Jornal Estado de Minas

ARTE URBANA

Grupo de grafiteiras espalha cor e representatividade em BH

O grupo Minas de Minas foi criado em 2012 e reúne as grafiteiras Krol, Viber, Musa e Nica com o objetivo de fortalecer as mulheres no grafite e trazer transformação para Belo Horizonte.  As quatro artistas mantêm seus trabalhos individuais, com seus estilos próprios, mas quando se juntam o foco é trazer representatividade e exaltar a figura feminina.



O grafite surgiu na década de 1970, nos Estados Unidos, como forma de expressão artística de luta contra a opressão social na periferia, e no início era associada ao vandalismo. Apesar de hoje em dia muitas pessoas ainda verem o grafite com maus olhos, ele vem sendo cada mais reconhecido como arte e ganhando visibilidade em novelas, programas de TV e festivais como o CURA – Circuito Urbano de Arte.

Diferente da arte tradicional e exposta em museus, que está confinada em espaços específicos, o grafite está nas ruas, aberta para todos e não escolhe quem a vê ou quem a visita. Um espaço modificado pela arte não passa despercebida por quem passa por ali, tocando das mais diversas formas o cotidiano dos transeuntes.  

A publicitária e agente cultural Carolina Jaued, a Karol, está no grafite desde 2007 e declara que sendo uma arte que tem livre interpretação, ela se torna um meio de usar certos temas, e até um certo tipo de protesto, para trazer reflexão. "O grafite muitas vezes é para incomodar, para retratar algo e trazer um questionamento, e nada melhor do que a rua, onde passa todo mundo, para colocar essas reflexões”, complementa.

A mulher no grafite

Apesar de ter sido reconhecida como arte e ganhado visibilidade nas cidades, o grafite ainda é um ambiente machista no qual as mulheres lutam para ganhar seu espaço, e a formação do grupo cria um apoio mútuo para se protegerem.

“O machismo infelizmente está presente em todo lugar, e no grafite não seria diferente, e é difícil estar na rua sozinha. Pensando nisso é que a gente acaba levando a diante a ideia de que é importante as mulheres se juntarem e criar uma rede de informação, de proteção, de amizade e de criação”, explica Lidia, a Viber.



As situações vão desde descredibilizar uma obra por ter sido feita por uma mulher, brincadeiras referentes aos temas que serão retratados com frases como “vai pintar florzinha”, até mesmo se sentirem no direito de pegar o material de trabalho sem permissão ou tocar no corpo das artistas. 

Nós podemos tudo

Um dos principais projetos do Minas de Minas é o “Nós podemos tudo”, em que retratam mulheres importantes, que tenham história de resistência ou efeito de transformação na sociedade como forma de manter suas trajetórias vivas. “A gente traz essas mulheres não só por serem importantes ou famosas, mas como uma mulher que tem uma história. A gente conta a nossa história contando outras histórias”, conta Karol.

Personalidades da música como Alcione e Iza aparecem lado a lado em um painel no Bairro Liberdade. A atriz Teuda Bara, uma das criadoras do Grupo Galpão, é homenageada no Centro de Referência das Juventudes (CRJ). O último trabalho realizado pelo grupo foi um painel exaltando o trabalho de Lélia Gonzales, autora e filósofa belo-horizontina pioneira nos estudos sobre a cultura negra no Brasil e uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado (MNU). 



Talvez o mais conhecido painel do Minas de Minas seja o da cantora Elza Soares, na Praça da Estação. As redes sociais possibilitaram contar um pouco da história de cada painel, a identificação das artistas e a comunicação com quem admira as obras. Krol e Viber contam que o grupo recebeu relatos de pessoas que choraram emocionadas ao ver o painel da Elza, e até pessoas que vem de outras cidade e estados para ver o grafite.

A cidade é delas

Outro projeto importante realizado pelo Minas de Minas é o festival “Delas”, que anualmente convida grafiteiras de Belo Horizonte para realizar painéis por toda a cidade, criando projetos em conjunto. O festival traz a potencialização da força da mulher grafiteira e realiza oficinas e workshops para divulgar a arte do grafite, ensinando a quelas que tem interesse em entrar para o movimento.

Viber hoje vive da arte e é a responsável pelas oficinas do projeto."Ensinar é muito precioso porque o conhecimento que a gente tem é uma coisa que levamos por toda a vida. Isso aliado à nossa capacidade de criação é muito bonito”, comemora.

A edição desse ano contou com patrocínio da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais e foi financiado pela Lei Aldir Blanc. Realizado online, o evento possibilitou a participação de artistas de outros estados e países, se tornando uma edição internacional.