Quem olha para as empenas gigantescas do Circuito Urbano de Arte (CURA), que mudam a paisagem de Belo Horizonte, nem sempre se dá conta do trabalho de arqueologia realizado pelas ideadlizadoras do festival, Priscila Amoni, Janaína Macruz e Juliana Flores, e pelos curadores convidados. Substantivo feminino, arqueologia compreende o processo de escavar, coletar, descobrir costumes e culturas dos povos antigos. E é exatamente isso que as três, e as curadoras convidadas, fizeram para a sexta edição do festival.
Terá também um ato no dia 2 de novembro, em lembrança às vidas perdidas pela COVID-19, e o lançamento do catálogo contando a história das edições anteriores. Como em outras edições, o festival também cria novo espaço de contemplação de arte urbana em BH.
As pinturas mudam a paisagem do ponto de vista estético e convocam os belo-horizontinos a conhecerem um pouco mais da própria cidade. Dessa vez, como as curadoras bricam, a "nave" do Cura aporta na Praça Raul Soares. Viagem essa que também será conduzida pelo olhar das curadoras convidadas, a pesquisadora, a mulher do Povo Terena, artista e educadora Naine Terena de Jesus e a artista visual Falviana Lasan foram convidadas para a curadoria. A palavra território ganha cada vez mais força dentro do festival.
“O CURA deste ano é um festival que amadureceu. Cresceu com a gente e consegue se aprofundar muito mais", revela Priscila Amoni. Com o sucesso das edições anteriores, as curadoras receberam convites para realizá-lo em outras cidades, como Rio, São Paula e Brasília. No entanto, elas seguem firme no propósito de colocar a capital mineira no mapa da arte urbana mundial. "A gente ama BH e vai fazer o mundo vir para BH. Colocar a cidade no mapa mundial do graffitti, arte urbana e muralismo", completa Priscila.
Flaviana Lasan destacou o diálogo com as cosmovisões de povos originários e da diáspora afro-atltânticas. Naine apontou o desafio pensar em atividades que envolvem as artes urbanas e artes nas ruas.
Perspectiva circular para descobrir o território
A descoberta de faces da cidade ocorreu no território da rua Sapucaí e depois com o Bairro Lagoinha.O tema deste ano é "Você não está sozinha" e dialoga com obras de edições anteriorres como o Abraço, do artista DMS. A pintura das empenas se transformou em um evento importante no calendário cultural da cidade.
Momento para apreciar o trabalho dos artistas e encontrar os amigos. No entanto, devido às restrições decorrentes do enfrentamento à pandemia, será um pouco diferente. A Prefeitura de Belo Horizonte ainda não liberou a realização de eventos, portanto, o CURA seguirá a determinação.
Mas o CURA não renunciará a vocação de criar espaços de convivência e contemplação da arte. Neste ano, investirá numa iluminação especial da praça. "A gente quer transformar lugar lindo e interessante não só dia como à noite para apreciar as obras", afirma Juliana Flores. E esse ano as obras estarão dispostas de forma circular em bem mais próximas do público. "As obras estarão bem de pertinho. Estarão muito mais próximas que no mirante da Sapucaí", completa. As curadoras afirmam que será uma experiência imersiva de apreciação artística.
O festival fechará para carros a primeira faixa da Avenida Amazônica durante o período de realização das pinturas, Ação que abre espaço para pedestres e ciclcistas. A iluminação permitirá a apreciação da instalação do Giramundo também à noite e a Praça receberá uma iluminação cênica.
As curadoras saem da Rua Sapucaí, passam pela Amazônia em direção a Praça Raul Sores. Não por acaso Sapucaí é uma palavra do Tupi Guarani e significa "rio que grita". A partir do Cura Lagoinha, as idalizadoras entenderam a importândcia de pesquisar o território se comprometer com ele socialmente. "Na Lagoinha a gente se aprofunda nisso. Já acontecia na Sapucaí".
Na Praça Raul Soares, em vez de ser um mirante, o público fica no meio. As obras estão em volta, seguindo a ideia de circularidade. A obra Mãe-Selva Menino Rio, primeira empena feita por uma mulher indígena no mundo, abre o portal para o Rio Amazonas. As curadores lembraram uma afirmação da artista Daiara Tukano: "A mãe do Rio é a Selva. Plantando a Selva plantamos o rio. Portal anunciando o Cura 2021".
O piso da praça recebe mosaico português com grafismos marajoara, povo indígena considerado extinto". Os marajoaras têm tradição de urnas funerárias gigantescas. Ilha Marajó, ilha onde deságua o rio Amazonas. Não por acaso, está ali."A escolha da praça veio de um sonho da Jana. Ela sonhou com isso e trouxe para gente", afirma Priscila.
A fonte tem forma da cruz inca a Chakana. "Ela aparece no estilo de vários povos que habitam a região do Rio Amazonas". Essa cruz rodeada por raios de sol, cruz andina, de vários significados. As curadoras lembram que o Rio Amazonas avenida estilística do povo brasileiro, transitavam e trocavam ali. Também há diálogo com a cosmogonia das religiões africanas. A praça é vista de cima como uma grande encruzilhada, o encontro entre os mundos. "Trazendo energia de Exu. Trabalhar pelas narrativas não oficiais"
ONDE FICARÃO AS EMPENAS
Empena 1 - Edifício Levy na Avenida Amazonas
Empena 2 - Edifício Paula
Empena 3 - Convocatórioa para pintar o Edifício Savoy