Uma professora, que a identidade não foi revelada, foi afastada de uma turma de ensino médio do colégio Vitória-Régia, localizado no bairro Cabula em Salvador, depois de indicar para os alunos o livro Olhos d'água, de Conceição Evaristo. O episódio, que repercutiu nas redes sociais, ocorre em novembro, mês da consciência negra.
O livro reúne 15 contos que apresentam situações de violência enfrentadas por mulheres negras, como miséria e exclusão social. Conceição é uma das escritoras mais importantes da literatura brasileira com obra reconhecida e indicada por professores de literatura de todo o Brasil.
A obra da escritora mineira é objeto de diversos estudos acadêmicos. Parte deles reunidos no livro 'Escreviências - Identidade, gênero e violência na obra de Conceição Evaristo" (Editora Idea), organizado por Constância Lima Duarte, Cristiane Côrtes, Maria do Rosário A. Pereira. As organizadoras destacam a importância da literatura de Conceição ao revelar vivências de mulheres negras.
Em nota, o colégio confirma que a professora foi afastada da turma. No entanto, nega que tenha ocorrido por motivos raciais. A alegação é que os familiares se sentiram desconfortáveis com a obra "por acharem a linguagem inapropriada para a faixa etária". O afastamento da professora, conforme nota do colégio, ocorreu depois de ela fazer um post, nas redes sociais, sobre a decisão da escola de afastá-la atendendo a pressão de algumas famílias.
"Alguns alunos e seus respectivos familiares não se sentiram confortáveis com a obra por acharem a linguagem inapropriada para a faixa etária, nos termos da Lei nº 8.069/90. Assim, os familiares comunicaram à direção do Vitória-Régia as suas insatisfações relativas ao vocabulário (palavrões, narrativas reais de violência, etc), o que imediatamente foi comunicado à professora da disciplina para encontrar novo viés para a abordagem da atividade", diz a nota.
A direção do colégio afirma que a professora continua ministrando aula em outras três turmas, no entanto, foi afastada da turma em que houve reclamação dos pais dos alunos. A nota evidencia que a educadora está na instituição, há 17 anos, mas ainda assim foi afastada de uma turma pela indicação de um livro de uma autora negra.
Nas redes sociais, o episódio foi apontado como reflexo do preconceito, uma vez que a narrativa trata de história de mulheres negras.