Maria Flor, arte-terapeuta, grafiteira e figurinista é uma mulher trans e moradora do Morro das Pedras, na região Oeste de Belo Horizonte, cria estampas para o figurino do E-Festival, quarta etapa da atual edição do Programa Somos Comunidade. A multiartista soma às habilidades as experiências de tarefas manuais que conquistou em processo contínuo de formação.
Ela é um dos artistas e empreendedores do aglomerado, que recebem auxílio de uma iniciativa inclusiva e solidária O Somos Comunidade foi criado para apoiar moradores de um dos pontos mais esquecidos da capital mineira, contribuindo para gerar renda e para a valorização do trabalho e das atividades dos moradores de favelas.
Impactada diretamente pela pandemia da COVID-19, Maria cita como o surgimento do programa trouxe luz, esperança e motivação para sua vida: “Além do lado financeiro, o retorno positivo que venho recebendo pelo meu trabalho me ajudou a ser mais confiante enquanto artista e profissional.” Maria ressalta a importância dessa oportunidade de exercer sua arte e o seu trabalho.
DIVERSIDADE É O NOME DO NEGÓCIO
Além das artes visuais, a música também é marcante em comunidades e favelas da cidade. No Morro das Pedras isso não é diferente. O rapper Vinícius Silva Lima, 29, mais conhecido como Vinição, também encontrou no Somos Comunidade um caminho para divulgar o trabalho com a música.
Vinição se encantou com o rap e com a cultura hip-hop desde criança. “Comecei a escrever rimas aos dez anos de idade. Logo passei a ser convidado a declamar poemas na escola e colaborar na apresentação de trabalhos de colegas.” Mas esse amor, assim como acontece com outros artistas periféricos, corre o risco de ser interrompido pela ausência de incentivos e apoio financeiro.
Nesse sentido, a iniciativa também foi fundamental para o rapper encontrar novos públicos e ultrapassar as barreiras impostas em sua carreira. Com o projeto, Vinição tocou para o próprio Morro das Pedras, “Antes, eu sempre participava de eventos voltados para público que curte hip-hop. Aquela foi a primeira vez que me apresentei para uma audiência mais variada e para pessoas da minha própria comunidade” destaca Vinição.
Quem também sentiu as dificuldades financeiras se intensificando com a pandemia foi Henrique “Rick” Silva Cardoso. Sem desanimar e enfrentando os desafios de se viver em uma periferia e ser um profissional autônomo, o cantor e instrumentista viu sua fonte de renda diminuir após a rotina de shows de sua banda de pagode acabar por conta da pandemia. E foi neste momento que entrou a atuação dos projetos comunitários: Rick Silva, que também é técnico no estúdio-som da comunidade, teve seu local de trabalho escolhido para receber as gravações programadas para o E-Festival.
A força dos projetos e trabalhos comunitários, em muitas situações, é a única oportunidade para moradores das periferias das cidades terem reconhecimento e sustento financeiro. Nas últimas semanas, o mundo se encantou com a performance de Rebeca Andrade, brasileira medalhista de ouro e prata na ginástica artística na Olimpíada de Tóquio 2020. A atleta foi incentivada, desde o seu começo na modalidade, por projetos sociais e comunitários da Prefeitura Guarulhos, SP, sua cidade natal.
O Somos Comunidade é uma dessas iniciativas solidárias de auxílio financeiro, profissional, de lazer e educação que impactou e impacta diversos jovens e profissionais em Belo Horizonte. Patrocinado pelo Instituto Unimed-BH, o projeto está promovendo a diversidade social na capital mineira.
MORRO DAS PEDRAS
Formado pelas vilas Antena, Santa Sofia, São Jorge I, II, III, Leonina e Pantanal, o Aglomerado Morro das Pedras surgiu por volta de 100 anos, na região Oeste de Belo Horizonte, em um local onde existiam fazendas e uma pedreira.
Com aproximadamente 20 mil moradores, o Morro das Pedras se destaca por uma variedade de artistas e grupos culturais. Em uma pesquisa realizada pela ONG Favela é Isso Aí, foi relatado que a falta de materiais e recursos financeiros para produção do trabalho artístico são uma das principais dificuldades para a atuação desses profissionais.
*é estagiário sob a supervisão de Márcia Maria Cruz