Jornal Estado de Minas

NOVAS EXPERIÊNCIAS

Jovem surda viraliza ao ouvir músicas famosas pela primeira vez



Isabela Coelho, que nasceu com perda severa de audição, viralizou no Twitter ao compartilhar as primeiras experiências ouvindo músicas, muitas delas indicadas por seguidores. O que pegou muita gente de surpresa foi ela não ter gostado de músicas consagradas, como "Another brick in the wall", do Pink Floyd.



A analista de qualidade de software começou compartilhando sua primeira experiência com o implante coclear, que a permitiu voltar a ouvir, no dia 16 de fevereiro. Ao completar três semanas da cirurgia, fez a seguinte postagem “Hoje faz exatamente três semanas, desde que passei a ouvir, depois de muito tempo no silêncio, e agora entrei na fase de ouvir música, pois já consigo distinguir alguns sons.”



Como o diagnóstico de surdez foi feito quando ainda era muito pequena, os pais de Isabela iniciaram tratamento com fonoaudiólogos aos 4 anos e a colocaram em escola regular para aprender a ler, escrever e falar, o que a ajudou a se adaptar sem a necessidade de um aparelho auditivo.
 
“Aquele olhar de pena que as pessoas soltam quando olham as pessoas com alguma deficiência é algo que não agrega a ninguém, estamos cientes de nossas deficiências e que se acreditarem que somos capazes de tudo, incentivam mais ainda a adaptação”.



Porém a pandemia a fez perceber o quão é prejudicial depender exclusivamente de leitura labial, então decidiu fazer o implante coclear para que, futuramente, também possa usar a audição. Durante as postagens, Isabela foi identificando sons que eram agradáveis, e aqueles que a incomodavam. Ela explica que sons mais graves soam melhor para ela, e os agudos nem tanto. Outro ponto em comum das músicas que não gostou foi a sibilância,  a sonoridade agudaou chiada produzida pelas vias respiratórias. Além disso, músicas mais “organizadas” também soam mais agradáveis.



Isabela conta que achou incrível o apoio de muita gente tentando ajudar a descobrir qual a melhor música para ela, porém conforme ela explicou para as pessoas, muitas músicas são sugeridas mais pelo apelo emocional do que pelo som em si. “Não é toda música que dará certo para mim e precisam estar cientes disso, espero que, ao longo do tempo, minha percepção de música que não gostei possa mudar”, afirma.

As músicas "Bohemian Rhapsody" e "Don’t stop me now", do Queen, e "Don’t stop til you get enough", de Michael Jackson, entraram para o set de músicas que Isabela gostou, junto com "Starman", que chegou a algo próximo de favorita. “Coloquei três vezes essa música para ouvir de tão bom que o ritmo é.” Postou sobre a música de David Bowie. Já John Mayer entrou para o grupo que não agradou. 



Isabela procurou um amigo musicista que a ajudou nesse processo de identificação de sons. Ela indicava para ele o momento que a incomodava e ele explicava qual som estava sendo feito ali, no caso uma “sujeira”. 




Não é a primeira vez que Isabela tenta usar um aparelho de audição, porém, na primeira tentativa, ela não conseguiu se adaptar bem e acredita que uma mudança tão radical precise do apoio de um psicólogo para que dê certo.
 
Ela explica que há dias em que é um pouco mais difícil que os outros, porém preparou seu psicológico sabendo que no começo será assim mesmo e que melhorará com o tempo. “A vantagem é que eu não levo mais esse susto, a não ser que eu esteja na rua e ocorre algum som alto como moto sem escapamento, mas estou me adaptando melhor do que na primeira vez. Acredito que a maturidade ajudou nisso”.
 
*Estagiária sob a supervisão de Márcia Maria Cruz