Jornal Estado de Minas

ARTE

CURA: festival em BH levanta debates sobre o papel da arte urbana


A 6ª edição do Circuito Urbano de Arte (CURA) ganhou uma nova fase no início desta semana. Denominada “Raulzona”, ela tem como foco a Praça Raul Soares, localizada no centro geográfico de Belo Horizonte, e explora a conexão com o outro e com outros seres.





Em outubro de 2021, durante a primeira fase da edição, o artista Ed-Mun e o Coletivo MAHKU pintaram empenas de BH. Sadith Silvano e Ronin Koshi, artistas Shipibo-Conibo (etnia que vive na amazônia peruana) pintaram um Kené de quase 3 mil m² no chão que circula a Raulzona e o Coletivo JK marcou presença com uma projeção na fachada do Edifício JK.


Entre 14 e 25 de fevereiro, juntam-se ao CURA para integrar um dos maiores movimentos de arte urbana do mundo o grupo Giramundo, que comemora seus 50 anos com uma instalação temporária na Praça Raul Soares, além da multiartista Mag Magrela, que fará a cobertura de uma das fachadas do Edifício Savoy.

Novas obras do CURA em BH

O Giramundo é um dos grupos mais tradicionais de teatro de bonecos do Brasil e tem relevância mundial. Além do amplo repertório de espetáculos com mais de 1.500 marionetes diferentes, o Giramundo mantém um museu, uma escola e um ateliê de artes e ofícios. No CURA, estará presente na Praça Raul Soares com a instalação Gira de Novo, inspirada no cosmograma bakongo, que traz os ciclos do universo, os movimentos do sol e as fases da vida humana como símbolo de recomeço.




Para além da Raulzona, Mag Magrela, multiartista paulistana que é referência nacional na cena de arte urbana contemporânea trabalha, desde ontem (17/02), em uma pintura na empena do Edifício Savoy. Reconhecida por suas formas femininas singulares no grafitti, falará sobre passado, resiliência e cura em sua obra.


O CURA

“2021 foi cheio de desafios para a realização do CURA. As entregas ganharam outros significados diante dos impasses vividos pela cultura no país, especialmente com a atuação em âmbito federal no sentido de enfraquecer o setor cultural, atrasando processos, autorizações, homologações, liberações de recursos, etc, e desidratando a cadeia produtiva da cultura. Sentimos ainda mais orgulho e alegria por tudo que foi apresentado e compartilhado até agora” explica Juliana Flores, uma das idealizadoras do circuito, ao BHAZ.

“Nossa cidade é nossa galeria de arte pública e nos lembra de que, quando a gente se apropria do espaço urbano, constrói também um sentido de pertencimento, faz dele nosso também, é capaz de transformá-lo. 2022 é o ano da cura, do recomeço, dos reencontros”, completa.





O CURA traz para a cidade uma galeria de arte democrática, a céu aberto (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press - 24/2/20)

O CURA é conhecido por trazer temas importantes e necessários aos debates sobre cultura e sociedade a partir da cena artística da capital mineira fora dos museus e das galerias, usualmente restritos a grupos elitistas. Utilizando a cidade como tela, coloca Belo Horizonte em um patamar artístico de subversão à visão sobre a arte e sua relação com a sociedade e com os espaços que deve ocupar com participação importante da arte negra, indígena, feminista e LGBTQIA+.

Dessa forma, é emblemático que os murais do festival tenham tido início na mesma época em que os muros grafitados de São Paulo foram cobertos por tinta cinza. Isso fez com que BH fosse reconhecida nacionalmente como uma cidade que acolhe a arte urbana, explorando-a em favor dos artistas que não deixam a cidade se calar.

Idealizadores do CURA

Idealizado pelas produtoras Janaína Macruz, Juliana Flores e pela artista Priscila Amoni, o CURA carrega o saldo de 18 empenas que podem ser vistas da Rua Sapucaí, considerado o primeiro mirante de arte urbana do mundo, além de ter sido responsável pelas empenas mais altas da América Latina pintadas por mulheres e pela primeira empena pintada por uma mulher indígena.





A obra "Selva Mãe do Rio Menino" é a primeira empena pintada por uma mulher indígena. (foto: Instagrafite/Reprodução)

Apesar de as empenas receberem maior destaque durante o festival, o CURA também é responsável por fomentar a cena cultural de Belo Horizonte em outros campos. “Costumamos dizer que o Cura é um festival com três camadas: a pintura, o mirante e a programação, que inclui debates, aulões e oficinas”, diz Janaína Macruz.

As trocas entre diversos públicos são muito importantes para o festival e, por isso, toda a programação de debates e de aulas é gratuita. Temas como a história do grafitti em BH e no mundo, a presença das mulheres no street art, a invisibilidade de artistas negros e as diferenças entre patrimônio material e imaterial da cidade já foram abordados.



“Acreditamos que a arte urbana e pública em Belo Horizonte merece ser celebrada, mas ainda precisa muito ser discutida para que saibamos valorizar não só esse movimento que coloca a cidade em diálogo com o mundo e com suas questões mais urgentes, mas também as artistas que, por todos os cantos e paredes da cidade, não deixam BH se calar”, explica a organização no site do circuito.



Nas redes sociais

Na internet, o CURA também repercute de forma bastante positiva. Usuários do Twitter comentam sobre a beleza das obras. "É muito impressionante o que o CURA tem feito em BH (...) visto o caminho político que o país tomou", disse um deles.



Outros, ainda aguardam o cenário futuro da cidade. "O centro de BH daqui a uns 5/6 anos vai estar fabuloso com os prédio 'tudo' pintado pelo CURA", comenta um usuário que citou um dos vídeos publicados pela organização do circuito.

*Estagiária sob supervisão do subeditor Rafael Alves

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