Um estudo publicado, nesta segunda-feira (20/09), pela consultoria IDados revelou que o número de pessoas recebendo até um salário mínimo no Brasil chegou a 30,2 milhões. Nessa parcela, quase 20 milhões são pessoas negras, um recorde em comparação com os trimestres anteriores. O levantamento foi elaborado a partir dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do segundo trimestre de 2021.
Para Bruno Ottoni, autor do levantamento e pesquisador do IDados, esses números revelam um cenário preocupante a negras e negros. Os valores são recordes tanto nos valores absolutos de pessoas negras recebendo até ou menos de salário mínimo, mas também nas proporções.
“É um dado preocupante. Mostra que essa população, que já tem mais dificuldades no mercado de trabalho, está sendo fortemente afetada pela pandemia. Esse levantamento reflete que pessoas negras estão sendo mais afetadas por essa crise”, destaca o pesquisador.
Bruno completa dizendo que, mesmo neste momento de reabertura gradual da economia no país, as pessoas negras estão retornando a este cenário de desigualdades, em empregos com baixas remunerações e de situações informais.
Com o salário mínimo brasileiro, 2021, de R$ 1.100 reais, a baixa remuneração e os cenários de informalidade no mercado de trabalho são situações comuns e preocupantes à população negra no país. Além disso, com a pandemia e alta na inflação, o caminho de muitos está sendo o empreendedorismo por necessidade, ocupação escolhida quando não há outra opção financeira.
No Brasil, o número de empreendedores por necessidade saltou de 37,5% para 50,4% em 2020, em números divulgados pelo Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBPQ) em parceria com o Sebrae.
Atualmente, a população negra representa mais de 54% da população do país, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O estudo divulgado pela IDados destaca que dessa parcela, são mais de 46 milhões de pessoas negras ocupadas no mercado de trabalho.
Essa realidade autônoma, no entanto, não é mesma quando são comparados empreendedores brancos com negros. Pesquisa, também realizada pelo IBPQ com o Sebrae, em 2019, identificou mais de 40,2% profissionais autônomos negros no país. Desses, apenas 7,7% possuem faturamento anual acima de R$ 36 mil reais. Na mesma faixa de faturamento, a população branca no país soma quase o dobro, com 13,6%.
*estagiário sob a supervisão de Márcia Maria Cruz