A bailarina Brunna Gonçalves exibiu os cabelos naturais no Jogo da Discórdia do BBB 22 na segunda-feira (21/2). Desde que entrou na disputa, em 17 de janeiro, ela usava laces, perucas com cabelos com a textura lisa. Para mudar o visual, Brunna destrançou os cabelos, momento de intimidade e afeto, no qual contou com a ajuda de Linn da Quebrada.
Ela é a quarta mulher negra a fazer a retirada das tranças na casa nesta temporada do reality. Esse movimento também foi feito pela médica Thelma de Assis, que venceu o BBB 20. Os cabelos naturais, em múltiplas curvaturas dos fios, em especial os crespos, são exibidos como coroas.
As tranças são muito importantes para as mulheres negra
s. Além de serem penteados que remontam costumes de gerações passadas, contribuem para a construção da identidade negra. Junto a tudo isso, em algumas situações, as tranças são utilizadas para que a mulher passe pelo processo de transição, do cabelo com alguma química para os fios naturais.
A trancista Milena Moreira conta que devido ao tempo de confinamento, não é possível ficar tanto tempo com as tranças pela necessidade dos cuidados com o cabelo. Então, retirá-las é um processo natural. Ela ainda aponta que é importante que diferentes tipos de cabelo sejam mostrados em rede nacional, e que, quando uma mulher tira as tranças no BBB, surge algum comentário pejorativo, como aconteceu com entre Laís e Lina.
“É importante elas terem feito isso ali, no BBB, para poder mostrar para as pessoas que nosso cabelo é lindo de trança, é lindo natural, é lindo de qualquer forma, nós somos lindos de qualquer forma. Toda a atenção que a gente dá para o nosso cabelo, seja fazendo trança, penteado ou armando o black, sempre é um ato de resistência”, afirma Milena.
A primeira sister a retirar a trança foi Maria, logo na primeira semana do reality, no dia 17 de janerio. Ela entrou de tranças, mas as retirou para dar lugar ao cabelo cacheado e volumoso. Na época, Jessi e Brunna ajudaram Maria a destrançar.
Também chegou o momento para que Natália Deodato retirasse as tranças, no dia 29 de janeiro. Ela contou com a ajuda de Linn, Jessi e Maria. Naty entrou no reality com longas tranças até a cintura em tom claro. Depois de algumas semanas, destrançou e mostrou o belo black power. Aos poucos, na medida que as tranças eram retiradas, Naty revelou o cabelo preto e crespo.
A terceira a passar pelo ritual de retirada das tranças foi Linn no dia 18 de fevereiro. Para retirar as longas tranças, do comprimento da cintura, a cantora contou com a ajuda de Jessi, Natália e Brunna. Naquele dia, no entanto, a médica Laís usou um palavrão para se referir às tranças. A fala da goiana gerou muita polêmica nas redes sociais por ser considerada preconceituosa. A médica goiana disse preferir os cabelos naturais de Linn.
"Eu prefiro assim. Não sei porque você veio com aquela p*rra daquela trança", disse a médica.
A fala da médica Laís é ofensiva, mas muitas pessoas costumam assumir a postura adotada pela sister sugerindo à mulher negra como ela deveria usar o cabelo. Muitas vezes, a sugestão que vem em tom amistoso, parece ser um elogio, mas não é. É uma intromissão. Dizer que é melhor a mulher negra usar o cabelo crespo do que o liso também é uma intromissão.
Embora haja o movimento para que as mulheres negras usem os cabelos naturais, cabe somente à mulher negra decidir-se pela forma estética que pretende deixar os fios: se alisados, crespos, curtos ou trançados. É uma definição de foro íntimo.
Resgate da autoestima e afirmação
Os cabelos são muito importantes para o resgate da autoestima da mulher negra. Por muitos anos, os cabelos crespos foram tachados de feios, mal-arrumados e mal-cuidados. Por essa pressão social, muitas mulheres negras alisaram os cabelos por anos, começando o processo na infância. No entanto, muitas delas aderiram ao movimento de transição para deixar a química de lado e retomar a textura natural do cabelo.
A transição se tornou também um movimento de afirmação e autoestima. É um movimento de afirmação, porque as mulheres negras assumem os cabelos como eles são e, mais do que isso, reafirmam a beleza de diferentes texturas dos fios.
Esse movimento traz auto-estima para a mulher negra, que deixa de se espelhar em um único padrão, os cabelos lisos, passando a se considerar bonita como ela é.
O resgate do cabelo natural mudou representou uma verdadeira revolução. Mudou a forma como as mulheres negras se percebiam, fez com que elas passassem a conhecer melhor os próprios cabelos e buscassem cortes para valorizar a curvatura das madeixas. Tudo isso impulsionou redes de solidariedade na vida presencial e nas redes sociais. Um exemplo são os salões que se especializaram no cuidado do cabelo de pessoas negras.
O mercado de coméstico, que por muitos anos só ofereceu produtos para que as mulheres negras alisassem os cabelos, teve que mudar e desenvolver produtos para que essas mulheres pudessem tratar dos próprios cabelos.