O funk ostentação "Na onda do berimbau", do MC Menor MT e DJ Eduardo, está sendo duramente rechaçado por capoeiristas por sexualizar o corpo da mulher e desvalorizar a capoeira. A composição dá uma conotação erótica ao berimbau, instrumento que é a base da musicalidade dessa arte popular. Outro ponto bastante criticado foram capoeristas que aparecem jogando e tocando, no vídeoclipe da música .
"A letra com palavras obscenas desqualifica as mulheres e a capoeira em si", afima a capoeirista Dai Sombra, do coletivo QuilombUnido. A capoerista, que desenvolve um trabalho de capoeira voltado para o protagonismo das mulheres, destaca que há trabalho de anos para que os corpos das mulheres não sejam sexualizados na capoeira. "Temos que estar atentas, porque para chegar a essa escala tem que haver uma abertura de dentro, onde o corpo feminino é sexualizado com frequência", pontuou.
O videoclipe gerou diversas críticas nas redes sociais e movimentou os bastidores dos grupos de capoeira. Marcelo Santos, o mestre Pulmão, afirmou que a música desvaloriza as mulheres e todo o trabalho que tem sido feito para dar um fim ao machismo nesse meio. Presidente o Centro de cultura brasileira, mestre Pulmão criticou o vídeo e convidou o mestre Ivan para que pudesse se explicar sobre as razões que o levaram a participar do videoclipe.
No videoclipe, aparece o mestre Ivan e outros capoeiristas jogando e tocando berimbau. "Teve uma falha nossa de não entender o contexto do que a gente havia sido chamado para fazer", reconheceu mestre Ivan. Alvo de críticas por ter aceitado participar da gravação, ele afirmou que topou sem ter lido a letra da música antes.
Ja em sua conta nas redes sociais, o MC informou em um comunicado nas redes sociais que pretende retirar o clipe do ar. "Não fiz a múdica pensando em capoeira. Fiz a música do berimbau", escreveu. Segundo ele, a ideia de colocar imagens de capoeiristas jogando foi do diretor do clipe. "Eu sinceramente não tinha maldade alguma sobre o respeito à capoeira", escreveu o MC.
Na capoeira angola, os praticantes adotam como procedimento a uniformização como forma de evitar a erotização dos corpos dos homens e das mulheres. Quando optam por cobrir o corpo, os angoleiros entendem que o foco, durante a roda, será no jogo.
Mestre Ivan foi vinculado ao grupo Cordão de Ouro. Em junho do ano passado, capoeiristas denunciam que mestres do Grupo Cordão de Ouro cometeram abusos contra crianças e adolescentes desde a década de 1970. A denúncia foi apresentada pelo Ministério Púlico do Ceará, que investigava denúncias de abuos e estupro de vulnerável realizados por mestre do grupo.