A luta de imigrantes africanos para tentar sair da Ucrânia e a fuga dos magnatas russos em seus iates demostram que na guerra os mais pobres estão ainda mais submetidos à própria sorte. Os dois casos relatados nesta quarta-feira (2/3), sétimo dia da guerra na Europa entre Rússia e Ucrânia revelam que, nas situações extremas, empatia e solidariedade têm a quem ser direcionadas e alguns têm mais direito a se salvar do que outros.
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Enquanto isso, superiates de magnatas russos seguiram para Maldivas e Ilhas Seychelles, depois que foram anunciadas às sanções à Rússia devido à guerra de Vladimir Putin. De acordo com a Bloomberg News, cerca de 7% a 10% da frota global de iates de luxo são de propriedade dos russos.
Eles fugiram da Rússia prevendo os efeitos das medidas impostas com o objetivo de enfraquecer a economia do país. Entre as restrições estão o impedimento de transações econômicas com bancos e empresas russas, a retirada de multinacionais no país e a suspensão da conexão do sistema internacional com as instituições financeiras russas.
Em alguns casos, foram exaltados os traços dos ucranianos, brancos de olhos azuis; e feita a comparação da Ucrânia com outros países que também sofreram com guerras, como o Afeganistão e o Iraque.
O efeito Titanic
O filme "Titanic", de 1997, mostra como pano de fundo do romance de Jack e Rose, mas a história também é de pessoas pobres deixadas para morrer no acidente, impedidas de pegar botes salva-vidas. Uma atitude que tem ficado aparente em relatos vindos da Ucrânia. Um efeito que se espalha por vários aspectos desse conflito.
O Titanic foi considerado a obra mais colossal da engenharia no ano de 1909, quando começou a ser construído. Com 269 metros de comprimento, 28 metros de largura e 53 metros de altura, o navio estava organizado para três classes sociais: primeira, segunda e terceira classe.
A terceira mantinha contato restrito com as demais. Havia portões que limitavam a circulação. Mais de 1.500 pessoas morreram quando o navio, que transportava 2.224 passageiros e tripulantes, afundou sob o comando do capitão Edward Smith, em 14 de abril de 1912.
Especialistas dizem que havia uma medida sanitária por trás: o medo de que os imigrantes espalhassem doenças infecciosas. Eles eram mantidos separados e desembarcavam primeiro, para passar por procedimentos sanitários.
No entanto, essa divisão facilitou a morte das pessoas da terceira classe quando o Titanic naufragou. Eles teriam que caminhar por labirintos de corredores e escadas até chegar ao deque.
Um descaso que se repetiu
Uma reportagem do Daily Mail revelou conteúdo de telegramas sigilosos entre Mackay-Bennett, o principal navio de recuperação de corpos, e a White Star Line, a empresa que operou o Titanic.
A tripulação do Mackay-Bennett ficou sobrecarregada com o número de corpos do desastre e tinha espaço limitado. Então, decidiu priorizar os corpos de passageiros de primeira e segunda classe. Eles foram recuperados, embalsamados e devolvidos aos parentes das vítimas.