(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas SEM GLÚTEN, COM SABOR

Negócios driblam o preconceito com receitas atrativas sem glúten

Veja opções de comes e bebes para escolher sem se preocupar com a saúde


09/10/2023 07:00 - atualizado 12/10/2023 15:52
687

Torta de chocolate com avelã da Confeita fit em um prato rosa
Torta de chocolate com avelã da Confeita Fit (foto: Yago Lima/Divulgação )
A jornada de quem não pode (ou não quer) ingerir glúten em busca de lugares para comer pode ser bem difícil. Por sorte, Belo Horizonte e região metropolitana oferecem cada vez mais opções que se destacam pelo cardápio sem glúten, o que torna a vida dos celíacos e intolerantes ao glúten mais saborosa e segura. O público com esse tipo de restrição alimentar pode sair para tomar chope com petiscos empanados; matar a vontade de comer com brownie e palha italiana e lanchar um hambúrguer.

 

A relação de Jessica Lana com a culinária saudável vem de muito tempo. Criada em uma casa que sempre apoiou os bons hábitos alimentares, ela teve o primeiro contato com os doces sem glúten em 2017, quando fez um bolo de maçã para sua família. Todos adoraram a receita e, por sugestão da mãe, ela começou a produzi-los por encomenda.

 

Com o crescimento do negócio, em 2018, a engenheira ambiental abriu seu primeiro espaço, no Bairro Brasiléia, em Betim. Em pouco tempo, ela conseguiu conquistar clientes fiéis e, a partir das sugestões deles, a oferta de produtos foi crescendo.

 

“As pessoas vinham e perguntavam: ‘Tem salgado?’, aí coloquei a mini-pizza. ‘Eu queria um brownie’, fiz o brownie fit. Eu já pensava no bolo de pote, nas fatias de torta. Sempre quis me assemelhar ao máximo à confeitaria com que as pessoas já estão acostumadas”, revela.

 

Mesmo que tenha conseguido um crescimento rápido, Jessica diz que enfrentou – e ainda enfrenta – dificuldades na confeitaria inclusiva.

“A gente enfrenta preconceito até hoje. Isso é um absurdo. Às vezes, estou na loja e fico chateada com o pessoal que passa na porta e fala: ‘Sem glúten, sem lactose, sem açúcar, sem gosto, sem nada. Deve ser horrível.’ É preciso convencer as pessoas que não conhecem esse universo de que o saudável pode ser gostoso.” 

Em expansão 

Além de conquistar os não-celíacos, ela preza pela relação de confiança com o seu público-alvo. “Temos que lidar com os clientes com clareza e sinceridade. Colocamos a lista de ingredientes em todos os produtos para que eles possam ver o que estão consumindo.”

Jessica na porta da sua confeitaria Confeitafit
BH apresenta cada vez mais opções de espaços para as pessoas celíacas (foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)
As dificuldades de manter um estabelecimento completamente livre de glúten, principalmente fora da capital, vão além da clientela e avançam para dentro da cozinha. “Nós temos que ser muito criteriosos na hora da compra da matéria-prima. Aqui em Betim, principalmente, a gente não acha. Então, temos que buscar de fora para comprar. Os insumos têm um custo mais elevado, não é uma confeitaria tradicional.”

 

Mesmo com as adversidades de se manter no ramo da confeitaria inclusiva, Jessica precisava expandir a Confeita Fit. Em 2022, durante uma visita a BH, ela encontrou o lugar perfeito para isso. A segunda loja, localizada no Bairro Lourdes, abriu as portas em março deste ano. “Nós já tínhamos muitos clientes em BH e eu já tinha esse sonho. Acreditava que BH seria uma porta muito grande, pela demanda e pela valorização do produto.”

 

O cardápio da Confeita Fit apresenta variadas opções de doces. A torta banoffee (R$ 22), os brigadeiros low-carb (R$ 5) e o bombom aberto de morango (R$ 25) são alguns dos itens que já conquistaram os frequentadores da confeitaria. Além desses, Jessica volta às origens com os bolos (R$ 35) nos sabores cenoura com chocolate e limão com blueberry, entre outros.

O triunfo do negócio foi tanto que Jessica decidiu passar seu conhecimento para quem quiser. “Ensino todos os doces que mais fazem sucesso. Não posso guardar só para mim”, explica. Além dos cursos pagos, a empreendedora também possui o canal Confeitaria Low Carb Descomplicada, no Youtube, onde ensina diversas receitas. 

