Quando alguém me pede indicação de restaurantes mineiros em Belo Horizonte, não penso duas vezes. Falo logo do Xapuri. Quase nunca é surpresa: a pessoa pode não ter ido, mas já ouviu falar desse nome. Xapuri virou sinônimo de comida mineira. Se Minas Gerais é um estado conhecido e reconhecido mundo afora pelos seus sabores, devemos ao talento, suor e determinação de Nelsa Trombino.
Ir ao Xapuri é uma experiência que ultrapassa a comida. Ali está a essência de Minas Gerais. É um lugar onde a nossa cultura se revela sem rodeios. Ambiente de fazenda, fogão a lenha, torresmo com cachaça, doces de frutas, muita fartura.
Lá não tem essa “modernidade” de comida empratada. As refeições são para compartilhar. O frango ensopado de nome Preguento do Bento chega à mesa em uma panela borbulhante, que fica rodeada pelo arroz, feijão, angu, quiabo, chuchu, couve tudo separadinho. Um verdadeiro banquete mineiro. A costelinha de Sinhá, com arroz, feijão-tropeiro, mandioca frita e couve, é uma declaração de amor a Minas. E o bolinho de mandioca? Impossível resistir ao queijo derretido que estica ao abrir a massa.
Dona Nelsa era uma doceira de mão cheia. Andava com o seu tacho de cobre para tudo quanto é lado. Lá atrás, ela brigou para continuar a usar tacho de cobre e colher de pau no restaurante. Venceu a tradição. Tradição que está devidamente preservada na sala só de doces, assim como na linguiça dependurada no fogão a lenha, no uso da técnica de “pinga e frita”, nas panelas de ferro.
Ir ao Xapuri é uma experiência única, profunda, saborosa. Nós, mineiros, ficamos frente a frente com a nossa história. E quem é de fora sente o que é ser mineiro, na origem. Mesmo sem a possibilidade da presença de Dona Nelsa no restaurante, nada vai mudar. Flávio Trombino, o filho mais novo, que já comanda a cozinha há 10 anos, está lá para seguir com o legado da mãe.