Jornal Estado de Minas

INCLUSÃO

Aprender brincando: universidade desenvolve jogos digitais para autistas

 
Alunos do curso de engenharia e jogos dgitais da Universidade Veiga de Almeida (UVA) desenvolveram jogos para pessoas com Transtorno do Espectro Autista. De forma lúdica, os jogos contribuibem para a tomada de decisões desse grupo, os ajudando a compreender o mundo. Além disso, fornecem ferramentas para os familiares e professores, para ajudá-los a conduzir situações do dia a dia.



 
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o transtorno do espectro autista (TEA) se refere a uma série de condições caracterizadas por algum grau de comprometimento no comportamento social, na comunicação e na linguagem. Se caracterizam também por uma gama estreita de interesses e atividades que são únicas para o indivíduo e realizadas de forma repetitiva.

Uma em cada seis crianças têm TEA, totalizando uma população de 70 milhões de pessoas no mundo que estão dentro do espectro. Sendo assim, o grande número de autistas.

Os jogos foram desenvolvidos na disciplina comandada pelo professor, Thiago Gabriel, nos cursos de Engenharias e Ciência da Computação na UVA, que é ofertada no primeiro semestre de cada ano. “No curso de jogos digitais, temos muitos autistas e foi uma forma de trazer o tema, sem agredi-los, e eles mesmos se sentirem envolvidos.”
 
Dentro do tema proposto pelo professor os alunos poderiam desenvolver o jogo como quisessem. Em um processo de quatro meses, que passou por pesquisas, entrevistas, testes e validações, os alunos desenvolveram quatro jogos. Todos eles com cenários, narrativas, cores e design pensados especialmente para autistas.





OS JOGOS

O jogo "Guardião Enri" foi desenvolvido pelos alunos Daniel Porto, Bernardo Barcelos e Juliana Gomes. Nele, o jogador controla Enri, um garoto que estuda com Davi, um garoto autista, e procura ajudá-lo em diversas dificuldades que o colega encontra na escola, como barulho alto e o bullying.

Em determinado ponto do jogo, o jogador só consegue completar a fase pedindo ajuda de um adulto, para incentivar as crianças a sempre buscarem apoio de um responsável para problemas que não consegue resolver sozinhos, como o próprio bullying. Com isso o jogo tenta promover a interação das crianças entre si, com os professores e com o ambiente.

Tela inicial de Guardião Enri (foto: Reprodução)


A inspiração veio da vivência da própria aluna, Juliana, que estudou com um colega autista no ensino fundamental e que demonstrava querer interagir com os colegas, mas se retraía frente à implicância das outras crianças.




 
Outra fonte de inspiração foi o filho de um colega de Juliana, que também está no espectro autista. Durante o processo de criação do jogo, as fases eram mostradas para a criança que validava o funcionamento da plataforma.

“É tão escasso no mercado e é tão importante, porque é uma forma de inclusão. Quando fiz esse jogo, acreditava que, quando uma criança que não é autista jogasse, ela entenderia que uma criança autista passa por problemas como qualquer outra", conta a estudante. Ela acredita que quem brincar com o jogo vai compreender que discriminar machuca.

Juliana pretende dar seguimento ao jogo e aprimorá-lo, para que os jogadores conheçam mais os personagens. “A minha ideia é ter cenas com mais diálogos para mostrar mais como Davi estava sofrendo, e também quando Enri fizesse uma ação que ajudasse o Davi, que tivesse uma resposta em troca”, conta.



Yan Gabriel Telles desenvolveu "A Grande Aventura de Ronaldo", pensado para ajudar as pessoas autistas a superarem os próprios problemas. O jogo, recomendado para maiores de 10 anos, apresenta três desafios: o toque, representado por familiares que querem abraçá-lo, o barulho, representado pelos morcegos, e a autoridade, representada pela. Segundo Yan, o jogo não é sobre um autista, é sobre um garoto que tem problemas e é autista. 

Tela inicial de A Grande Aventura de Ronaldo (foto: Reprodução)

Yan utilizou seu conhecimento pessoal para o desenvolvimento do jogo. A convivência pessoal com a namorada, que tem Asperger, condição que se enquadra no espectro autista, e um amigo, que o auxiliou na fase de testes e validou a funcionalidade do projeto. Yan conta que a maior dificuldade foi achar informações consistentes para pesquisa na internet.

O estudante vai continuar a desenvolver o jogo e ressalta: "hoje em dia todo mundo conhece alguém que está no espectro." Ele pretende buscar instituições de autismo para apresentar e distribuir o jogo.

Os alunos Lucas Moura Silva, Pedro Vinícius e Kai Paiva desenvolveram o "Memory Game", que visa estimular a memória do jogador de 5 a 10 anos. Como a questão visual é muito importante para pessoas no espectro, os desenhos e cores foram escolhidos para proporcionar sentimentos positivos.





Tela de Memory Game (foto: Reprodução)


Desenvolvido pelos alunos Arthur Dias, Carlos Magno e Felipe Cipriano, "O pequeno mundo de Rai" explora o efeito das cores para os autistas. As fases são ambientadas na obra "Uma noite estrelada", de Van Gogh. As cores vibrantes despertam sentimentos nos jogadores autistas.
 
O jogo foi indicado para jovens de 14 anos e se baseia em um sonho do personagem principal que precisa passar por diferentes mundos para resgatar a namorada. A proposta é mostrar que os autistas podem exercer diversas atividades e que não são limitados. 
 
Tela de O Pequeno Mundo de Rai (foto: Reprodução)

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