A 22ª edição do Big Brother Brasil estreou nessa segunda-feira (17/1) com a casa incompleta. Três participantes do Camarote, Arthur Aguiar, Jade Picon e Lina Pereira dos Santos, a Linn da Quebrada, positivaram para a COVID-19 pouco antes do início do programa e tiveram que esperar alguns dias para conhecer os demais brothers, o que ocorreu somente nessa quinta-feira (20/1).
Dentro da casa
Durante a madrugada desta sexta-feira (21/1), o brother Rodrigo Mussi, lembrando de uma história contada pelo colega Eliezer, soltou a fala: “Eli, estou tentando dormir, mas estou lembrando do pinto do ‘traveco’ que você ficou com medo”. Imediatamente, foi repreendido por Vinicius e Maria e pediu desculpas, mas não conseguiu dormir e foi para a área do jardim conversar com outros participantes.
Após Rodrigo relatar o que aconteceu, Bárbara pergunta se os termos “travesti” e “traveco” são a mesma coisa. Os demais brothers dizem que ele está aprendendo e recomendam Rodrigo a falar diretamente com Linn, que poderia explicar os termos com mais propriedade . “Amanhã você pede uma aula para a Linn”, diz Paulo.
Além desse caso, também ocorreu, mais de uma vez, de tratarem Linn da Quebrada no masculino, ignorando a forma como ela se apresentou. A artista tem, literalmente, o pronome feminino tatuado na testa.
Durante o almoço, Linn pede a pimenta na mesa e Eslovênia dispara “é para ele”. Imediatamente é respondida apenas com “é ela” e o assunto morre. Posteriormente, Eslovênia conta a história para Lucas vilanizando a travesti. “Na hora que ela respondeu, me destruiu”, conta.
Pedro Scooby também foi protagonista de um desses casos e, enquanto conversava na porta de um dos quartos da casa com outros participantes, disparou “ontem eu fiz um delineado no Linn”, tratando a participante no masculino.
Mais cedo, Naiara Azevedo disse em roda de conversa que “ela [Linn] não chegou aqui nem como mulher, nem como trans. Chegou como gente”. “E como travesti”, retruca Linn.
Fora da casa
Segundo um relatório das Nações Unidas, o Brasil é o país que mais mata pessoas trans no mundo. A violência contra esse grupo, entretanto, não é só física e pode vir de diversas formas, inclusive verbal e psicologicamente.
Arthur Bugre, jornalista transgênero colunista do EM, conta que é muito comum pessoas trans não terem seus nomes e pronomes respeitados e que isso é uma das causas pela alta das taxas de suicídio e depressão na comunidade. “Quando a gente fala de nomes e pronomes, a gente tá falando de identidade, de essência. Essas coisas estão tão interligadas que impactam nossa autoestima”, comenta ele, que também diz que ter isso respeitado é uma questão de direito universal.
No perfil do Twitter de Linn da Quebrada, a didática é bem simples:
Ela também explica que travestis devem ser sempre tratadas no feminino, pois se trata de uma identidade feminina, mas que nem toda travesti se identifica como mulher.
“Ter uma identidade feminina significa utilizar pronomes femininos, se encontrar dentro da feminilidade, mas não, necessariamente, se reconhecer como mulher dentro da binariedade, dos gêneros padrões”, explica. Além disso, fala que é uma identidade política e latino-americana, que não tem tradução em idiomas como o inglês, por exemplo.
Trans ou Travesti?
Os termos têm criado várias discussões sobre qual a forma adequada que se deve utilizar para se referir ao grupo. A influencer travesti Alina Durso explica que “o termo ‘mulher trans’ surgiu para higienizar e binarizar a identidade das travestis. Travesti é um termo marginalizado e carrega muitos estigmas e não é à toa que, até hoje, as pessoas acham que é um termo pejorativo”.
No perfil do Twitter de Linn da Quebrada, a didática é bem simples:
Ela também explica que travestis devem ser sempre tratadas no feminino, pois se trata de uma identidade feminina, mas que nem toda travesti se identifica como mulher.
“Ter uma identidade feminina significa utilizar pronomes femininos, se encontrar dentro da feminilidade, mas não, necessariamente, se reconhecer como mulher dentro da binariedade, dos gêneros padrões”, explica. Além disso, fala que é uma identidade política e latino-americana, que não tem tradução em idiomas como o inglês, por exemplo.
Alina, Linn da Quebrada e muitas outras ativistas travestis também comentam sobre não utilizar o termo “traveco” em hipótese alguma. Numa breve explicação que envolve a etimologia da palavra, a educadora Lana de Holanda diz que “o sufixo ‘eco’ implica em algo vulgar, vagabundo, de baixa qualidade e, por isso, “traveco” (...) aponta a travesti como algo menor, descartável, desprezível”, além do fato que “traveco” é masculino e travesti é feminino.