Pela primeira vez na história da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), na seção Minas, uma mulher se candidata à presidência da instituição. Carla Silene, advogada criminalista, doutora em Direito Penal e professora do IBMEC, se apresenta ao cargo com a proposta de criar uma OAB mais transparente e democrática para Minas pela chapa Nossa OAB. A votação ocorrerá no dia 27 de novembro.
“Foi olhar para aquela instituição, me sentir insatisfeita e olhar para o que se avizinhava, no sentido das chapas que se apresentavam, e não me sentir representada”, afirma. Ela destaca que uma mulher assumir a presidência é uma possibilidade de mudança.
A Ordem dos Advogados do Brasil, seja em âmbito nacional ou estadual, é ainda uma instituição historicamente liderada por homens. A primeira mulher a se formar advogada foi Myrtes Gomes de Campos, em 1898, 75 anos depois do primeiro homem a se tornar advogado.
Fruto da revolução de 1930, que deu início à Era Vargas, a OAB Nacional foi presidida por 36 homens. Já a OAB/MG contou com 22 presidentes, todos homens e alguns em mais de um mandato, desde sua criação, em 1932.
A mudança gradual, de inserção e expansão na atividade da advocacia por mulheres, atualmente ganha força e conta com mulheres em diversos cargos de poder, inclusive Carmen Lúcia como ministra do Supremo Tribunal Federal. “Nos lugares que as mulheres já conseguiram algum acesso, é necessário que elas também estejam à frente para que haja uma consolidação de fato desse respeito, uma paridade real”, afirma Carla.
Entretanto, a conquista do espaço feminino na OAB é relativamente recente. A primeira mulher eleita para a presidência de uma seção foi Fernanda Marinela, pela OAB de Alagoas, em 2015. Carla Silene busca marcar a história da OAB em Minas, com o lema “Porque a mudança precisa ser real e a OAB precisa ser de todos”.
“Eu encontrei uma movimentação nacional de mulheres, que se apresentam como candidatas nas seções, e querendo ou não, isso fortaleceu minha candidatura.” Carla informou que nenhuma outra mulher se apresentou para participar da disputa.
Carla acredita que, mais do que criar comissões, é preciso escutá-las e ter atitudes inclusivas concretas. “O ideal ao meu entender é que daqui algum tempo essa comissão não exista, porque ela estará inserida dentro do sistema de tal forma que você não precisa criar um grupo separado”.
Entre as propostas, ela defende a diversidade, visando fomentar a participação LGBTQIA, a representatividade, a diminuição da desigualdade de gênero e raça e criando políticas de inclusão assim como preferência em fóruns e tribunais para advogados deficientes.
Há também ações voltadas especificamente para as mulheres, como a proposta de implementação de acolhimento para advogadas vítimas de violência doméstica, de forma que a instituição providencie um local seguro longe do agressor. Além disso, a chapa busca a paridade entre homens e mulheres e propor que gestantes, e mães com filhos pequenos tenham preferência nas sustentações orais.
*estagiária sob a supervisão de Márcia Maria Cruz