O 10 de outubro, Dia Mundial da Saúde Mental, é dedicado à defesa da saúde mental, conscientização e luta contra o estigma que pessoas com doenças mentais enfrentam. Segundo Margaret Chan, ex-diretora-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), “boa saúde mental permite que as pessoas realizem seu potencial, lidem com o estresse normal da vida, trabalhem produtivamente, e contribuir com suas comunidades.”
A campanha Setembro Amarelo, que combate o suicídio, divulgou em seu site que cerca de “50% a 60% das pessoas que morrem por suicidio nunca se culsultaram com um profissional de saude mental ao longo da vida”. Tal dado mostra a necessidade de criar espaços de discussão sobre a saúde mental e desconstruir a idéia de que quem sofre de problemas mentais é “fraco” e fica à parte da sociedade.
Desequilíbrios na saúde mental podem afetar até aqueles que veem o mundo em forma de poesia. No movimento Slam, a questão da militância se faz muito presente e se tornou um espaço democrático para a exposição das vivências das minorias. Mas tal militânica, que é necessária, pode pesar para os poetas, e pensando nisso foi criado o Coletivo Apuama.
Gislaine Reis, poeta e uma das organizadoras do Apuama declarou que “a gente escreve tanto, fala tanto, levanta tantas bandeiras e defende com unhas e dentes tanta coisa, que querendo ou não a gente fica sobrecarregado”, e completa “Não é porque eu falo de racismo que eu não sofro racismo, não é porque eu falo da força da mulher negra que eu não vou chorar em casa muitas das vezes”.
O coletivo foi criado em janeiro de 2019, e são responsáveis pela organização das atividades do duelo de MC’s Batalha da Rocha e do Slam Trincheira. Seu nome, Apuama, vem do Tupi-Guarani e siginifica: aquele que não para em casa, que tem correnteza, que é veloz. Apesar disso, para Carol Oliveira, integrante do coletivo, declara “Eu estou há quase três anos no coletivo e eu acho que apesar do Apuama ser isso de não estar em casa, eu me sinto em casa em todos os lugares que ele atua”.
Amar é um ato de resistência
Antes da pandemia, o coletivo ia a batalhas de MC’s e saraus recitar sobre a saude mental do poeta e provocar reflexões, principalmente na região oeste de Belo Horizonte. “Para ver o quanto que pro poeta ficou essa questão da militância que ele esqueceu que só o fato de você amar, já é uma resistência”, diz Gislaine.
Segundo o também organizador do coletivo, João Victor Gomes, muitas pessoas levam a competição do Slam muito a sério, visando escrever pensando em ganhar a nota 10, enquanto para ele a “Poesia é sentimento e é pra ter o sentimento, é para ser poesia, não é sobre esse rolê de ser uma competição”.
O Apuama promove um espaço de acolhimento e escuta, e caso seja necessário, fazem a ponte entre os poetas e os profissionais capacitados. Para além dos poetas, eles atingem pessoas que acompanham os saraus e slams, e muitas vezes também tem questões que não sabem lidar, e são incentivadas a colocar seus sentimentos no papel, trasnforma-los em texto ou poesia.
O poeta Fabrício Santos, conhecido como F4, reflete “O coletivo é como um abrigo, eu vou para lá, vou conversando, interagindo, penso na vida, fico imerso e volto melhor do que eu cheguei”.
Devido a pandemia, as ações do coletivo ficaram mais restritas e se voltaram para si mesmos, trazendo os questionamentos para dentro do próprio Apuama, mas com a volta das atividades e da possibilidade de encontros presenciais, o objetivo é ampliar o alcance e acolher cada vez mais poetas, criando uma grande rede de apoio.