Um levantamento realizado pela Rede de Pesquisa Solidária apontou que a população negra tem mais chances de morrer de COVID-19, independentemente da profissão que exerce. Quando comparados os gêneros, as mulheres negras são mais vítimas do novo coronavírus até mesmo do que os homens negros, sendo o grupo em que mais ocorreram mortes pela doença.
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Com exceção das ocupações consideradas no topo da pirâmide social, as mulheres têm mais chances de contrair o vírus por, muitas vezes, serem responsáveis por cuidar dos filhos ou idosos, tarefas, culturalmente, atribuídas as mulheres. Isso ocorre, mesmo quando o homem está presente na casa. O exercício dessas tarefas impossibilita o distanciamento social, por demandar muito contato físico.
Por enfrentarem desigualdade de gênero combinada com a desigualdade social, as mulheres negras apresentaram o maior número de mortes. Além do papel social de cuidar da casa e da família, a mulher negra encontra outros desafios. O estudo aponta como fatores agravantes: moradias mais insalubres, acesso inadequado à água, dieta com baixa qualidade nutricional, espaços que afetam o estado psíquico, entre outros.
Além disso, o grupo que está na base da pirâmide social apresenta menor taxa de distanciamento físico, maior taxa de segregação racial, o que afeta diretamente a população negra e periférica.
A disparidade social influencia diretamente os níveis de distanciamento social. O trabalho remoto, por exemplo, mostra taxas muito discrepantes de acordo com o nível de formação dos grupos. O grupo com nível superior completo tem uma taxa de 35% de ocupação em trabalhos remotos. Esse valor cai para 6,7%, para aquelas com ensino médio completo, 1,3% para pessoas com ensino médio incompleto e 0,5% para ocupados com ensino fundamental incompleto.
Mulheres negras, com ocupação em serviços domésticos em geral, têm 111,9% mais probabilidade de morrer de COVID-19 do que um homem branco. Na indústria de linha de produção, essa taxa é de 145,5% e que foi listado como “outros profissionais da saúde” as mulheres negras tem uma taxa de óbito 91% superior.
Em comparação com as taxas de mortalidade de um homem branco e um homem negro, ambos com ensino superior, advogados negros tem 42,7% mais chances de morrer de COVID-19. Em profissões como engenheiros, arquitetos e outros profissionais com ensino superior, os homens negros tem 44,0% mais chances de vir a óbito pelo vírus. A área de atuação que apresenta maior disparidade entre os homens está entre os agentes da saúde e do meio ambiente, onde os profissionais negros tem 146% mais chances de óbito.
PANORAMA GERAL DAS PROFISSÕES
O levantamento aponto que em 2020 foram 206.646 mortes por COVID-19. Para o estudo foram reportados apenas os casos em que havia indicação da profissão no atestado de óbito. Dessa forma, entraram no estudo 32,7% do total de mortes pelo novo coronavírus no Brasil no ano passado.
Em números absolutos, os trabalhadores do setor de comércio e serviços são os que mais morreram por COVID-19, com 6.420 mortes registradas. Em seguida temos os trabalhadores da Agricultura, com 3.384, e dos transportes, com 3.367 óbitos.
Já as profissões que tiveram as maiores taxas de mortalidade proporcionais ao total de profissionais da área são Líderes religiosos (44%), segurança (25,4%), saúde (24%), artes e cultura (21,7%) e diretores e gerentes (20,3%).
Em 2020 foram registrados no Brasil 305 mortes de líderes religiosos, sendo que quase a metade delas se deveu à COVID. Segundo o estudo, isso se deve ao decreto presidencial 10.292, de 25 março de 2020, no qual se estabeleceu que as atividades religiosas, de qualquer natureza, estavam no rol das atividades essenciais.
Entretanto, as atividades religiosas geralmente são realizadas em locais fechados e com aglomeração de pessoas, o que torna o ambiente propicio para a disseminação do vírus.
Em segundo lugar, onde vemos os profissionais de segurança, os índices elevados se devem à exposição à população e falta de acesso a EPIs. O terceiro lugar, com os profissionais da saúde, se deve ao contato intenso com pacientes nas unidades de saúde.
* estagiária sob a supervisão de Márcia Maria Cruz