Lançado nesta quarta-feira (26/01), o novo disco de Baco Exu do Blues, "QVVJFA? (Quantas Vezes Você Já Foi Amado?)", já chegou levantando discussões. O tema do álbum, produzido por Marcelo de Lamare, pode ser definido pela música de trabalho "Autoestima".
A faixa traz os versos “Foram 25 anos pra eu me achar lindo. Sempre tive o mesmo rosto, a moda que mudou de gosto. E agora querem que eu entenda seu afeto repentino. Eu só tô tentando achar a autoestima que roubaram de mim”.
Palavras de peso que têm relação com a mudança de visual recente do cantor. Uma página sobre rap, no Twitter, comenta que a música faz referência ao estereótipo de que o homem negro só é bonito quando possui um corpo definido.
A faixa traz os versos “Foram 25 anos pra eu me achar lindo. Sempre tive o mesmo rosto, a moda que mudou de gosto. E agora querem que eu entenda seu afeto repentino. Eu só tô tentando achar a autoestima que roubaram de mim”.
Palavras de peso que têm relação com a mudança de visual recente do cantor. Uma página sobre rap, no Twitter, comenta que a música faz referência ao estereótipo de que o homem negro só é bonito quando possui um corpo definido.
Racismo e gordofobia
A música de Baco Exu do Blues levanta questões relevantes que vêm sendo mais discutidas nos últimos anos. Os corpos negros sempre foram animalizados e objetificados, justamente porque a sociedade tardou a agregar valor a eles. As mulheres, muitas vezes, eram vistas apenas como bons corpos para a reprodução e que não têm necessidade de afeto. Já os homens, eram aqueles bem-dotados. Ambos, hipersexualizados.
Dessa forma, apesar das mudanças pelas quais a sociedade passou nos últimos anos com estudos e movimentos anti-racistas, ainda prevalece um pensamento associado à valorização da comunidade negra que está atrelado às características físicas.
Muitas pessoas ainda acreditam que para serem aceitos e considerados bonitos e desejáveis, é necessário ter um corpo dentro dos padrões estéticos e o mais próximo da branquitude, como pele mais clara, traços mais “delicados” e cabelos próximos da textura lisa.
“Eu percebo que um novo padrão foi criado para a beleza de pessoas negras. Jorja Smith e Rihanna são vistas como bonitas, um exemplo a ser seguido. Michael Jordan tem a pele mais escura, mas é extremamente sarado e tem traços negróides mais “delicados”. "Isso é gerar um novo padrão, que também é gordofóbico”, diz Kleriene Vilela, médica criadora de conteúdo digital.
“Eu percebo que um novo padrão foi criado para a beleza de pessoas negras. Jorja Smith e Rihanna são vistas como bonitas, um exemplo a ser seguido. Michael Jordan tem a pele mais escura, mas é extremamente sarado e tem traços negróides mais “delicados”. "Isso é gerar um novo padrão, que também é gordofóbico”, diz Kleriene Vilela, médica criadora de conteúdo digital.
A gordofobia dentro da comunidade negra se mostra como um problema ainda mais grave que entre pessoas brancas. As pessoas negras devem lidar, também, com o racismo. “A gordofobia racista existe e as únicas pessoas que sofrem dela são os gordos negros. Eu nunca sofro de um ou de outro, é sempre dos dois. Sempre fui a ‘nega gorda’ dos ambientes”, comenta Luana Carvalho, criadora de conteúdo sobre moda. “Ser gordo é aquilo que as pessoas mais temem, e ser negro é aquilo que as pessoas mais odeiam em ter que conviver”, continua.
Com o lançamento do álbum "QVVJFA?" e a repercussão de fotos de Baco Exu do Blues, que mostra o cantor mais magro e musculoso, muitas pessoas começaram a ressaltar a beleza dele, o que já rendeu diversas críticas por parte de internautas. “Baco sempre foi bonito, meu povo. Quem não ‘percebia’ isso era porque é gordofóbico mesmo”, publicou um usuário do Twitter.
"QVVJFA?" sucede "Bluesman", que foi premiado no festival de Cannes em 2019 e conta com a colaboração de Gloria Groove e Muse Maya, além da participação de Gal Costa e Vinícius de Moraes por meio de samples, trechos de Os Originais do Samba, Batatinha e áudios de Ravi Lobo (Rap Nova Era), de JF e Polêmico (Banda O Metrô) e de Leandro Ramos.