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Estado de Minas MÚSICA

Mil em uma: gamer Maellen se lança na carreira musical

Conhecida como streamer de Free Fire, a gamer conta como é ser uma mulher lésbica nos mundos da música e dos jogos


04/02/2022 15:00 - atualizado 07/02/2022 13:57

Maellen em cena do clipe de 'Carpe Diem'
Cantora fala sobre aproveitar a vida no single "Carpe Diem" (foto: Ricardo Brunini )

Maellen ficou conhecida nas plataformas digitais pelo Free Fire, jogo de celular baseado na dinâmica de tiro e sobrevivência, e passou por diversas situações de preconceito, tanto por seu gênero quanto por sua orientação sexual, mas agora se dedica a retomar o sonho na música. Depois de lançar duas músicas, “Minha História” e “Carpe Diem”, a streamer se prepara para o lançamento do primeiro EP em março.

“Todas as músicas (do EP) tem meu jeito, minha opinião, algo que eu penso, todas. Ou é no estilo de se relacionar, ou uma situação que aconteceu comigo ou um amigo...a experiência de cada música é ligada a mim”, conta Maellen.

Seu primeiro lançamento pela Universal, “Minha História”, que tem o trap como gênero predominante, conta sua trajetória, seus desafios e conquistas. “Carpe Diem”, lançada dia 21 de janeiro, aposta em um ritmo animado com cara de verão e, como o título indica, fala de como aproveitar a vida, uma filosofia que está presente em seu dia a dia. “Eu não sou de me estressar, de ficar remoendo, batendo de frente, procurando intriga, arrumando briga, confusão... Eu sou good vibes, eu curto o momento. Vivo como se fosse o último dia”, conta.

Mas o caminho não é fácil. Antes de se consolidar no Free Fire, a gamer tentou seguir na carreira de cantora como MC Maellen, mas como não tinha como investir, resolveu se jogar no mundo dos jogos. Largou a faculdade de Gestão Financeira faltando dois períodos para formar e o emprego no banco, e começou a fazer streaming por $0,003 centavos de dólar por 1 hora assistida. Quando conseguiu uma estabilidade financeira, voltou para investir na música.

Maellen em um estúdio de gravação cantando ao microfone
Maellen sempre teve o sonho de ser cantora e quando pequena, cantava em karaokês (foto: Ana Barbosa)
 
Além disso, Maellen aponta o machismo na indústria da música e a discrepância entre a quantidade de homens e mulheres no ramo, em especial no trap, estilo que escolheu. Sua inspiração são mulheres também LGBT como Cassia Eller e Ana Carolina. 

“A gente vê que tem pessoas que levantaram bandeiras, artistas, cantores que levantaram nossa bandeira LGBTQIA, são representatividade, são inspiração, são orgulho pra gente, por ter botado a cara a tapa e mostrado quem são, não só elas, mas Pablo Vittar, Ludmilla, Gloria Groove, mostrando e dizendo ‘vamos ser artistas sim, vamos ser o que nós somos sim e isso não vai impedir nosso sonho’”, declara Maellen.

Lutando dentro e fora da arena

Não foi no mundo da música que Maellen teve seu primeiro contato com o preconceito. Aos 18 anos foi expulsa de casa pela mãe ao se assumir lésbica e foi morar com a namorada, Karen Moraes, com quem hoje tem uma filha, Antonella. “Após dois anos da expulsão, minha mãe foi entendendo, aceitando. Hoje está tudo bem, graças a Deus”, conta.

Começou a jogar Free Fire por diversão, e como era boa, em 2019 se tornou a primeira mulher a participar do campeonato oficial da desenvolvedora Garena, a Pro League de Free Fire, chegando na final e conquistando o 5º lugar.
Maellen em ensaio fotográfico, sentada em uma poltrona verde usando terno quadriculado vermelho e bege
Mulher e lésbica, Maellen concilia carreira de gamer, de cantora, com a maternidade (foto: @thi.santoss)

Depois do campeonato resolveu entrar para o streaming, comprou os equipamentos parcelado em 12 vezes, desistiu da faculdade de Gestão Financeira faltando um ano para formar e seu emprego, acreditando que daria certo. E deu. Com o nome cada vez mais público, foi ganhando seguidores nas plataformas digitais e reconhecimento. “Nunca escondi minha sexualidade, mostrei o que sou, porque sou muito transparente, falo mesmo de tudo, não tenho nada a esconder da minha vida”, declara.

"O mínimo que a gente pede é o respeito"

Por ser tão transparente e apostar em uma profissão em um meio muito machista, Maellen constantemente é alvo de ataques. A streamer conta que já cansou de ouvir xingamentos e falas como “vai lavar louça”, “vídeo game não é pra mulher”, mas defende que o gênero não define se será melhor ou pior no jogo, é questão de habilidade”, defende.

A artista afirma que lidar com a internet, ficar exposta a muitas opiniões ao mesmo tempo, é cansativo e esse é o preço a se pagar por ser uma figura pública, mas exige que seja tratada com respeito.

“Quem não gostou, não tô nem aí, não é obrigado a gostar, cada um gosta do que quiser, do movimento que quiser, do ritmo que quiser, da pessoa que quiser, da orientação que quiser, mas o mínimo que a gente pede é o respeito”, desabafa, “respeito é o mínimo, é o básico, não só pra LGBTQIA mas pra qualquer ser humano”, completa.

Maellen conta que se assusta com a quantidade de comentários preconceituosos que vêm de crianças de 12 ou 13 anos, uma vez que são o futuro do Brasil. Por outro lado, a gamer também recebe mensagens de apoio e de meninas que se inspiraram no seu trabalho no mundo dos jogos.

A relação com os fãs traz equilíbrio para a gamer. “Eu fico vendo e penso ‘caraca, que tanto de mensagem de fã que se inspira, que eles podem sim, que eles conseguem, que ninguém vai calar a gente, que a gente pode ser que que quisermos ser, em qualquer local ou área. Isso é gratificante, recebo muita mensagem de admiração, de força e de carinho. Essa é a melhor parte, esse abraço que eles dão coletivo, é o que dá força”, completa.

Mil e uma

Maellen não pretende abrir mão do streaming para seguir o sonho de ser cantora, e com muita energia e disposição, pretende conciliar as duas carreiras e a responsabilidade de ser mãe, que define como uma sensação única de felicidade ao extremo. 

“Meu dia deve ter 48 horas e eu não tô sabendo”, brinca. “É cansativo, mas o sonho fala mais alto. Estabilidade financeira eu já tenho, estou querendo buscar mesmo é realização pessoal. Tudo que a gente faz porque é sonho e faz porque ama é mil vezes melhor, tudo flui”, completa.
*Estagiária sob a supervisão de Márcia Maria Cruz 


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