiros, depois foram nascendo os outros filhos. Molho de jabuticaba tradicional, com pimenta, com café, com mostarda, barbecue, defumado, com bacon, teriake, etc. 
As geleias ganharam sabores como pimenta, limão siciliano, cebola roxa, alho negro. Tem calda para sorvete e na linha das bebidas tem a cachaça (feita de cana e curtida com jabuticaba), aguardente (destilada a própria jabuticaba), vinho de jabuticaba, cerveja e por aí vai.





BENEFÍCIOS Poucas pessoas sabem que a jabuticaba é tão rica em benefícios quanto é gostosa. Ela é a fruta que tem mais antocianinas,  grande aliada na prevenção e retardamento de doenças cardiovasculares, neurodegenerativas e do câncer pelo seu poder antioxidante, que age contra os radicais livres. Só para o leitor ter uma ideia, enquanto a uva tem 227mg e a amora 290 mg, a jabuticaba tem 314mg de antocianinas. Além disso, a fruta é rica em vitamina C, quercetina e tanino, que ajuda a retardar o envelhecimento.
 
Por ter ótimas quantidades de fibras, que ajudam a prolongar a saciedade, e baixa quantidade de calorias, a jabuticaba é uma ótima opção para incluir em dietas para perda de peso. Por ser rica em quercetina, antocianinas e taninos, compostos com ação antioxidante, a jabuticaba ajuda a combater o excesso de radicais livres no organismo, prevenindo o surgimento e a multiplicação de células cancerígenas. Ao contrário do que muita gente diz, por ter ótimas quantidades de fibras, a jabuticaba ajuda a aumentar a absorção de água no intestino, promovendo a formação do bolo fecal e facilitando a eliminação das fezes.
 
Por ser rica em antocianinas e taninos, a jabuticaba ajuda a proteger as células do sistema nervoso central contra os radicais livres, melhorando a produção de serotonina, um neurotransmissor responsável pela regulação do humor e bem-estar, auxiliando no tratamento da depressão. Suas fibras ajudam a diminuir a velocidade de absorção do açúcar dos alimentos, ajudando a controlar a diabetes. E mais: ajuda a diminuir o colesterol “ruim”, a regular a pressão alta, a prevenir lesão muscular, proteger o fígado e fortalece o sistema imunológico.




 
Na polpa da jabuticaba nós encontramos fósforo, ferro, vitamina C e niacina. Na casca tem os antioxidantes e a pectina, que ajudam a diminuir o colesterol “ruim”. Por isso não dá para descartar a casca. Especialistas sugerem batê-la no preparo de sucos ou usá-las em geleias, licores e bombons. No caso de fazer um suco, uma boa sugestão é misturar a casca da jabuticaba com abacaxi. O suco ficará azulado, se colocar algumas gotas de limão, a cor ficará avermelhada. Fica a dica.
 
Festival da Jabuticaba 
 
O Festival da Jabuticaba começou em 1986, de forma simples, com barracas montadas em volta da Praça Melo Viana, onde existia a venda de derivados da jabuticaba como geleias e licores, e, é claro, a fruta in natura para ser comprada em uma rua ao lado da praça, além do aluguel de pés de jabuticaba nos quintais dos moradores, E para animar um pouco, algumas atrações musicais locais e poucas barracas de gastronomia.
 
A jabuticaba é considerada patrimônio imaterial do município de Sabará. Em 2008, o festival foi tombado pelo Patrimônio Histórico e Cultural, e é evento mais aguardado do ano pelos produtores de derivados da fruta, rede hoteleira e restaurantes do município. 




 
Em 2022, o Festival chega em sua 36ª edição, com a participação das 26 produtoras mulheres, das quais pouco mais da metade (15) são empresas formais; as outras continuam na manufatura informal, trabalhando apenas para o festival, o que não significa falta de qualidade. O maior e mais importante evento cultural e gastronômico da cidade já tem data marcada: será de 24 e 27 de novembro, no Centro Histórico do município. O Festival da Jabuticaba ajuda a consolidar e perpetuar a cultura da fruta e proporciona a movimentação da economia da cidade. 
 
O interessante é que além de ser uma festa tão aguardada pelo público e pelos produtores por causa da venda, os organizadores do festival fomentam a produção, o crescimento e a evolução dos produtores, premiando o melhor produto em cada categoria, além de ter o Concurso Inovação, que leva cada produtor a lançar um novo produto a cada ano. 
 
Isso é um excelente exercício porque trabalha a criatividade, aguça a mente e novas formas do uso da fruta nascem, com uma premissa importantíssima: ser viável de produção e venda. Ou seja, pode viajar, mas com o pé no chão. 




 
Sorvete de jabuticaba

Ingredientes

1 litro de suco de jabuticaba, 1 ½ xícara de açúcar cristal, 1 xícara de leite em pó, 1 colher de sopa de liga neutra, 1 colher de sopa rasa de gordura hidrogenada

Modo de fazer

Lavar bem as jabuticabas. Depois, espremê-las em uma panela, tirando a casca e o caroço. Levar ao fogo. Assim que ferver, passar na peneira de taquara, facilmente encontrada em mercados municipais. Pode usar também peneira de plástico (não usar peneira de alumínio). Coar em um coador de pano e assim conseguirá o suco. Em seguida, colocar todos os ingredientes no liquidificador, 
menos a gordura hidrogenada. Bater por aproximadamente 15 minutos. Deixar no freezer de um dia para o outro. No dia seguinte, dividir a massa em duas partes, porque a batedeira caseira não comporta tudo de uma só vez. Bater cada parte com meia colher de gordura hidrogenada. A massa vai crescer e o sorvete estará pronto. Ponha em potes e leve à geladeira.