Pão que emociona

A paixão pela área da saúde e a busca por uma alimentação mais saudável foi o que motivou a farmacêutica Ana Tereza Nogueira e a nutricionista Fernanda Porto a abrir um negócio. Mais do que praticar a inclusão, as irmãs queriam montar um lugar com comidas que não fizessem mal para a saúde. “O glúten é uma proteína inflamatória, então, mesmo para aqueles que não são celíacos, existe um benefício em retirá-lo da alimentação”, completa. Assim, nasceu a Seleve.

 

Ana Tereza segurando uma fornada de pães franceses
Ana Tereza emociona seus clientes com o pão francês da Seleve (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
A padaria abriu as portas em 2014 e, em 2016, já estava instalada no Lourdes, Região Centro-Sul de BH. Segundo Ana, muito do seu público vem do interior à procura de opções de comidas sem glúten que não encontram em suas cidades. “Em cidades grandes, é mais fácil de achar, mas pessoas de cidades pequenas do interior não têm opção nenhuma. Elas acabam tendo que fazer toda a alimentação em casa. Fazem o próprio pão, o próprio bolo e isso acaba sendo cansativo”, revela.

 

O cardápio da Seleve é variado, mas o que mais chama a atenção são os pães, feitos com farinhas seguras para os celíacos, como de arroz, grão-de-bico e amêndoas. “Tenho clientes que se emocionam de ver pão francês. Já recebi pessoas que choraram explicando que não comiam há mais de 30 anos por causa do glúten”, relata.

 

Mas não é só o famoso pão francês, pão de sal ou cacetinho que faz sucesso na padaria. Ana fez questão de oferecer uma grande variedade nas suas vitrines. Os pães de forma (a partir de R$ 27,50) podem ter sabores como nozes, ervas finas e azeite.

 

A Seleve oferece diversas opções de salgados, como coxinha (R$ 8,90), quiche Lorraine (R$ 21,90) e empadas (R$ 8,90), que podem ser consumidos no local ou comprados congelados, com a possibilidade de entrega por aplicativo ou delivery próprio no site. Outro item de destaque é o hambúrguer (R$ 38,90), com pão sem glúten, carne de boi, frango ou vegano, ovo, alface, tomate, cebola roxa, molho de mostarda e mel e maionese da casa, acompanhado de batata-doce chips.

Relação de confiança

Por mais que tenha conseguido atingir seu público-alvo, Ana enfatiza que o processo de fazer um celíaco confiar em você e no seu produto é difícil, já que eles confiam a própria saúde ao estabelecimento.

 

“Costumo chamar meus clientes de cliente-paciente. Eles chegam com muito medo de comer, porque já passaram muito mal em experiências anteriores. Eles não sabem se podem ou não confiar. Eu mesma, muitas vezes, não confio no rótulo dos produtos. As pessoas falam que é sem glúten, mas produzem no mesmo lugar, podendo haver uma contaminação cruzada”, explica.

 

Prato com habúrguer e batatas fritas
Hambúrguer sem glúten da padaria Seleve (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
A dona da Seleve associa essa indiferença e desconhecimento com o glúten ao fato de a legislação brasileira ser falha.

“Mesmo com as exigências sobre o glúten, não existe uma fiscalização para confirmar isso. A lei permite a produção de insumos com glúten e sem no mesmo local, desde que tenha uma limpeza eficiente. Mas essa higienização, em determinados tipos de estabelecimentos, considero quase impossível de conseguir e garantir que o produto seja 100% seguro. Teria que existir testes para determinar isso, mas no dia a dia não é viável, principalmente em pequenas empresas”, ressalta.

Pavlova de frutas vermelhas

A betinense Jessica Lana, da Confeita Fit, já mostrou seu talento para o resto do Brasil. Em 2020, ela não só participou, como ganhou o reality show “Que Seja Doce” com o chef Felipe Bronze, do canal GNT. A confeiteira conquistou os jurados do programa com sua famosa receita de pavlova de frutas vermelhas, que está disponível nas duas unidades da Confeita Fit.

Brinde com chope

Uma amizade de mais de 25 anos fez com que as ambientalistas Del Dellaretti e Bia Cabrália saíssem desse ramo e se aventurassem no mundo da gastronomia com o Tiquê Bar. A ideia surgiu depois que a cunhada de Bia descobriu ter doença celíaca. Com o diagnóstico, a família, que sempre gostou de curtir a noite de BH, se viu sem lugares para frequentar. Ainda que existissem pizzarias, hamburguerias e restaurantes com opções sem glúten, fazia falta um barzinho mineiro.

