Jornal Estado de Minas

DIA DA MULHER

Empoderamento feminino: adolescentes criam absorventes ecológicos

Quando o assunto é menstruação, os impactos dos tabus acarretam situações adversas no universo feminino e um deles é a dificuldade de mulheres terem acesso à higiene íntima. Uma em cada quatro brasileiras não usam absorventes, aponta o relatório Livre para Menstruar, feito pelo movimento Girl Up – uma iniciativa global da Fundação das Nações Unidas.



Empenhadas em amenizar esse quadro, quatro estudantes do Instituto Federal de Minas Gerais - Câmpus Ouro Preto - vão produzir um protótipo de absorvente ecológico, feito de algodão orgânico, celulose e bioplástico biodegradável. O objetivo é distribuir gratuitamente para mulheres que vivem em comunidades vulneráveis na região de Ouro Preto.
 
A proposta empreendedora das adolescentes chamou a atenção do programa Power4Girls, ação promovida pela Embaixada e Consulados dos EUA no Brasil, em parceria com o Instituto Glória, que visa inserir as mulheres no universo da ciência.

Como parte das comemorações pelo Dia Internacional da Mulher, além das ouro-pretanas, outras 19 equipes de estudantes da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica de todo o Brasil começam nesta segunda-feira (7/3) a implementação do programa Power4Girls.




 
“Nos próximos seis meses de programa, teremos muito trabalho! Será uma oportunidade incrível, quero aproveitar ao máximo e inspirar outras meninas a lutarem pelo que querem. Será uma etapa linda, de muitos aprendizados e, com certeza, só aumentará minha vontade de querer buscar mais e de aprender mais”, afirma a estudante Vitória Amarante, de 15 anos, integrante da equipe.
 
A estudante do 1° ano do curso de Edificações do IFMG acredita que, com a equipe, a produção do protótipo de absorvente ecológico poderá incentivar outras alunas da instituição a buscar soluções inovadoras para problemas sociais e ambientais.

Integram ainda a equipe Alice de Magalhães Pedroza e Cecília Giacomin Costa, ambas também do 1º ano de Edificações e Camilla dos Santos Ferreira, 1º ano de Mineração.
 
De acordo com a professora orientadora, Érica Aniceto, no decorrer desses seis meses, o programa oferecerá às estudantes treinamentos, oficinas, atividades e tarefas em grupo e palestras on-line para ampliar as competências criativas, empreendedoras, de inovação e responsabilidade social, além de conversas com profissionais de organizações dos setores público e privado e interação com líderes femininas.




 
“Teremos também o acompanhamento de uma mentora, estudante de Biomedicina, que nos acompanhará durante todo o desenvolvimento do projeto. Não receberemos bolsas, mas contamos com todo apoio da direção e de professores de nossa escola para as questões logísticas demandadas pelo projeto.” 

Outras etapas

Érica conta que futuras etapas, como a produção  e distribuição dos absorventes, estão sendo estudadas, e o projeto das  estudantes do IFMG não será encerrado após a conclusão do programa, marcado para setembro deste ano. A orientadora afirma que a direção do IFMG já manifestou vontade em dar continuidade ao projeto.
 
Professora Érica acredita que as adolescentes estão abrindo um caminho para as meninas que sonham seguir pelo universo da ciência (foto: Divulgação/Arquivo Pessoal)
“Há vários aspectos burocráticos que envolvem essa distribuição, como aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por exemplo. É um projeto de longo prazo.”
 
Érica diz ainda que, enquanto a equipe trabalha na produção do protótipo, também serão realizadas ações em comunidades de Ouro Preto como forma de ampliar o debate sobre a pobreza menstrual e o direito à saúde íntima.




 
“Daremos cursos e palestras sobre temas relacionados ao meio ambiente, à sustentabilidade, ao empreendedorismo, à saúde da mulher, ao planejamento familiar, entre outros, com o objetivo de estimular essas mulheres a lutar pela sua comunidade e, sobretudo, pela sua dignidade.” 

Como começou

A pandemia da COVID-19 não intimidou as adolescentes a pensar em ideias que podem causar impacto positivo em sua comunidade. Vitória Amarante conta que o  ano letivo em 2021 foi todo remoto e as adolescentes fizeram tudo de forma on-line. Quando souberam da abertura do edital do programa Power4Girls, elas começaram a buscar os interesses que tinham em comum e viram que todas tinham como ideal encontrar soluções que empoderassem as mulheres. Assim, foi criada a equipe “Por Elas”.
 
“Depois de escolher o tema pobreza menstrual começamos a estudar opções de melhorias. Inicialmente, pensamos em um absorvente de pano, pois é reutilizável e traria menos danos para o meio ambiente, mas vimos que isso ia muito além, pois há toda uma questão social por trás. Muitas comunidades não possuem acesso a água potável, às vezes nem água encanada. Assim, começamos a pensar em algo acessível e chegamos no absorvente ecológico.”
 
A amiga do curso de Edificações, Cecília Giacomin, afirma que embarcou na proposta mesmo com as limitações impostas pela pandemia. Ela viu que, com o incentivo da  Embaixada e Consulados dos EUA no Brasil, elas poderiam entrar no universo da ciência.




 
“Não estavam em busca apenas de ideias, mas de inovações e pessoas que as carreguem. Sabíamos que juntas conseguiríamos pensar em algo.” 

Mulheres na ciência

De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), apenas 28% do corpo científico mundial é composto por mulheres. Por meio do programa  Power4Girls,  a professora do IFMG afirma que as adolescentes do projeto “Por Elas” estão abrindo um caminho para as meninas que sonham em conhecer e seguir pelo universo da pesquisa e da ciência.
 
“Tenho certeza de que a próxima edição do programa contará com várias inscrições de estudantes do IFMG, inspiradas pelas colegas que ousaram tentar e foram selecionadas.”