Jornal Estado de Minas

TÍTULO CONFIRMADO

BH é mesmo a capital dos botecos; o que dizem donos de bares e clientes

 

Um levantamento da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) confirmou o que já era senso comum: Belo Horizonte é a capital oficial dos botecos. Utilizando os dados do censo de 2022 divulgados recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o estudo colocou BH na liderança do ranking de capitais brasileiras com mais bares por habitante. A vitória ainda veio com folga: Belo Horizonte tem 178 bares a cada 100 mil habitantes, enquanto a segunda colocada, Florianópolis (SC), possui 150 bares a cada 100 mil habitantes. O terceiro lugar é de Vitória (ES), com, em média, 149 bares.





 

E não para por aí, mesmo se considerada a proporção por área, em metros quadrados, Belo Horizonte ainda é, de longe, campeã dos bares, com 12,5 estabelecimentos por km².  Mais do que o dobro de São Paulo, a segunda colocada nessa comparação com 5,9 bares a cada km².

Em terceiro lugar, vem o Rio de Janeiro, com uma média de 5,1 bares. A cidade de São Paulo, a que possui, numericamente, mais bares em todo o país, com 9.053, ao todo, aparece apenas na 14ª posição. BH também está muito à frente da cidade do Rio de Janeiro, 8ª colocada, com 99 bares por 100 mil habitantes. Já Brasília é a 10ª colocada, com 96 bares a cada 100 mil habitantes. Em números absolutos, BH tem 4.136 bares, segundo a Receita Federal.

 

Para o presidente da Abrasel, Paulo Solmucci, o resultado não é nenhuma surpresa. “Qualquer pessoa que já tenha visitado a cidade (de Belo Horizonte) por alguns dias pode atestar isso. Mas agora não há espaço nem mesmo para contestação”, diz o executivo. “Como o estudo leva em conta a atividade principal, creio que o número de estabelecimentos é ainda maior. Porque muitos que têm Cnae (Classificação Nacional de Atividades Econômicas) de restaurante na cidade servem refeições no almoço e, à noite, funcionam como bar da happy hour em diante”, completa Solmucci.





 

Variedade de opções atrai clientes de bares 

O presidente da Abrasel MG, Oswaldo Júnior, complementa: “Acredito que o jeito mineiro, de ser naturalmente receptivo, colabora fortemente para que a cultura dos bares cresça cada vez mais em Belo Horizonte”.

 

Para Diogo Manfredini Araujo, dono de três unidades do bar Pork’s, do bar Bebedouro e da Quermesse Arena, o título é justo e válido. Ele vê dois motivos para o sucesso dos bares em Belo Horizonte: a cultura de bar e a diversidade dos empreendimentos.

 

Diogo Manfredini Araujo é dono de três unidades do bar Pork's, do bar Bebedouro e da Quermesse Arena (foto: Marcos Vieira /EM/DA. Press)
 


“A cultura do bar é diferente para o mineiro. Em outros lugares, tem uma divisão muito grande de bar e restaurante e aqui não. As pessoas saem do serviço e vão para o bar jantar, o que, em outros lugares, seria feito em um restaurante. Além disso, não existe lugar no Brasil que tenha tanta opção boa de bar igual aqui”, afirma.





  • No quintal: bares e restaurantes dão a sensação de estar longe da cidade

 

O empreendedor é original de Curitiba e, em 6 anos na capital mineira, foi responsável pela montagem de 11 bares, uma média de quase 2 por ano. Ele conta que o gosto por botecos é de família: “Tudo começou com a minha avó em 1977. O Bebedouro, que é na Pampulha, veio dela, a gente carrega no sangue. Meus pais montaram as marcas lá no Sul e depois veio a ideia trazer os bares para cá, que é um lugar conhecido no Brasil inteiro”, explica.


Além disso, Diogo afirma que a personalidade do consumidor mineiro também é um teste potente para definir a qualidade do bar. “O público mineiro é um dos mais exigentes do Brasil. Tem uma história que diz que, se for testado aqui, o lugar dá certo em qualquer outra cidade.”, conta. Depois de vir para BH, as marcas do curitibano tiveram sucesso e acabaram virando franquias nacionais com lojas espalhadas por 9 estados do Brasil.

 

No entanto, mesmo com o destaque e liderando rankings, Manfredini ainda acredita que a capital mineira ainda não atingiu o seu total potencial no cenário pós-pandêmico. “É um trabalho de reconstrução, de tudo que a gente perdeu e de adaptação aos novos modelos de consumo que surgiram. Acredito que leve pelo menos mais um ano para dizer que está tudo normal.”, conta o empreendedor.





 

‘Minas não tem mar, eu vou para o bar’

 

Vanessa Soares Schuenge, de 28 anos, é frequentadora dos bares de Belo Horizonte. A gerente de marketing afirma que vai ao bar pelo menos 1 vez na semana e, de acordo com ela, o refrão cantado por Alexandre Peixe em 2008 é a mais pura verdade: “Já que Minas não tem mar, eu vou para o bar. É o lugar ideal para viver as melhores experiências, com a família, com os amigos, ou em um encontro. Gosto de bares mais tranquilos e com música ao vivo”, conta.

 

A gerente de marketing, Vanessa Soares Schuenge, de 28 anos, afirma que vai ao bar pelo menos 1 vez na semana (foto: Marcos Vieira /EM/DA. Press)
 

 

Pedro Boggione Costa também é frequentador assíduo dos botecos da capital mineira. O empreendedor de 34 anos é um dos donos do perfil no Instagram “Um bar por semana”, que tem como objetivo visitar os bares de BH e apresentá-los aos seguidores. Ele conta que o projeto foi impulsionado pelo orgulho que sente sobre o título de capital dos bares que Belo Horizonte recebe.

 

 

 

“O espírito é fazer algo pela cidade que a gente gosta tanto e divulgar isso mais. Às vezes recebemos amigos de outras cidades e eles perguntam ‘o que tem para fazer aqui?’, a gente queria que eles chegassem com a lista de todos os bares que querem visitar. Aqui tem bar para tudo quanto é gosto e as pessoas deveriam saber mais disso.”, afirma.





 

Para Boggione, que também é dono do bar Saruê, localizado no Bairro Castelo, na Região da Pampulha, o sucesso dos bares em Belo Horizonte tem a ver com dois motivos: o gosto que o mineiro tem de jogar conversa fora e a descentralização da cidade. “O bar tem essa simbologia de ir com amigos, família e bater papo, coisa que o belo-horizontino gosta. Além disso, o número de bares aumentou porque começou a surgir um gosto por ocupar mais a rua e o espaço e teve esse movimento de descentralização.”, comenta.

 

De acordo com ele, em Belo Horizonte a população tem um costume maior de prestigiar iniciativas, independentemente de onde elas estiverem. “Em São Paulo, por exemplo, o bar tem que começar já com um investimento alto para o público se interessar. Aqui em BH eu vejo muito as pessoas indo em lugares pequenos, diferentes, mais distantes, a fim de conhecer coisas novas.”

 

Pedro finaliza dizendo que esse movimento é um ganho para cidade, e que deve ser valorizado. “Surge um sentimento de que a cidade é uma só e não está dividida por regiões. Todo mundo está interessado em iniciativas legais e isso é muito interessante”, conclui. 

*Estagiária sob supervisão do subeditor Marcílio de Moraes