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Estado de Minas GASTRONOMIA E MEMÓRIA

Restaurante mineiro lança menu inspirado na diáspora africana e caipira

Ex-participante de reality show do GNT, o cozinheiro Lucas Abreu apresenta suas criações temáticas no Cura, casa gastronômica em São João del-Rei


16/05/2023 13:24 - atualizado 16/05/2023 15:44
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Prato Costela do Mato: costela suina defumada Catauá, legumes e maçã glaceados, arroz caldoso de couve, leite de amendoim, e telha de fubá
Pratos do restaurante possuem elementos caipiras e quilombolas, como a costela do mato, servida com legumes, maçã e leite de amendoim (foto: Fernanda Dias/Divulgação)

 
A falta de pessoas negras em posições de destaque no cenário gastronômico sempre incomodou o chef Lucas Abreu. Negro, o carioca atualmente comanda o restaurante Cura, em São João del-Rei, no Campo das Vertentes. É na cidade onde ele tem investido em promover uma cozinha inspirada na diáspora africana e caipira. 
 
Aos 27 anos e recém-chegado a Minas Gerais, o ex-participante do reality show Cook Island: Ilha dos Sabores, do GNT, acaba de lançar um menu que visa ocupar esse espaço.

Na casa aberta em abril de 2022 - Lucas está desde fevereiro deste ano - o cardápio é sazonal e busca combinar elementos da culinária quilombola com itens da cultura caipira, manifestações tão presentes no interior de Minas Gerais e também em estados vizinhos como São Paulo, Goiás e Bahia. Segundo o cozinheiro, o objetivo é representar a diáspora africana com ingredientes tradicionais e receitas ancestrais, que celebrem a cultura preta, acompanhado de elementos típicos da culinária regional. Esse fenômeno de junção de elementos históricos, ele chama de ‘afrodiáspora caipira’.
 
 
No menu temático, o milho se destaca com a presença de itens como a polenta de fubá, a broa e até pães, que ganham espaço nos pratos principais e trazem a cultura caipira à tona. Legumes como abóbora, quiabo e inhame também marcam presença e carregam forte simbolismo para o chef, por serem comidas presentes em quilombos e em oferendas de religiões de matriz africana. 

Um exemplo é o prato caipirão, que reúne agnolotti artesanal recheado com galinha caipira confitada, azeite de sálvia, molho velouté de galinha, mini milho grelhado e azedinha (R$ 72,00). O virado crioulo chega servido com feijão crioulo, ervilha-torta, mini cenoura, vagem-manteiga, canjiquinha de produção local, cebola baby e moringa glaceada. É finalizado com broto de coentro (R$ 52,00). 

Os peixes de rio também protagonizam pratos, como o caldo de quintal, que consiste em um caldo de abóbora com peixe de água doce selado, quiabo grelhado e crocante de broa da Bastianinha, uma produtora local (R$ 36,00).
 
Apresentar um menu com essa configuração pode ajudar a sociedade a dar mais atenção a esse lado hsitoricamente apagado da cultura alimentar brasileira, segundo acredita o chef. “No universo da culinária, temos poucos negros falando de gastronomia. Muito se fala da culinária de países europeus e brancos, mas esquecemos da riqueza e grandeza da comida de quilombo, de terreiro e de culturas pretas”, comenta Lucas. “Comida de quilombo é comida de resistência, comida carregada de afeto e memórias de África”, completa.
 

Além da broa da Bastianinha, o cardápio é repleto de ingredientes e receitas de autoria de produtores da região, como o queijo cabacinha do Geraldo e o molho de goiabada da Rosinha. As entradas e sobremesas da casa também contemplam a proposta, como a matula de couve: trouxinha da folha recheada com polenta de milho branco da roça, queijo meia-cura da Fazenda Marialva, finalizado com mel picante e crocante de broa (R$ 26,00). De sobremesa, o clássico fudge brownie do chef, com pedaços de castanha-do-pará acompanhado de creme de limão-capeta (R$ 20,00).
 
trouxinha de couve recheada com polenta de milho branco da roça em prato retangular
Outra prato do Cura: trouxinhas de couve recheadas de polenta de milho branco (foto: Fernanda Dias/Divulgação)

Sobre o chef


O chef Lucas Abreu, carioca de 27 anos de idade, é neto de uma avó mineira, de Ubá, mas sempre morou no Rio de Janeiro. Ele conta que cozinha desde os 7 anos de idade com o avô, em uma família onde a maioria das pessoas tem forte apreço pela gastronomia. 

A culinária sempre foi presente na vida do cozinheiro, seja como forma de afeto, de trabalho e até como representação de fé. Lucas conta que sempre foi motivado a atuar no ramo. Ele é formado pelo Gastromotiva, no RJ, iniciativa que promove a formação profissional em gastronomia. 
 

Em 2022, ele chega em Minas, no município de Desterro do Melo, na região do Alto do Rio Doce. Desde então, começou a aprofundar o estudo e a pesquisa em culinária, com foco na cultura local, sobretudo a cultura do milho e da palha. Assim, surgiu a ideia de casar os elementos que originaram o cardápio no restaurante. 
 
Restaurante Cura. Rua Getúlio Vargas, 154a, Adro Mais Centro Cultural, Centro, São João del-Rei, telefone (32) 99868-1212

Horários: 12h às 19h (qua. a sex.), 12h às 23h (sex. e sáb.) 
 
*Estagiária sob supervisão do subeditor Rafael Rocha

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