A sinuosidade e a grandeza do Rio Amazonas fluindo pela Praça Raul Soares, no Centro de Belo Horizonte. A epifania nasce dos corações e das mentes das idealizadoras do Circuito Urbano de Arte (CURA), Janaína Macruz, Juliana Flores e Priscila Amoni, que começam a dar pistas do que será a 6ª edição do Festival Cura.
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Desta vez, o palco das atividades artísticas e sociais será a praça Raul Soares, o marco zero de Belo Horizonte, no período de 21 de outubro e 2 de novembro. O tema principal dessa edição será a diversidade de vozes e verdade hegemônicas.
O festival traz para BH, nas atividades artísticas e ações sociais, o Rio Amazonas e suas diversas significações para seus povos. Para isso, alguns temas como as crenças, as religiões e as culturas indígenas do país guiaram a curadoria.
O festival envolve direção artística complexa, tanto das empenas como desse estudo da Praça Raul Soares e da Avenida Amazonas.
As curadoras refazem o percurso que sai da Rua Sapucaí, vai em direção a Avenida Amazonas até chegar a Praça Raul Soares. "A obra da Daiara Tukano, que está lá, anuncia o novo Cura. A obra dela e de Jaider Esbell, dois indígenas, anunciam essa nova etapa curatorial nossa. Não por acaso a Praça Raul Soares tem um conceito indígena", Priscila dá pistas. No entanto, os detalhes serão apresentados em entrevista coletiva.
Para Priscila Amoni, uma das idealizadoras do CURA, esses temas se unem à capital mineira. “Os rituais e a espiritualidade brasileira que estão nos nossos povos, que sofrem constante de uma tentativa de genocídio e etnocídio, no sentido físico e também espiritual”, menciona Priscila.
Os caminhos abertos
Os preparativos para a edição já estão a todo vapor. Priscila Amoni destaca que, neste momento, há uma forte empenho do festival para buscar artistas com identidades diversas para a edição, mais uma das missões do coletivo.
“Estamos cada vez mais próximos dos artistas indígenas e dos povos originários. O CURA é um festival que busca aprofundar nesse Brasil originário e também afrodiaspórico”, comenta a idealizadora.
O festival pretende dialogar não apenas com o hype da arte, mas pretende se consolidar com um dos principais festivais de arte pública do Brasil. "Queremos colocar Belo Horizonte no mapa mundial dos festivais por esse viés: ouvir as vozes doss povos originários e da cultura popular."
O mote desse ano "Você não está sozinha" busca esse contato "quadridimensional", outras dimensões e anti-hegemônicas, com um diálogo com os rituais e a espiritualidade brasileira dos povos originários, que têm sido atacados por uma parte da sociedade.
Na edição passada, duas obras do CURA abriram caminhos para o tema edição deste ano. ‘Entidade’, obra de Jaider Esbell, artista indígena, é uma estrutura inflável de duas cobras que marcou o viaduto Santa Tereza, um dos principais pontos da cidade. No xamanismo indígena, esses animais significam cura, fortalecimento e regeneração.
Outra presença marcante da última edição foi da obra ‘Selva Mãe do Rio Menino’ da artista indígena Daiara Tukano, que realizou um mural no centro da capital representando uma mulher indígena segurando uma criança no colo.
Também foi realizada uma ação que anunciou a 6ª edição do Cura. A atriz e dramaturga Grace Passô apresentou o Manifesto do Abraço, uma ação realizada, para restaurar a pintura do DMS. "Aproveitamos esse ensejo que é a vontade de se abraçar, revitalizando aquele abraço", diz Priscila.
Defesa dos povos indígenas
Reafirmando seu compromisso político para além da arte, o CURA também demonstra a sua preocupação com o debate sobre a demarcação das terras indígenas. Embora o debate sobre o Marco Temporal não tenha sido a inspiração, o festival contribui para dar visibilidade aos povos indígenas neste momento.
Priscila cita como as discussões sobre o Marco Temporal se unem e confluem com a escolha do tema e da Praça Raul Soares como local para a realização do evento. Via de acesso à praça, a Avenida Amazonas foi batizada em menção a um dos principais rios do Brasil, importante meio e recurso para diversos povos indígenas da região.
Os povos indígenas são contários ao Marco Temporal, que define a Constituição de 1988 como parâmetro para a remarcação das terras indígenas. O tema segue em julgamento no Superior Tribunal Federal (STF). "Somos contra o Marco Temporal. Somos a favor das novas demarcações. A gente está em prol de unir as vozes com as dos povos indígenas."