A primeira festa do Big Brother Brasil 22 rendeu beijos entre Eslovênia e Lucas. Algo muito esperado, a formação de casais é celebrada no reality. No entanto, o episódio foi razão de profunda tristeza para Natália, que chorou, reclamou de não se sentir amada e disse se sentir sozinha. No Twitter, a campeã da edição 18 do reality Gleici Damasceno fez a leitura do ocorrido como indicativo da "solidão da mulher negra".
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Durante o dia, horas antes da festa, Lucas ficou de chamego com Natália na piscina e tudo indicava que a aproximação pudesse ter sequência na festa. No entanto, durante a festa, o brother trocou beijos com Eslovênia, frustrando a expectativa de Natália.
Ao ver a cena, Natália entrou para a casa, chorando. Bastante abalada, ela demonstrou a frustração. Natália foi consolada pelas sisters Naiara Azevedo e Linn da Quebrada.
Solidão da mulher negra
A solidão da mulher negra é um conceito criado pelo movimento negro. No Brasil, ele se baseia nas reflexões de Lélia Gonzalez (1935-1994), intelectual e uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado (MNU).
Em sua obra, Lélia aponta que a mulher negra está ligada a maternidade social, ao trabalho social e a um imaginário social de objetificação do corpo. A psicóloga destaca que Natália se encaixa no estereótipo da mulata, o corpo sensual.
"Ela mesmo coloca que só veem o corpo dela. Natália é uma mulher solitária por tudo que viveu", diz a psicóloga Camila Souza da Comissão de orientação em psicologia e relações étnico-raciais. Há informações que Natália tenha se casado aos 15 anos e teve que trabalha desde os 9 anos de idade. A psicológa destaca que, além de uma união aos 15 anos ser ilegal, mas muitas vezes, pode ter ocorrido com Natália em decorrência da imagem que se cria da mulher negra na sociedade.
Natália é filha de uma mãe solo e ela desde cedo se viu responsável por conquistar tudo sozinha. "Diante da negritude dela, ela desenvolve esse sentimento que tem que fazer tudo sozinha para conquistar o que ela quer. Isso marca bastante a solidão da mulher negra", pontua Camila.
Nos primeiros dias de confinamento, Natália tem dito que não é apenas um corpo bonito. "Ela diz não sou apenas um corpo sexual, sou uma pessoa e preciso de sentimentos, preciso conviver com as pessoas de uma forma que elas não me vejam só como um corpo, só como um objeto".
Camila define a solidão da mulher negra como um sentimento de esvaziamento das emoções, sentimento de que é necessário caminhar sozinha para sobreviver na sociedade.
A solidão da mulher negra começa pelo preterimento, desde a infância, quando não é escolhida para ter um par na festa junina, para ser a noiva, e segue para a adolescência, quando ela não entra na lista de menina mais bonita da escola ou quando se torna amiga da pessoa que ela está interessada. "Ela não é uma pessoa desejável pelos colegas e acaba se tornando uma garota de recados, garota mais feia da turma, não é vista como pessoa amada e isso reflete nas relações."
Essa situação torna a mulher negra mais vulnerável a relacionamentos abusivos. "Tem probalidade maior de entrar em relacionamentos tóxicos. Não consegue enxergar o lado agressivo do parceiro. Pode continuar nesse relacionamento por achar que ninguém mais vai amá-la, vai querer ficar com ela". Na vida adulta, ela pode ser mãe solo ou até mesmo estando em um relacionamento e se sentir sozinha.
Essa mulher deve buscar terapia e fazer parte dos grupos de mulheres negras, onde ela se sinta acolhida e com uma rede de apoio.