Não é difícil perceber o aumento de pessoas morando nas ruas em Belo Horizonte. Basta andar pelo Centro da capital para ver como as barracas improvisadas se instalam nas calçadas dia após dia. E os números não deixam dúvidas do aumento da pobreza, que levou muitos a viverem de forma precária nas ruas. Uma pesquisa, divulgada em abril pelo Projeto Polos de Cidadania da Universidade Federal de Minas Gerais,
estima que a população em situação de rua em Belo Horizonte chegue a 8.840 pessoas
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Nesse cenário, ter acesso a uma refeição no dia é fundamental para quem não tem quase nada. Mas não é somente a fome que atinge quem está na rua. Essas pessoas também precisam de acolhimento. Eles encontravam no projeto Canto da Rua Emergencial. No enanto, na última segunda-feira (27/09), completou um mês do encerramento das atividades do projeto.
Criada durante a pandemia, a iniciativa durou apenas um ano, contribuindo com a assistência a moradores da capital. Após um mês, o fechamento já traz impactos no cenário de auxílio e apoio em BH.
Durante seu tempo de atividade, o Canto da Rua Emergencial, que tinha mais uma equipe de 60 pessoas, além de profissionais voluntários, recebeu cerca de 755 pessoas por dia. Foram realizados mais de 250 mil atendimentos de acolhimento, atendimento técnico psicossocial. Também foi oferecido acesso a espaços e materiais para higienização, banho, lavagem de roupas e lanche.
Atividades que parecem simples, mas que fazem a diferença no cotidiano de qualquer um. Sem essa assistência, diversos moradores passaram a depender de outras formas de auxílio em seu dia-a-dia. A assistente social Claudenice Rodrigues, umas das integrantes do Grupo Gestor do Canto da Rua Emergencial, comenta que bens básicos como água e alimentação eram oferecidos pelo projeto, mas que agora estão se tornando muito buscados em outros espaços da cidade.
Para Claudenice, o encerramento do projeto fez com que diversas pessoas ficassem sem esses espaços de referência de atendimento e acompanhamento na capital.
“A lógica de atendimento do Canto da Rua era diferenciada e foi referência para muitas pessoas por mais de um ano. Nessa perspectiva, além de todos os tipos de atendimento e acolhimento, o espaço proporcionou uma série de atividades para a saúde e redução de danos, que fez muita diferença por meio das oficinas e das rodas de conversa”, diz a assistente social.
Claudenice comenta que o espaço ofereceu muito mais do que o atendimento planejado, mas também foi para muitos um lugar de acolhimento, em que tinham atividades e tarefas para ocupar o tempo.
Atualmente, a assistente social também destaca que uma das opções de assistências são os Centros de Referência da População em Situação de Rua, conhecidos como Centro Pop. Desde o início da pandemia, esses locais aumentaram os atendimentos a pessoas vulneráveis na cidade.
Para Claudenice, os Centros Pop são uma conquista para a sociedade, mas que ainda são insuficientes para atender as demandas da capital, necessitando de pensar em práticas mais humanizadas.
A Prefeitura de Belo Horizonte informou, em nota, a possibilidade de assistência nos Centros Pop e que o projeto Canto da Rua Emergencial tinha um prazo de validade que foi cumprido.
*estagiário sob a supervisão de Márcia Maria Cruz