Laila Suzigan é atleta de natação e estudante do curso de nutrição da Faculdade Pitágoras e Allef Cristian Gonçalves Santos, estudante do curso de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) são exemplos de como a educação inclusiva pode gerar frutos. No ensino superior, alunos com deficiência ingressam em cursos de graduação e pós-graduação e questionam a acessibilidade e a inclusão propostas pelos ensinos.
Allef Cristian tem o sonho de se tornar professor e dar aulas na mesma universidade em que estuda atualmente, ajudando a contribuir, futuramente, com o ensino de outros alunos surdos.
Allef é uma pessoa surda, o primeiro de sua família a ingressar em uma instituição federal de ensino. O estudante entende que vai ser preciso estudar e se dedicar muito para contribuir com a qualidade e as estratégias de ensino a pessoas surdas.
No entanto, Allef vem enfrentando diversas dificuldades no momento de sua aprendizagem. A universidade oferece intérpretes de Libras para todas as aulas, que possuam alunos surdos ou com baixa audição. Apesar disso, Allef diz que ainda faltam mais intérpretes para realizar a tradução de conteúdos do português para a Libras em outras atividades escolares.
Além disso, com o ensino remoto e as dificuldades do aprendizado à distância, Allef também faz críticas à rotina de atividades e tarefas na universidade.
“Tenho um pouco de dificuldade para ler, sem adaptação, sem conviver com os colegas para tirar as dúvidas, sem traduzir as informações do português para a Libras é impossível, não vou conseguir desenvolver”, comenta Allef.
No Brasil, mais de 45 milhões de pessoas possuem alguma deficiência, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número representa, atualmente, 25% da população brasileira. Também de acordo com o IBGE, apenas 32% das PcD no Brasil possuem ensino fundamental completo.
“É muito importante para os surdos o intérprete de Libras durante as aulas para que consigam entender melhor, também é uma estratégia de qualidades para que eles aprendam o tipo de simultânea”, diz Allef, comentando sobre a importância de ter a tradição simultânea durante as aulas. Para o estudante, seria impossível o aprendizado dos conteúdos sem um intérprete.
Os recursos inclusivos também são propostos nos vestibulares de ingresso à universidade. O Enem 2020, por exemplo, teve mais de 6,1 milhões de inscrições no geral, com 47 mil realizando a prova com atendimento especializado. Este formato contém acessibilidade de recursos.
Nestes casos, a inclusão é realizada nos formatos das provas, com adaptações no tamanho da fonte, por exemplo, na duração do tempo máximo do vestibular ou nas cadeiras e carteiras das salas. Além de pessoas com deficiência, também inclui idosos e gestantes e pessoas que estão amamentando.
EDUCAÇÃO ALIADA DA PROFISSÃO
Laila Suzigan é atleta de natação e estudante do curso de nutrição da Faculdade Pitágoras. Aos 17 anos, a jovem foi diagnosticada com paraparesia, uma condição que afeta as capacidades de movimentação e locomoção, atingindo principalmente as pernas.
Encontrou a paixão pela natação, esporte no qual se tornou atleta profissional disputando competições nacionais e internacionais. Laila é medalhista de bronze nas Paralimpíadas de Tóquio 2020, no revezamento misto 4x50.
Para Laila, a educação inclusiva é um caminho fundamental para o ensino de PCDs. “É de suma importância ter essa educação inclusiva pois é uma forma das pessoas sem deficiência interagir e conhecer a realidade de uma PCD e entender que também temos uma vida, queremos um bom emprego, temos sexualidade”, comenta Laila, mencionando também a importância da educação inclusiva para que as pessoas compreendam que todos são diferentes e que isso não é um problema.
A opção pelo curso de nutrição veio pelo grande interesse em aprender e atua na área e também pela oportunidade em relacionar os estudos com sua carreira como atleta de alto rendimento. A atleta menciona que o interesse por um curso não pode ser interrompido por causa da deficiência da pessoa. “Ninguém pode e ninguém tem o direito de limitar ninguém. Não deixe que ninguém limite suas vontades”, diz Laila.
CAMINHOS POSSÍVEIS
O Dia Internacional da Pessoa com Deficiência foi definido na Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1992. Seu principal objetivo é promover mais compreensão da sociedade sobre a importância da igualdade e da inclusão de pessoas com deficiência em aspectos sociais, educativos, culturais e econômicos.
No Brasil, esse foi um dos principais marcos na criação de práticas de inclusão como a Lei Brasileira de Inclusão (LBI). Também conhecido como Estatuto da Pessoa com Deficiência, o documento é “destinado a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania”, como é destacado no primeiro artigo do Estatuto.
No documento, são apresentados alguns direitos fundamentais a serem garantidos na sociedade como o direito à vida, à habilitação e reabilitação das capacidades e habilidades, à saúde, à educação, à moradia, ao trabalho, à cultura, ao esporte, ao turismo e ao lazer, ao transporte e à mobilidade, à assistência social e à previdência social.
No direito à educação, por exemplo, são assegurados métodos e práticas de aprendizados sem discriminação, que ofertem educação em português na Língua Brasileira de Sinais (Libras), no caso de pessoas surdas ou com baixa audição. Além disso, a LBI também menciona o acesso e a permanência de estudantes com deficiência em todas as atividades, tarefas e espaços do ambiente escolar.
Dentre os fatores de permanência e garantia de direitos a PCD na educação, Allef destaca que a presença dos colegas também é fundamental para seu aprendizado, pois muitos contribuem com suas dúvidas e dificuldades com a língua portuguesa. O estudante completa dizendo sobre a importância do respeito no ambiente de educação, com a garantia de interação com os intérpretes e com outros alunos.
“É muito importante estar com os colegas para me ajudar e ensinar as informações, pois tiro as dúvidas com eles, e consigo crescer, aprender e conviver melhor com os colegas”, diz Allef.