O apagamento da identidade de pessoas bissexuais pode refletir no ambiente de trabalho. O estudo realizado pela Safe Space demonstra que mais de 60% de pessoas LGBTQIA+ escondem sua sexualidade no mercado de trabalho com medo de reações e discriminação. Os dados foram apresentados no Dia da Visibilidade Bissexual, celebrado na quinta-feira (23/09).
A data foi criada para dar visibilidade à luta pelo fim do preconceito, por mais representatividade e pela garantia de direitos. A pesquisa tem o objetivo de compreender como que pessoas LGBTQIA+ pensam e esperam do mercado de trabalho, considerando as mudanças e as transformações que diversas empresas vêm promovendo em suas políticas e metas nos últimos anos.
Para a jornalista Júlia Calasans, 22, pessoas bissexuais sofrem microviolências recorrentes no mercado de trabalho e, quando essas discriminações são somadas, impactam na vivência da vítima. Bissexual, Júlia comenta como ter pessoas LGBTQIA+, incluindo pessoas bissexuais, em um ambiente de trabalho é essencial para o processo de se assumir. No entanto, destaca que essa presença precisa ter o diálogo e a escuta ativa no cotidiano. “Acho a representatividade bissexual importante no mercado de trabalho, mas é mais importante quando as pessoas escutam o que temos a dizer”, destaca Júlia.
Na pesquisa da SafeSpace, realizada com 220 pessoas LGBTQIA+ , também foi constatado que 13% das pessoas já pediram demissão ou perderam o emprego por conta de ser LGBTQIA+ . No entanto, do total do estudo, 55% já sofreram ou sofrem algum tipo de discriminação em seu ambiente de trabalho por causa de sua orientação sexual ou identidade de gênero.
Para Rafaela Frankenthal, co-fundadora da SafeSpace, a discriminação ainda é um dos motivos pelos quais pessoas LGBTQIA não se sentem confortáveis em assumir sua sexualidade.
“O preconceito é um dos grandes motivos pelos quais as pessoas sentem dificuldade e não querem se assumir no trabalho. Mas outro ponto importante é a representatividade. Quando você vê que a grande maioria das pessoas em cargos de liderança são pessoas heterossexuais e cisgênero, isso tem um impacto muito grande a pessoa LGBTQIA+ , reforçando a criação de barreiras para esta pessoa se assumir.”
De acordo com Rafaela, ter mais LGBTQIA+ em posições e cargos de liderança é um passo fundamental para que se tenha mais representatividade e maior liberdade de uma pessoa se assumir nestes ambientes.
O que é a bissexualidade?
A bissexualidade é definida como a atração romântica e sexual por dois ou mais gêneros. De acordo com o Manifesto Bissexual, publicado originalmente em 1990, na revista “Anything that moves", a bissexualidade não é binária, ou seja, não se resume a atração por homem e mulher.
Um dos trechos do manifesto, traduzido abaixo, explica como esse rótulo não pode limitar a orientação sexual:
“Bissexualidade é um todo, identidade fluída. Não assuma que a bissexualidade é naturalmente binária ou poligâmica: que nós temos 'dois' lados ou que nós precisamos estar envolvidos simultaneamente com dois gêneros para sermos seres humanos completos. De fato, não assuma que existem apenas dois gêneros. Não interprete nossa fluidez como confusão, irresponsabilidade, ou inabilidade de assumir compromisso.”