Foi publicado na terça-feira (14/11), o estudo “Pele alvo: a cor da violência policial” que reuniu dados de sete estados brasileiros e revela que, em todos eles, o grupo que mais morre em ações policiais é a população negra. Juntando todos os estados, uma média de seis pessoas negras são mortas por policiais todos os dias.
“A gente precisa de dados e de informações para que a gente consiga formular uma política pública eficiente e também para poder criticar caso ela não esteja sendo eficiente. Dados são centrais para que possamos ter uma boa gestão das políticas públicas e dos recursos do Estado”, declara Pedro Paulo da Silva, pesquisador do CESEC.
A COR DA VIOLÊNCIA
Em 2020, foram 2.653 mortes, com a cor da pele registrada, provocadas pela polícia nos seis estados da Rede e 82,7% delas são pessoas negras. Em números absolutos o Rio de Janeiro é o estado que possui o maior número de pessoas negras mortas e SP, estado mais populoso do país, aparece em segundo.
Porém, o estudo mostra a proporção de mortes de pessoas negras em relação à população de mesma cor. Desse modo a Bahia apresenta a maior porcentagem de negros mortos por agentes, com 98%. Ao analisar as capitais, os dados de Salvador, Fortaleza e Recife mostram que 100% dos mortos em ações policiais são negros. Também é revelado que, no Ceará, pessoas negras têm sete vezes mais chances de morrer que não negros.
RACISMO, A BASE DO PROBLEMA
“Eu, Pedro, diria que o racismo é, em sua base, a desumanização das pessoas negras”, afirma o pesquisador. “Quando a gente pontua que a letalidade policial no Brasil é predominante em relação as pessoas negras, isso significa dizer que a população negra é desumanizada”, completa.
Pedro explica que a desumanização vem desde a genealogia da palavra “negro”, que inicialmente diz respeito a um objeto ou a um corpo, não a um ser humano, até a comparação de negros com macacos, no sentido de animalizá-las, como um não-humano por não ter a pele branca. Tal colocação possibilita que narrativas violentas e segregacionistas ganhem força, uma vez que os direitos básicos da população negra não são plenamente garantidos.
“É uma conexão entre as duas coisas, entre o inimigo e o desumano, porque ele é ao mesmo tempo o inimigo, então ele deve ser morto, e um desumano, então por isso ele pode ser morto. Então a população negra ela é ao mesmo tempo o que pode e o que deve ser exterminado para que a população brasileira consiga sobreviver”, declara Pedro.
O PODER DA NARRATIVA
Uma vez que o racismo no Brasil não passou por uma política explicita de segregação como o Apartheid na África do Sul, há uma ilusão de um Brasil miscigenado e inclusivo, levando o racismo a ser suavizado e relegado a um problema de segundo plano.
A força que movimentos como o “Black Lives Matter” (Vidas Negras Importam, em português) ganhou em todo o mundo e a midiatização de situações de racismo e violência policial no Brasil, são importantes avanços pra a visibilidade e debate do problema.
“Quando a gente começa a ter essa movimentação, a narrativa começa a entrar em choque, a gente consegue avançar uma outra narrativa e um outro discurso de que sim, o problema de violência, ele é racial”, declara Pedro.
Para o pesquisador, o problema policial e a militarização da polícia são consequências do racismo, que ainda não é completamente compreendido pela população brasileira. Sendo assim, o primeiro passo é o reconhecimento de que o racismo está presente em todas as esferas da sociedade e sua total compreensão, para então encontrar uma solução.
*estagiária sob a supeervisão de Márcia Maria Cruz