O abolicionista Alforriado Matias desempenhou papel fundamental na luta contra a escravidão na região do Barreiro. Muita gente não o conhece, porque o nome dele foi apagado da história de uma das regiões mais populosas e importantes de Belo Horizonte. No entanto, o legado de Matias foi resgato em duas ações: uma intervenção urbana em que o nome dele foi colocado em placas e o lançamento de um documentário que conta a história do abolicionista.
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Negras raízes: exposição destaca a história e o trabalho de trancistasOcupa Minas: exposição exalta trabalho literário de mulheresBlack Power: Faculdade de Medicina da UFMG oferece toucas para cabelos afroAlforriado Matias, abolicionista do Barreiro, receberá Honra ao MéritoCultura negra: a relação entre negritude e cultura será debatida em evento Txai Suruí: quem é a indígena que representou o Brasil na COP-26?As placas que sinalizavam a Avenida Sinfronio Brochado, nomeada em homenagem ao filho do Major Cândido Brochado, foram adesivadas e renomeadas como Avenida Alforriado Matias, em comemoração ao dia em que ocorreu o ato de justiça.
“É a população do território contando a própria história, não tem uma perspectiva europeia, ou de outros. É a perspectiva do próprio lugar”, afirma Marlon.
O mini documentário sobre o abolicionista Alforriado Matia será lançado nesta quarta-feira (03/11) no canal do Instituto Alforriado Matias no Youtube. Realizado pelo Instituto Alforriado Matias, o documentário traz histórias de resistência de pessoas ligadas a causa negra, entre elas as dos produtores culturais Ayobami Nombuelo e Marlon Andreata, do artista Maurício Tizumba e da vereadora Iza Lourença.
“É muito doido, até hoje quando fazem um documentário do Barreiro, eles até incluem o Matias no começo, mas ai passa do Matias e passa só branco aparecendo, e é surreal como as pessoas não conseguem ver esse apagamento”, declara Marlon.
O documentário busca, além de mostrar a história do Matias, que influenciou o curso da história do Barreiro, resgata a importância da população negra da região, que sofreu com o apagamento de suas vozes em detrimento de narrativas focadas em protagonistas brancos.
ALFORRIADO MATIAS
Alforriado Matias foi um negro escravizado, no século xIX, que trabalhava na Fazenda Barreiro, que dá nome à atual região, que pertencia ao Major Cândido Brochado, líder do Partido Conservado Municipal. Brochado havia lhe prometido a alforria, porém Matias foi vendido, perto da Lei do Sexagenário entrar em vigor com idade superior a sessenta anos, o que o levou a fugir e jurar vingança contra o Major.
Matias se abrigou na mata, próximo à fazenda Barreiro, com a ajuda de mulheres escravizadas que trabalhavam na casa de Brochado. Essas mulheres informaram Matias sobre uma visita do Major a Freitas, atual região da Pampulha, e assim ele pôde armar uma emboscada e concretizar seu juramento de vingança contra seu algoz. Posteriormente Matias foi preso e encontrado morto em uma prisão em Ouro Preto, possivelmente, vítima de torturas.
Recentemente, foi descoberto o dia em que Matias realizou sua vingança, através de documentos que registraram a morte de Cândido Brochado, sendo em 30 de outubro de 1877. Após essa data, se sabe que muitos escravizados da Fazenda Barreiro foram libertados, mas os detalhes de como isso ocorreu ainda não foram descobertos.
INSTITUTO ALFORRIADO MATIAS
O Instituto Alforriado Matias é uma plataforma, que visa acelerar e conectar produtores culturais para democratizar cultura por meio da valorização da produção cultural na região do Barreiro.
Idealizado pelos produtores culturais Marlon Andreata e Ayobami Nombulelo, o instituto teve início com o festival MABAM (Mostra Afro Barreiro Alforriado Matias), que realizou sua quinta edição em 2021. O festival conectou profissionais da área de economia, empreendedorismo e tecnologia, com o objetivo de reunir e valorizar o empreendedorismo negro.
*estagiária sob a supervisão de Márcia Maria Cruz