Um jovem de 20 anos, morador de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, foi vítima de uma falsa acusação de roubo de dois celulares em uma lanchonete da Avenida José Faria da Rocha. Em uma postagem no Facebook, acompanhada da foto do rapaz, o autor do texto afirma que Antônio Augusto Costa é um 'ladrão'.
Segundo Antônio, o dia da postagem é o mesmo que ele voltou para as aulas presenciais do curso de Jovem Aprendiz e, realmente, passou pela porta do estabelecimento, mas nem chegou a entrar no local.
"Eu faço curso de Jovem Aprendiz, são 4 dias de trabalho e um de curso. Ano passado estava virtual, por causa da pandemia, e o primeiro dia presencial foi em 5 de janeiro, numa quarta-feira. Quando acabou a aula, ao meio dia, eu desci as escadas do prédio e começou a chover", diz.
"Então, parei no depósito, que é no mesmo prédio do curso, vesti minha blusa e comecei a correr, porque estava chovendo e eu não tinha sombrinha. Só que, na mesma hora a chuva diminuiu e eu comecei a andar em direção ao ponto de ônibus".
"Cheguei a passar na porta da loja, porque ela está perto do ponto. Fiquei uns 40 minutos esperando o ônibus e fui para a casa da vó da minha namorada. Fiquei lá e fui embora para a casa. Mas, quando deu umas 19h30, levei ela em casa, estávamos a pé. Foi aí que eu comecei a receber ligações e mensagens de pessoas perguntando onde eu estava e mandando print da postagem".
O estudante conta que se assustou e não acreditava ser verdade. "Sabe quando temos uma sensação que as pessoas estão brincando com você?" indaga. "Foi a reação que eu tive. Respondi a mensagem dizendo que era eu na foto, mas por qual motivo estavam me mandando aquilo".
Os colegas que viram a publicação no Facebook avisaram Antônio da acusação e, imediatamente o jovem ligou para a Polícia Militar. "Entrei em desespero. Pensei, 'se isso chegar em algum policial e me reconhecerem na rua agora, até eu explicar, já deu uma dor de cabeça sem tamanho'".
Pelo horário, ele não poderia ir à delegacia de crimes cibernéticos, mas na manhã seguinte, em 6 de janeiro, o jovem foi à Polícia Civil e registrou um boletim de ocorrência. Em seguida, entrou em contato com um advogado e fez a representação judicial.
Segundo Antônio, o autor da postagem é dono do estabelecimento e alegou ter postado a foto do jovem no Facebook por ele 'ter características' do suspeito do roubo: uma calça jeans e uma blusa preta.
Racismo
O episódio está sendo acompanhado pelo advogado Gilberto Silva, que afirma ser um caso típico de racismo estrutural. "Este é um caso bem típico de racismo estrutural na sociedade, onde pessoas pretas são criminalizadas em toda e qualquer situação quando aconetece algum crime. Basta a pessoa estar presente que ela é acusada e exposta da forma que aconteceu com ele, então, as medidas já foram tomadas".
O jovem também se sentiu discriminado pela cor da pele e diz nunca ter passado por algo parecido. "Pensei que isso é um caso de racismo sim. Não tive nenhuma atitude suspeita. Primeiro porque nem passa pela minha cabeça fazer esse tipo de coisa, eu trabalho muito. Não tive nenhum tipo de atitude para acharem que eu roubei celular na loja", conta o jovem.
O caso está tramitando na Justiça de Contagem e o advogado preferiu não dar detalhes para não atrapalhar o andamento do processo, entretanto, garante que as atitudes cabíveis já foram tomadas.
"Tem uma ação criminal e uma ação cível. Não detalhamos, para não atrapalhar no andamento do processo, mas a ação cível é em busca de reparação, tendo em vista o desgaste, os rumores e a exposição, bem como o caráter pedagógico punitivo. E a ação criminal para que haja a punição dentro do que rege a lei", diz.
O que diz a lanchonete
Através de uma rede social, a lanchonete publicou uma nota de esclarecimento no início da tarde desta sexta-feira (4/2). Veja:
"A empresa Ligeirinho Salgados Express vem a público se manifestar sobre repercussão do furto de celular ocorrido em suas dependências no dia 5 de janeiro de 2022. Após sermos vítimas de furto, acionamos viatura da Policia Militar de Minas Gerais para registro do crime e demais providências. Ressaltamos repudiar toda e qualquer forma de discriminação, mantendo nosso compromisso com a sociedade e autoridades públicas para os esclarecimentos que se façam necessários."
O Estado de Minas procurou a lanchonete e não teve retorno.
Em nota, a Polícia Civil afirma que a ocorrência de calúnia foi registrada e a investigação está curso.
"A Polícia Civil de Minas Gerais adotou todas as providências legais cabíveis e o suspeito foi identificado. A ocorrência de calúnia foi registrada pela vítima, de 20 anos, no dia 5 de janeiro deste ano, em Contagem, quando ele foi informado acerca da necessidade de representação para instauração do procedimento criminal."
"A Polícia Civil de Minas Gerais adotou todas as providências legais cabíveis e o suspeito foi identificado. A ocorrência de calúnia foi registrada pela vítima, de 20 anos, no dia 5 de janeiro deste ano, em Contagem, quando ele foi informado acerca da necessidade de representação para instauração do procedimento criminal."
*Estagiária sob supervisão