A jovem indígena Txai Suruí foi a única representante brasileira a discursar na COP-26, na segunda-feira (1º/11), na cidade de Glasglow. Txai destacou que os povos indígenas têm ideias para adiar o fim do mundo. A frase marcante, na realidade, faz referência ao livro “Ideias para adiar o fim do mundo” do escritor Ailton Krenak sobre atitudes e mudanças que podem contribuir para a conservação d o meio ambiente. A obra deu origem a uma série de vídeos chamada “Flecha Selvagem”, também realizados por Ailton Krenak.
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Kilombo Manzo Nzungo completa três anos como patrimônio imaterial de MGSexta Preta: série de lives dará visibilidades a empreendedores negrosTxai Suruí: quem é a indígena que representou o Brasil na COP-26?"O modo de funcionamento da humanidade entrou em crise", opina Ailton Krenak Artes e ofícios: curso gratuito promove saberes tradicionais de IfáCOP-26: grupos denunciam efeitos socioambientais a pessoas negras no Brasil Tudo isso, visando mostrar caminhos para a garantia da preservação da natureza, uma das formas de impedir o avanço das mudanças climáticas. Até o momento, são três vídeos, com média de 12 minutos. A primeira publicação foi em maio deste ano, passa pela discussão sobre DNA e código genético, a partir das histórias tradicionais sobre a canoa cobra e da serpente cósmica.
Com muitas cores, desenhos, formas, sons e narração do próprio Ailton, os vídeos são apresentados de forma educativa e lúdica. Uma das principais críticas refere-se à relação da humanidade com a natureza.
Para Ailton Krenak, o ser humano parece não reconhecer os valores, a história e a importância dos bens e dos elementos naturais. Uma dessas ações de não valorização seria as práticas de desmatament, de exploração da floresta e dos rios. Ailton destaca que a “humanidade não reconhece que aquele rio que está em coma é também o nosso avô”.
Em 2020, em entrevista para o Estado de Minas, Ailton Krenak destacou como existem povos considerados como sub-humanizados, como os indígenas, quilombolas, população ribeirinha, que são excluídos e marginalizados pela considerada humanidade. Para Ailton, “os únicos núcleos que ainda consideram que precisam ficar agarrados nessa terra são aqueles que ficaram meio esquecidos pelas bordas do planeta, nas margens dos rios, nas beiras dos oceanos, na África, na Ásia ou na América Latina”, destacou sobre o povos sub-humanizados.
Ailton Krenak
Ailton Alves Lacerda Krenak é uma das importantes lideranças indígenas no país. Nasceu em Minas Gerais, na região do Vale do Rio Doce, no ano de 1953. Desde cedo, participa da luta dos povos originários, defendo terras, o meio ambiente e a relação de respeito com a natureza.
Em 1987, na Assembleia Constituinte, encontro para a elaboração da nova Constituição Brasileira após a Ditadura Militar, Ailton Krenak discursou sobre os povos indígenas e pintou seu rosto de preto, em forma de protesto contra a exclusão e falta de direitos dos povos originários no Brasil. As imagens rodaram o mundo e denunciaram o descaso, a violência e o retrocesso sofrido pelos povos indígenas no país.
É poeta, escritor, ambientalista, produtor gráfico e jornalista. Ajudou na construção de movimentos indígenas pelo país. Foi da escrita que surgiu a obra “Ideias para adiar o fim do mundo”, lançada em 2019. Na região da Serra do Cipó, em Minas Gerais, Ailton Krenak contribui com a realização do Festival de Dança e Cultura Indígena, desde 1998.