 

Drinque, Chope e empanado sem glúten na Tiquê Bar
O bar Tiquê proporciona a experiência de tomar chope comendo petiscos para os celíacos (foto: Tiquê Bar/Divulgação)
A região da Savassi nem sempre esteve nos planos, mas as amigas não pensaram duas vezes quando surgiu a oportunidade de estar no coração da noite belo-horizontina. “A gente conhece o público, conhece o movimento e o que as pessoas gostam. E a gente sempre teve uma relação muito legal com a Savassi, frequentamos desde a adolescência. Um lugar que a gente conhece e gosta”, destacam.

 

O começo não foi fácil. Inaugurado em março de 2020, o bar teve dois dias de funcionamento antes de tudo ser fechado devido à pandemia de COVID-19. Para que não encerrassem o negócio, Del e Bia começaram com a produção de marmitas.

 

Desde o início, Del fica na cozinha e Bia cuida dos drinques (contam com freelancers em dias mais movimentados). Assim, desenvolveram protocolos de segurança para impedir, ao máximo, a contaminação pelo glúten.

 

“Não entra glúten na nossa cozinha. Temos procedimentos super rígidos de separação de áreas: nada que está no salão, onde os clientes ficam, pode entrar para o bar ou para a cozinha sem uma descontaminação correta”, explicam. “Tentamos sempre também acompanhar o processo produtivo de tudo que oferecemos. Às vezes, as pessoas não sabem nem o que é o glúten, então a nossa seleção de fornecedores e insumos é muito rigorosa, acompanhamos tudo de perto”, completam.

 

Atrair o público foi questão de tempo. “Quando tivemos a ideia do bar, comentei com a Bia: ‘Vamos divulgar para as pessoas celíacas que é sem glúten, mas não vamos falar isso para o público geral’, porque tem muito preconceito em relação a isso”, explica Del.

Petiscos empanados

O bar, que prioriza a produção o mais artesanal possível, conta com um cardápio de petiscos variados, além de molhos da casa, como o barbecue e a geleia de pimenta (R$ 3). A seleção de empanados (a partir de R$ 20), feitos para os celíacos com farinha de arroz e fubá, e a mandioca frita (a partir de R$ 11,50), são imperdíveis.

 

Bia e Del na entrada do Tiquê Bar
Bia e Del decidiram abrir o bar após um diagnóstico de doença celíaca na família (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)
No bar, os drinques exclusivos são feitos com xaropes fabricados pela própria Bia, sem chance de contaminação. O Ice Star (R$ 17), com vodca e sabores cítricos, e o Catu-pirinha (R$ 19,50), com cachaça, Catuaba e limão, são os destaques da carta. Entretanto, o chope sem glúten (a partir de R$7,50) continua sendo o maior sucesso do lugar.

 

“Já teve gente que chegou aqui e nos contou que tinha mais de 10 anos que não tomava um chope, desde que teve o diagnóstico. Recebemos pessoas do interior de Minas e de vários estados do Brasil que vêm nos visitar só para poder ter a experiência de tomar um chope num bar.” 

Sempre alerta

Muito se fala sobre glúten, mas você sabe o que é? O glúten é um conjunto de proteínas presente em cereais como trigo, centeio, malte e cevada. A intolerância ao glúten é uma doença permanente, que não tem cura, por isso é necessário removê-lo completamente da alimentação. Os celíacos e intolerantes ainda têm que se preocupar com a possibilidade de contaminação cruzada. Ou seja, por mais que a receita não leve ingredientes com glúten, pode ter contato direta ou indiretamente com partículas (traços) presentes em outros alimentos.

Serviço

Tiquê Bar

Avenida Getúlio Vargas, 1712, Savassi

(31) 92002-8646 @tiquebar

 

Confeita Fit BH

Rua São Paulo, 2112 – loja B, Lourdes

(31) 99992-6704 @confeitafit confeitafit.com.br

 

Confeita Fit Betim

Rua Santa Cruz, 67, Brasiléia

(31) 99813-0199 @confeitafit confeitafit.com.br

 

Padaria Seleve

Avenida Álvares Cabral, 399, Lourdes

(31) 3786-4001 @seleve_seleve seleve.com.br 

 

*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)