No sábado (6/11), durante o velório da cantora Marília Mendonça, Ruth Dias foi fotografada ao lado do caixão da filha amparada por um homem negro, que diversos veículos identificaram como segurança. Entretanto, o homem ao lado da mãe enlutada é seu marido Deyvid Fabricio.
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“Está tão dado no imaginário popular que o negro está ali em uma situação servil, que ninguém enxergou ali um homem. Ali se enxergou única e exclusivamente sua corporeidade enquanto negro, então tira totalmente a humanidade daquela pessoa”, analisa Etiene Martins, pesquisadora de ralações raciais pela UFJR.
Etiene declara que existe na nossa sociedade uma hierarquia, na qual as pessoas negras nunca estão em uma posição de igual. Um corpo negro é enxergado em espaços de subserviência, nunca como protagonistas da própria história, e são colocados à margem da sociedade.
“É um exemplo explícito de o que é o racismo na nossa sociedade. A gente tenta construir um mito da democracia social, na qual todas as pessoas são iguais, mas a gente consegue perceber, a partir da avaliação que as pessoas fazem, que duas pessoas negras em um velório de uma pessoa famosa só poderia estar lá para servir, e jamais para poder homenagear, jamais para poder ser um amigo e estar na mesma hierarquia que as pessoas brancas”, explica Etiene.
Em relação ao equivoco, a pesquisadora afirma que quando se questiona situações similares, a questão é considerada de menor valia. Entretanto é esse tipo de preconceito, e consequentemente o racismo, que leva ao genocídio da população negra no nosso país, uma vez que o mesmo equívoco que aconteceu no velório de Marília, acontece nas ruas, com corpos negros sendo confundidos com bandidos.
“É extremamente violento essa leitura que se faz”, declara Etiene, que completa: “a gente coloca como se não tivesse valor nenhum, mas é uma violência constante, continua e cruel e o resultado dela custa a vida de pessoas negras, principalmente homens negros”.
*estagiária sob a supervisão de Márcia Maria Cruz