As crianças representam a esperança e a pureza. Essas qualidades trazem muitos significados na sociedade, inclusive na religião. No Dia de São Cosme e Damião, comemorado nestes 26 e 27 de setembro pela religião católica e pelas religiões de matriz africana, as crianças são os personagens centrais a serem celebrados.
A Makota Celinha Gonçalves, coordenadora nacional do Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira (CENARAB), ensina que é uma data para celebrar a infância, um dos períodos da vida tão importante para todos. “Cosme e Damião significam a alegria dos nossos terreiros. Na umbanda, eles representam as crianças, no candomblé são os Ibejis, são crianças encantadas. Na verdade, Cosme e Damião são a esperança, pureza, serenidade e tranquilidade”, destaca Celinha.
Para Makota Celinha, as crianças trazem muitos significados para as tradições e costumes das religiões de matriz africana, renovando e alimentando esse sentidos. “Onde tem criança, tem alegria e tem vida. Hoje nós celebramos essas crianças, nós celebramos a infância, a alegria e a pluralidade que elas representam”, aponta Makota Celinha, afirmando o valor e a importância das crianças na vida e na renovação das esperanças.
Para Pai Marcelo,
da Casa do Divino Espírito Santo das Almas (CDESA)
, os costumes de distribuição de doces e balas nesta data são históricos e tradicionais dentro da religião da umbanda e representam o agradecimento às crianças. “Este dia traz o encantamento da vida, a alegria de viver. Sem as crianças, nada disso é possível.”
No entanto, os costumes não param por aí, pois no momento, diversos terreiros também organizam campanhas de agasalho e arrecadação de alimentos para crianças.
Intolerância religiosa
Apesar da data celebrar as crianças e o que elas representam, as tradições do Dia de Cosme e Damião ainda são vistas com muito preconceito no Brasil. Na maioria dos casos, o motivo é a intolerância religiosa. No estado do Rio de Janeiro,
diversos terreiros de candomblé sofreram e sofrem ataques constantes, sendo vandalizados e atacados
.
Para Pai Marcelo, tradições e costumes de religiões de matriz africana sempre foram discriminados no país. “O preconceito maior é entre as religiões evangélicas e entre as pessoas que não tem o conhecimento da nossa religião, por que a umbanda é uma religião espírita, nós acreditamos em um deus do perdão, do amor, da vida, ou seja, um mesmo Deus dos evangélicos e católicos”, diz.
A distribuição dos doces também é vista por muitos como uma prática para desejar o mal. Pai Marcelo menciona que há muitas pessoas que recusam os doces. No entanto, aponta que não há motivos para essa preocupação, pois os doces sempre são preparados com amor, através de orações pedindo a saúde e caminhos abertos a todas as crianças.
*estagiário sob a supervisão de Márcia Maria Cruz